O assunto está na ordem do dia. Começou quando o americano Edward Snowden, ex-técnico da NSA, revelou documentos que comprovam operações de espionagem internacional. O caso estourou em junho último, quando se soube que as ações da NSA tiveram carta branca do presidente americano Barack Obama e envolviam monitoramento de chefes de Estado da França, Espanha e Índia. A revelação caiu como bomba na Casa Branca, e o cerco fechou para Snowden, que teve de fugir de Hong Kong para a Rússia. Não foi fácil para ele. Antes de conseguir que seu pedido de asilo temporário, pelo prazo de um ano, fosse acatado pelo presidente russo Vladimir Putin, ele foi obrigado a amargar 38 dias na zona de embarque do aeroporto Sheremetyevo, na capital russa, protagonizando um drama diplomático complexo. O “acolhimento” enfureceu Obama, que prontamente cancelou viagem à Rússia. Seja como for, o circo já estava armado por Snowden e passou a envolver também o jornalista Glenn Greenwald – desde 2000 ele vive no Rio de Janeiro, onde até recentemente atuou como correspondente do jornal britânico The Guardian –, que recebeu do ex-técnico da NSA mais documentos que comprovaram a arapongagem da agência americana sobre a presidenta Dilma Rousseff e a Petrobras. Em seguida, outro recado de Snowden: a chanceler alemã Angela Merkel também tinha sido alvo da NSA. Houve reação: a presidenta do Brasil cancelou viagem que faria aos EUA. A chanceler alemã também foi enfática: “Espionagem entre amigos (países aliados) é algo que não se faz!”. No início deste mês de novembro, as duas chefes de Estado foram à Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Nova York, para dar entrada a uma proposta de controle das ações mundiais de espionagem, intitulada Direito à Privacidade na Era Digital. A proposta será submetida à votação dos 193 países membros da ONU e precisa de maioria simples para ser validada – processo que deverá ser concluído só em 2014. Mais adiante, novas denúncias: a NSA teria espionado a Venezuela, a Colômbia e as Farc. O debate vai ser acirrado até porque já se sabe: todo mundo espiona todo mundo.
A seguir, Brasileiros traz uma série de reportagens em torno do tema. Dos Estados Unidos, o correspondente Osmar Freitas Jr. conta como funciona a NSA, enquanto Shobhan Saxena, correspondente na América do Sul do jornal indiano The Hindu, explica os motivos que levam o governo indiano a manter o silêncio em torno da vigilância, mesmo sendo alvo certo. O ex-espião britânico John le Carré, também dá o seu recado: “É melhor ter um só informante inteligente do que uma multidão de técnicos incompetentes”. Em entrevista, o diplomata Paulo Roberto de Almeida, que atuou na embaixada do Brasil em Washington e se tornou especialista em arquivos americanos relacionados ao Brasil, afirma que a máquina dos arapongas também serve a propósitos econômicos. Em Brasília, a notícia é que o governo começa a se mexer para se proteger da guerra cibernética, mas o aviso é que ainda falta muito para chegar lá. Já para o escritor português José-Manuel Diogo, autor do livro As Grandes Agências Secretas – os Segredos, os Êxitos e os Fracassos dos Serviços Secretos que Marcaram a História, o debate mundial em torno da xeretagem geral será ainda mais quente.
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