No intervalo entre o almoço e o treino da tarde no CT do São Paulo na Barra Funda, na terça-feira, Muricy Ramalho conversou por uma hora e meia com a equipe da revista Brasileiros, onde também trabalho.
Contou histórias da sua vida, do tempo de moleque em que passava o dia jogando bola nas ruas de Pinheiros e da Vila Sonia, até se tornar um técnico vitorioso.
Não era um bom dia para falar com Muricy, um técnico que, como sabemos, não admite perder.
Mas, ao contrário do que o leitor pode imaginar, pois o São Paulo perdeu para o Santo André no domingo, quebrando uma série invicta que durou 167 dias, foi um papo bem divertido em que demos muitas risadas.
Os jogadores já estavam entrando no gramado para o único treino antes do jogo contra o Bragantino, hoje à noite, no Morumbi, quando Muricy falou do time para este ano, reforçado por meia dúzia de bons jogadores, que ainda não se acertaram em campo.
“Eu sou melhor na derrota!”, proclamou o treinador, que ganhou títulos em quase todos os times por onde passou, sempre depois de enfrentar momentos difíceis em que sua cabeça esteve a premio – como na campanha do tri/hexacampeonato brasileiro do São Paulo no ano passado.
Mais habituado a lidar com carência de bons jogadores do que com craques em excesso, este ano Muricy já avisou que vai fazer um revezamento entre eles a cada jogo neste início de Campeonato Paulista, até encontrar o time ideal para a disputa da Taça Libertadores.
Na solidão da sua sala no CT ou no escritório do apartamento onde mora, no Morumbi, perto do estádio, o técnico está montando seu quebra-cabeças para encontrar a formação ideal.
“Já pus mais de dez times no papel estes dias”, revela, sorrindo com suas dificuldades de início de temporada. Os críticos e torcedores de outros times poderão dizer que quem tem dez times na cabeça não tem nenhum
Mas quem conhece o histórico deste paulistano obstinado, filho de um feirante do Mercado de Pinheiros, sabe que no final ele vai encontrar seu time ideal – geralmente, um time vencedor, como aconteceu no Náutico, no Internacional, no São Caetano e até na China, onde foi campeão com o Shenhua, de Xangai.
A íntegra da entrevista, da qual participaram meus colegas Hélio Campos Mello, Fernando Figueiredo Mello e a fotógrafa Luiza Sigulem, será publicada na edição de fevereiro da Brasileiros, que irá para as bancas na próxima semana, e aqui, no site da revista.
É a história de um profissional atípico no nosso futebol.
Muricy não faz média com a imprensa nem com dirigentes, trata todos os jogadores da mesma forma, sem muitas intimidades, mas sempre com lealdade – um brasileiro para quem não tem tempo ruim e o trabalho (nunca menos de nove horas por dia) vem sempre antes do sucesso, ao contrário do que acontece nos dicionários e na vida de muitas estrelas do futebol.
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