Depois de nove meses fechado para obras, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo volta à ativa, no mesmo endereço da avenida Europa para o qual se mudou em 1975. Mas a reforma, assinada pelos arquitetos Álvaro Razuk e Camila Fabrini, vai além da mudança estrutural. Se depender da vontade de seus atuais gestores, o local – reinaugurado no dia 9 de agosto – será um espaço cultural diferente. “Vamos testar o museu do futuro”, propõe Daniela Bousso, diretora-geral do MIS. Para ela, isso significa mudar a forma como o público se relaciona com a instituição, transformando o usuário em agente da produção.
Dessa forma, o museu, que já em sua origem tinha ido além das obras nas paredes e das linhas amarelas no chão, quer agora tornar as próprias divisórias de concreto coisa do passado. “Pensamos em interatividade de fato, produzindo mostras on-line, tendo o site como Ouvidoria”, afirma Daniela.
Inovação sob a ditadura
Concebido em 1967 para ser um centro de conservação e registro de um patrimônio sem abrigo entre os museus tradicionais – aquele produzido sobre suportes novos ou não considerados no universo das belas artes, como a TV, o rádio, a produção fonográfica, a videoarte -, o MIS foi inaugurado oficialmente em 1970, uma época que dispensa apresentações no que se refere à repressão e ao conservadorismo. Essa aparente contradição pode ser explicada pela secular proximidade, tão tipicamente brasileira, entre a produção cultural mais refinada e o Estado. Um olhar sobre a primeira comissão organizadora do que viria a ser o museu mostra gente como o escritor e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes e o professor e cineasta Rudá de Andrade, ao lado do chefe dos fotógrafos do Palácio do Governo, Avelino Ginjo, e do jornalista Maurício Loureiro Gama, editor da revista Problemas Brasileiros e homem de bom trânsito entre os militares.
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Um novo pólo
Talvez pela atmosfera daqueles tempos, o MIS demorou cinco anos e esteve em cinco diferentes sedes, até ser instalado no prédio da avenida Europa, em fevereiro de 1975. O que era um casarão, pertencente à família Giaffone (nome tradicional no automobilismo brasileiro) e desapropriado pelo governo estadual, sofreu uma reforma pesada que deu ao museu as formas exibidas até 2007. Arquitetura à parte, com a nova sede, o MIS foi se tornando um pólo importante da vida cultural paulistana. O que era registro passava a ser arte. As primeiras mostras de videoarte, os principais festivais de Super-8, as mostras de cinema e as exposições de fotografia fizeram da estranha casa da avenida Europa um ponto obrigatório para a cultura paulistana na década de 1980.
Por que parou?
Para quem se acostumou àquele espaço, os anos de 1990 foram tempos de estranheza. A começar pelo restaurante, que tomou boa parte do andar térreo e, com entrada independente, passou a receber executivos, publicitários, dondocas e um ou outro artista para almoços. É óbvio que os pãezinhos e os paillards não foram os vilões da história, mas ilustram bem as dificuldades que o MIS passou a enfrentar a partir da metade daquela década. A debilidade das instituições, que veio como ressaca da ditadura militar, a transformação dos museus em casas de espetáculo ou entretenimento e a ausência de uma participação mais efetiva da iniciativa privada podem ser apontadas como as principais causas do declínio do MIS. Além disso, conceitualmente, o museu não acompanhou o ritmo da evolução dos meios que pretendia ter como foco. O novo MIS nasce assumindo a responsabilidade de cobrir essa lacuna.
Volta ao futuro
“Serão quatro eixos básicos de atuação: acervo, website, LabMIS e programação, que, interligados, configuram o novo perfil institucional do museu”, explica a diretora técnica Priscila Arantes. Um desses eixos caracteriza bem o significado dessa mudança: o LabMIS é um centro voltado à experimentação, produção e fomento em artes, ciência e tecnologia. Ele ocupa todo o segundo pavimento do edifício e contará com estúdios para captação e edição de imagem e som, uma sala para workshops e oficinas para construção de interfaces e interação com as máquinas.
O rico acervo do museu, com mais de 400 mil itens, passa por um processo de levantamento e catalogação, e está sendo todo digitalizado. As cerca de 300 peças já finalizadas serão exibidas dentro do projeto Acervo Vivo. A idéia central desse projeto é reunir cineastas, críticos e especialistas em cinema para a elaboração de curadorias diferenciadas, a partir do que o acervo oferece. Também voltam à programação do MIS os seus históricos festivais, como o Festival do Minuto e a Mostra do Audiovisual Paulista. O Festival de Curtas, que marcou os melhores anos de funcionamento do museu, volta à cena entre 23 e 29 de agosto, sob a coordenação de Zita Carvalhosa. O MIS reabre suas portas renovado, mas sem esquecer o que fez dele uma referência cultural no País.
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