Música de todo canto

Fernando Melo e Luiz Bueno. Foto: Gal Oppido
Fernando Melo e Luiz Bueno. Foto: Gal Oppido

O nome do disco – Pulsando MPB – e a imagem da capa – uma ilustração de uma dupla sentada tocando violão – podem enganar. Não, o novo disco do Duofel não é um típico álbum de Música Popular Brasileira, daqueles que, com sonoridade acústica, emanam influências tradicionais de samba, bossa nova ou choro. Não que esses estilos estejam ausentes nas faixas que compõem o novo trabalho da dupla, mas, quando surgem, vêm sempre misturadas aos mais variados timbres, sonoridades e ritmos, nacionais e internacionais. Esse é o jogo da bem-sucedida dupla de violonistas Luiz Bueno (62) e Fernando Melo (57) que completa 35 anos de carreira. “Nossa história é buscar um violão que pulse e com elementos sonoros que não estão no universo do violão, às vezes próximos do mundo do rock e do pop”, explica Bueno. “Nossos instrumentos são plugados, usamos reverbs e delays (efeitos de reverberação); nós não somos típicos violonistas brasileiros”, acrescenta.

O “MPB” no nome do disco, portanto, vem muito mais de uma escolha de repertório do que de uma definição de estilo musical. E aí Bueno e Melo foram certeiros ao reunir clássicos de nossa música: um medley de Construção, Cotidiano e Deus lhe Pague, todas de Chico Buarque de Hollanda, abre o disco, seguido por Casa Forte (Edu Lobo) e Água de Beber (Tom Jobim/Vinicius de Moraes). Nas faixas seguintes, destacam-se belas versões de Romaria (Renato Teixeira), Dindi (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira), Procissão (Gilberto Gil/ Edy Star) e O Vento (Dorival Caymmi), nas quais a dupla se reveza entre violões de 6 e 12 cordas, arcos de rabeca e instrumentos menos usuais, como o percussivo spring drum.

O repertório não foi selecionado todo de uma vez. São músicas que surgiram ao longo de uma trajetória de anos de gravações, centenas de shows e ensaios quase diários, e que acabaram refletindo parte da memória musical da dupla, como explica Bueno. “Depois de 12 álbuns, resolvemos por fim fazer uma releitura da MPB. E, claro, é difícil pegar músicas que já estão no inconsciente coletivo, interpretadas por grandes cantores. Mas, aí, é um desafio bastante interessante para nós: romper essa barreira do ‘cuidado’ para mexer na música e fazer como uma criança, que executa a sua leitura sem preconceitos para ver como fica.”

Inglaterra

Ao mesmo tempo que lança Pulsando MPB (FINE MUSIC), a dupla segue em turnê pelo País com o show do último álbum, apenas com releituras dos Beatles. A experiência com o trabalho dos ingleses foi tão intensa que, após lançar o disco Duofel Plays The Beatles, em 2009, Bueno e Melo gravaram em 2011 um DVD na tradicional The Cavern Club, casa de shows onde a banda de Liverpool se apresentava no início dos anos 1960. A ponte Inglaterra-Brasil, segundo Bueno, não atrapalhou a dupla. “Acho que, hoje, a gente se sente bastante à vontade em criar um determinado conflito entre repertórios, inclusive para mostrar isso: que a graça de viver é a arte de ser livre, expressar o que você sente sem fronteiras. O artista tem de dar a cara a bater, não adianta querer ter uma fórmula de sucesso. Principalmente com música instrumental, que a gente não faz sucesso mesmo”, diz o músico, rindo.


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