Caros leitores,
minha breve ausência aqui no Balaio foi em razão de uma viagem ao Rio para fazer duas palestras. Como esqueci de avisar a vocês, alguns leitores se preocuparam com a minha saúde, pensando que eu tive uma recaída, mas está tudo bem.
Ricardo Kotscho
A esta altura do campeonato não é mais segredo para ninguém: o que está em jogo na guerra do Senado, que a cada dia mais se afunda numa crise sem fim, não é o destino político do imortal José Sarney, mas a sucessão presidencial.
Vinte anos depois de deixar a presidência da República, ao assumir pela terceira vez a presidência do Senado, Sarney tornou-se uma peça-chave no jogo de xadrez que está sendo montado agora para definir as alianças para 2010.
Como sempre, o PMDB, que está dividido e não tem candidato, pode ser o fiel da balança na sucessão de Lula, que pela primeira vez não será candidato desde a redemocratização do país.
Governo e oposição disputam o apoio do partido que conta com o maior tempo de televisão, maioria na Câmara e no Senado, de governos estaduais e prefeituras no país.
Tem o PMDB lulista de Sarney e tem o PMDB serrista de Quércia e Jarbas Vasconcelos, mas ninguém é capaz de dizer hoje de que lado ficará a maioria do partido. Tudo vai depender das pesquisas no início de 2010. O PMDB velho de guerra, como todos sabemos, só não quer ficar fora do poder.
É só por isso que o presidente Lula, mesmo sabendo do desgaste que isto pode causar à sua imagem e à do PT, joga tudas as suas fichas para segurar Sarney na presidência do Senado e a oposição se une para tirá-lo de lá.
Como pano de fundo, paira a instalação da CPI da Petrobras, o último trunfo encontrado pela oposição para desgastar o governo Lula e a sua candidata, a ministra Dilma Roussef, depois de perder as esperanças nos efeitos da crise econômica mundial para abalar a popularidade do presidente Lula.
Ou alguém em sã consciência imagina que a aliança demo-tucana está mesmo preocupada com a moralização do Senado e a gestão da Petrobras?
Desde a posse de Sarney, em fevereiro, o Senado está paralisado com a avalanche de denúncias produzida pela tabelinha entre a oposição e setores da imprensa, com o noticiário alimentando as discussões em plenário e vice-versa, jogando lenha na fogueira de uma crise que ninguém sabe quando e como vai acabar, se é que termina antes da campanha eleitoral.
A 15 meses das eleições gerais, dá a impressão de que nosso destino político está sendo decidido agora numa disputa de vale tudo nos subterrâneos do Senado pelo espólio do PMDB.
É tudo muito triste e muito pobre, convenhamos, para um país que tanto lutou pela democracia e pela volta das eleições diretas para presidente da República.
O pior é que não há no horizonte o menor sinal de que algo possa mudar em 2010, qualquer que seja o vencedor das eleições. Como aconteceu nos oito anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso e, depois, com Lula, ninguém governa o país sem o PMDB – e ninguém consegue governar em paz com ele.
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