Os que ainda propagam a honestidade da Operação Lava Jato – que há meses investiga a relação fraudulenta de políticos e empreiteiras na Petrobras – insistem em contar “uma piada de mau gosto”. A opinião é de Jessé de Souza, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e autor do livro A Tolice da Inteligência Brasileira – Ou Como o País se Deixa Manipular pela Elite (Ed. Leya), entre outros. A equação é simples: a elite financeira comprou o apoio de outras elites, a começar pela mídia, mas o braço do golpe ligado ao Judiciário perdeu o controle, mostrando as intenções por trás da operação: “A Lava Jato não tem nada a ver com combate à corrupção”.
Souza lista episódios controversos ligados à Lava Jato, como a condução coercitiva do ex-presidente Lula, seu pedido de prisão e o vazamento dos grampos. “A única coisa a comemorar é que a direita no Brasil é autoritária e burra.” Ele explica que o golpe é financiado. “A elite do dinheiro compra outras elites, mas o dinheiro não precisa entrar direto no golpe, por isso se vale do Congresso e da mídia. Quem está na rua não é o povo. É a classe média abastada que mostra a cara. É a extrema-direita da classe média, cujo discurso é moralista, racista e de ódio aos pobres.”
Mas um braço midiático e outro político não bastariam, diz ele, “para dar a aparência de legitimidade”. É quando aparecem Sergio Moro e os promotores de São Paulo – responsáveis por pedir a prisão de Lula. “Esses agentes do Estado estavam trabalhando de forma orquestrada, mas começaram os conflitos internos. Afinal, quem vai tomar o Poder Moderador?”, questiona ele, em alusão às pretensões de parte do Judiciário de ocupar o papel reservado ao imperador no Brasil Império.
A perda da legitimidade por parte da Lava Jato poderia estar por trás da lista com mais de 300 parlamentares envolvidos em corrupção. A intenção seria acabar com a impressão de que a operação está partidarizada. Para Souza, é tarde demais. “Se tentarem incluir todos os políticos agora, é provável que se monte um acordão.” Ele se refere a “um acordo entre as forças políticas para evitar interferência jurídica nos poderes”. Poderia sobrar para Moro.
Mas, se mesmo assim o golpe vingar, a oposição terá de se ver com as ruas, acredita. “Não existem condições sociais para o golpe”, diz ele, ao se lembrar da massa progressista que cresceu no Brasil. As consequências podem ser trágicas: “É provável que haja conflito com o acirramento das tensões.” Quem mais perde, de novo, são os mais pobres. “É um golpe econômico. E qual é o plano econômico da direita brasileira? Concentrar todos os recursos, com as maiores taxas de lucro e juros do mundo. É um assalto à economia popular”, conclui.
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