Nadando de braçada

Coluna_Luiz_Chagas
O vento não está para pipa. Mesmo em meio à tempestade, com shows caindo das agendas, cachês reduzidos, recolhimento de incentivos, casas noturnas que fecham, retração do mercado, a turma que faz música não dá moleza. Quem não tem cão caça com gato e o gato tem sete vidas: crowdfunding, herança, rifa de instrumento, venda de garagem e por aí vai. Estúdios de gravação, mixagem e masterização têm filas e planos de financiamento. O inbox do meu Facebook vive cheio de sugestões e há noites em São Paulo em que é preciso decidir-se entre três ou quatro audições de disco, shows de lançamento, seja com a presença de centenas, seja de dezenas ou apenas com a família dos artistas. Daí a coluna sair em dobro, a partir deste mês. A maré não está pra peixe. No entanto, é preciso nadar.

Foto: Divulgação
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Oficineiro Antes de aportar em Sampa, o recifense Adriano Salhab punkeou com a banda Textículos de Mary. Dos sertões do Teatro Oficina, ao qual se ligou em 2003, tirou o disco O Sol Rodando Vermelho (2009).  Ator, compositor e diretor de trilhas, voltou agora ao formato power-trio, no baixo, ao lado de Fernando Rischbieter, guitarra, e Julio Epifany, bateria, com ecos de Itamar, Tom Zé, Zé Celso, Arnaldo Antunes e muito Textículos.
Adriano Salhab – Amor Grave (independente)

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Peso Depois de três CDs e um DVD em que se destacou como intérprete, Ana Cañas produziu um disco de som “nervoso” ao lado de Lúcio Maia (Nação Zumbi) e se assumiu compositora, tendo como parceiros Dadi, Pedro Luís, Lúcio e Arnaldo Antunes. Marco da Costa (Isca de Polícia), Betão Aguiar e Fabinho Sá garantem o peso do som esquentado pelo produtor Mario Caldato Jr. (mixagem) e Fernando Sanches (masterização). Um dirigível de chumbo.
Ana Cañas – Tô na Vida (Slap)

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Starwars Baterista das bandas Do Amor e Cê (de Caetano Veloso), Marcelo Callado carregava um monte de músicas nos bags que precisavam ser desovadas. Assim, chamou Bubu, Benjão, Pedro Sá e Ricardo Dias Gomes, das bandas citadas, e Thomas Harres para a bateria, além de vários outros amigos, e saiu cantando e tocando guitarra e violão. O disco, que conta com parcerias com Benjão e Nina Becker, entre outras, é puro rock, mesmo nas horas mais tristes, mesmo sem ser rock. O primeiro volume só existe em fita K7. 
Marcelo Callado – Meu Trabalho Han Solo Vol. II (independente)

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Go Peri Go!  Marcos D’Ávila, a.k.a. Peri Pane, está de volta ao lado do poeta arrudA entoando suas canções personalíssimas, acompanhado por Otávio Ortega, piano e acordeon, e Marcelo Dworecki, nas cordas – também produtor do disco com Cris Scabello (Bixiga 70). Peri canta, toca violão e cello, Márcia Castro canta uma música, Meno Del Picchia toca baixo acústico em outra e Alzira E cedeu uma composição. Mixado por Victor Rice e masterizado por Fernando Sanches, o disco está uma uva.
Peri Pane – Canções Velhas para Embrulhar Peixes Volume 2 (Traquitana)

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Em dia
A mil, Fafá de Belém chamou os guitarristas Manoel Cordeiro e seu filho Felipe para produzir um disco de terruá, mistura de guitarrada, eletro e brega, que consagrou o Pará. O trio já abre com Asfalto Amarelo, uma parceria com Zeca Baleiro que dá o tom do disco, mas há espaço para clássicos do exagero como Usei Você (Silvio Cesar), novidades como Volta, do pernambucano Johnny Hooker, e Gosto da Vida, presente de Péricles Cavalcanti, de 1982.
Fafá de Belém – Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso (Jóia Moderna)

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@Caos Homem dos mil projetos (Metá-Metá, Sambanzo, Malagueta,  Perus e Bacanaço, Marginals, Sambanzo), Thiago França, saxes, ao lado de Serginho Machado, bateria, Anderson Quevedo, sax,  Amilcar Rodrigues, trompete, Marcelo Cabral, baixo, e Allan Abbadia, trombone, e participação especial de Juliana Perdigão, clarone, persegue com resultado positivo o som do espaço de Sun Ra e Coltrane.
Thiago França: Space Charanga – R.A.N. (independente)

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Voando Deixando de lado o samba e o forró, com os quais não brigou, Mariana Aydar mergulha confiante na obra dos artistas plásticos/sambistas-castiços Eduardo Climachauska (o Clima) e Nuno Ramos. O companheiro Duani fez uma produção minimalista na qual há espaço para a voz de Mariana e a emoção dos arranjos, com destaque para a guitarra de Gui Held e a percussão de Maurício Badé. O resultado é primoroso. Vide a sequência Samba Triste (Clima) e Saiba Ficar Quieto (Nuno). Acho que até o Manga gostou.
Mariana Aydar – Pedaço duma Asa (Pommelo)

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Fino De família de músicos, o contrabaixista Alberto Continentino tocou com nomes que vão de Edu, Milton, Donato e Valle a Calcanhotto, Vanessa, Eller e Brown. Em seu primeiro disco, dividido com Vivian Miller e coproduzido com Kassin, se vale da técnica para alcançar suavidade. Moreno, Donatinho, Guilherme Monteiro, o tio Leo Gandelman e o baterista Stéphane San Juan, que batizou seu disco solo com a canção Sistema de Som (Continentino – Domenico), incluída aqui, garantem a qualidade.
Alberto Continentino – Ao Som dos Planetas (Tratore)

*Além de pai de Tulipa e do multitalentoso Gustavo Ruiz, Luiz almoçou com Chrissie Hynde, jantou com Bo Diddley, tomou Coca-Cola com Caetano e integra o time de colunistas da Brasileiros. A seção Discos está aniversariando. São três anos, centenas de críticas – algumas das quais já lhe renderam inimizades irreversíveis –  mas a ideia sempre foi informar. Nepotismos à parte.


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