Junho
Durante a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, um fato inusitado virou um fenômeno da internet. Na abertura do mundial, no dia 10 de junho, twitteiros do Brasil colocaram a expressão “Cala Boca Galvão” em primeiro lugar dos tópicos mais comentados no mundo todo. O desafio de manter a frase em primeiro lugar durante todo o torneio não aconteceu, mas a expressão tomou conta do mundo virtual e teve repercussão até no jornal The New York Times. Mais um fenômeno da rede mundial de computadores.
Após criar alguns dos clichês mais irritantes do futebol, ele próprio, Galvão Bueno, se tornou um imenso clichê mundial, porém, por uma boa causa. Pelo menos é o que o resto do mundo achava!
Quem é assíduo no Twitter sabe exatamente do que estou falando. Para aqueles que não entenderam, trata-se do dia em que o Brasil, com seu jeitinho malandro e bem-humorado, enganou o mundo virtual no que já é considerada a maior pegadinha da história da internet.
Tudo começou na festa de abertura, na quinta-feira (10), véspera do jogo entre África do Sul e México. Assim que Galvão começou a transmissão dos show de Black Eyed Peas, Shakira, artistas sul-africanos e outras atrações, twitteiros brasileiros começaram a espalhar tweets pedindo para que o emblemático narrador calasse a boca, pelo bem do futebol e, claro, pelo bem dos próprios ouvidos.
Não demorou para que o tema virasse o principal trending topic mundial do microblog, o assunto mais comentado. Todos na rede social se desafiaram, perguntando se seria possível mantê-lo como o mais comentado durante toda a Copa do Mundo. Será?
No primeiro jogo do mundial, após os primeiros “haja coração” e “eles estão começando a gostar do jogo”, lá estava o “Cala Boca Galvão” na liderança dos assuntos mais falados no Twitter. Passou o primeiro dia de Copa, o segundo e o “Cala Boca Galvão” continuava lá, firme e forte na liderança dos trending topics.
Os “gringos”, curiosos com a grande repercussão, quiseram saber o que era esse tal de “Cala Boca Galvão”. Não se sabe onde, com quem e quando exatamente tudo aconteceu, mas o fato é que as brincadeiras começaram e ajudaram ainda mais na popularização mundial do termo, hoje mais famoso do que as incansáveis pérolas da vítima da peça.
Em inglês, alguns brasileiros divulgaram que “Cala Boca Galvão” se tratava de uma nova música da cantora Lady Gaga, ainda em estúdio para a gravação. A piada evoluiu e agora Lady Gaga estaria fazendo a música para angariar fundos para a campanha Salve os Pássaros Galvão. Isso mesmo, alguma cabeça extremamente criativa resolveu inventar que cala boca significava save (salvar, em inglês), e Galvão era um pássaro raríssimo no Brasil, que há anos luta contra a extinção.
Um vídeo comovente em inglês foi adicionado no canal YouTube. Extremamente bem-feito, com locução em inglês impecável e sotaque britânico, nele era explicado que milhares de “Galvãos” são mortos por ano no Brasil, principalmente no Carnaval, época em que a plumagem dos fictícios pássaros serve para criar fantasias e alegorias para a festa. Na farsa, até Chico Xavier foi incluído como um dos criadores da instituição de proteção aos “Galvãos”. No final, é dito que cada postagem com o “Cala Boca Galvão” no Twitter forneceria 0,10 centavos para a instituição de proteção ao pássaro. O vídeo já foi visto por quase 800 mil pessoas.
Não demorou muito para que o mundo inteiro se mobilizasse em torno da nobre causa e hoje, oito dias após o início da febre, o “Cala Boca Galvão” continua mais comentado do que nunca, apesar de já terem descoberto a farsa brasileira. Nesta sexta-feira (18), o tópico lidera o ranking dos assuntos mais comentados no Brasil.
O New York Times escreveu em suas páginas que, aparentemente, tem alguma coisa mais irritante que as vuvuzelas no Brasil, se referindo ao “querido” Galvão Bueno. O El País também encarou a broma, como dizem eles, com bom humor. No texto do jornal espanhol também é falado sobre o contra-ataque da Globo, que levou ao ar um programa chamado Fala Galvão, no qual são ditos todos os clássicos jargões do narrador. O próprio Galvão Bueno gostou da brincadeira e disse estar sério na campanha. Outra chance de ficar quieto desperdiçada.
Apesar da graça da brincadeira, esse é mais um sinal da força brasileira. O País já é o segundo maior em números de usuários no microblog Twitter. Quanto a campanha para calar Galvão Bueno, se em vez de fazer um vídeo fictício com o pássaro galvão, mostrassem alguns comentários traduzidos para estrangeiros, é possível que a campanha ganhasse um apoio mundial ainda maior.
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