“Que fim levou o vampiro louco de Curitiba, esgueirava-se
de mão no bolso à sombra da meia-noite, não era o velho Jacó assobiando com medo do escuro?”
Dalton Trevisan em O Pássaro de Cinco Asas
Se Curitiba é mesmo fria, no clima e no trato, ninguém melhor para explicar a cidade que um sujeito que faz questão de se manter longe de tudo e de todos, mas que guarda um olhar bastante particular – e certeiro – sobre o que é ser curitibano. Dalton Trevisan não gosta de ser fotografado, mas as fotos que Nego Miranda apresenta no livro A Eterna Solidão do Vampiro dizem mais a respeito do escritor e de sua cidade-personagem que um retrato posado do mestre do conto em algum ponto turístico da capital do Paraná, caso isso fosse possível.
Nego Miranda, um dos principais fotógrafos do Paraná, mora a duas quadras do esconderijo do “Vampiro de Curitiba”, mas nunca quis ficar de tocaia, como diversos de seus colegas fazem, à espera de um mísero flash do recluso. Não, o fotógrafo seguiu o rastro do escritor por caminhos pouco óbvios, dando forma à paisagem que encapa a obra de Trevisan. Miranda ousou captar a alma do Vampiro em fotos que reforçam o traço mais conhecido do autor: a solidão. Daí o nome do trabalho. Os retratos, entrecortados por frases do contista, refazem um provável inventário sentimental de Dalton em imagens sinuosas e turvas que focalizam uma Curitiba longe o bastante do marketing turístico.
“Era um desejo antigo tentar refazer a geografia do Vampiro na cidade. Fotografar os locais recorrentes em sua obra e o espaço onde circulam seus personagens”, diz Miranda, que durante quatro anos lançou olhar à Curitiba literária de Dalton.
Do Passeio Público ao centro antigo, passando pelas ruas de pedra do bairro São Francisco e pelos “cemitérios de elefantes” da nova urbe, o itinerário proposto pelo fotógrafo se multiplica por várias Curitibas, exatamente como faz o grande contista em sua vasta obra.
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