De 23 a 25 deste mês, o Marco Zero, no centro de Recife, repetirá, pela 28a vez, um ritual que se tornou tradição na capital pernambucana. Idealizado pelo escritor Ronaldo Correia de Brito, em 1983, o espetáculo de rua Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal, que reúne teatro, dança e música, com direito a orquestra e coro, é sucesso popular. Naturalmente, não é páreo para o Carnaval de rua de Recife, um dos mais tradicionais do País, que concentra milhões de foliões, mas é unanimidade natalina. Em sua última edição, chegou a agregar um público estimado em mais de 60 mil pessoas. Crianças e adultos encantados com os percalços e as aventuras de dois garotos chamados Mateus, que conduzem uma turma de crianças ao encontro do menino Jesus, em uma trama carregada de simbologia e mensagens de esperança, escrita por Ronaldo – cultuado por títulos como Faca e Galiléia -, que também é médico e atua na saúde pública de Pernambuco.
A ideia, aparentemente despretensiosa, tomou proporções inimagináveis, extrapolou o Marco Zero e partiu em importante itinerância pela cidade. “O que era para ser apenas uma brincadeira de Natal para os nossos filhos e amigos se transformou em um dos espetáculos mais encenados no Brasil. Em escolas públicas, no meio da rua, nas praças, em assentamentos de sem-terra, comunidades indígenas, abrigos de idosos, na cidade ou na periferia. Em qualquer lugar e para qualquer público onde levamos o espetáculo, o encantamento é o mesmo”, comemora Ronaldo.
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Montado pela primeira vez em 1983 no Teatro Valdemar de Oliveira, Baile do Menino Deus teve como embrião o álbum de mesmo nome, lançado meses antes pela gravadora Eldorado (ainda hoje em catálogo pelo selo Trama), como uma oposição e alternativa às trilhas de Natal “enlatadas” e aos rituais estrangeiros adotados aqui. “Queríamos fazer um disco natalino com alma brasileira. Tanto para a classe média conhecer os valores da sua cultura, quanto para o povo reconhecê-los em uma outra forma.” A obra foi composta por Ronaldo e Assis Lima, parceiro do escritor em Lua Cambará – outra célebre experiência dramatúrgica de acentos populares -, e o maestro Antônio Madureira, o Zoca, um dos fundadores do histórico Quarteto Armorial. O que poderia sugerir um ingênuo foco de resistência cultural entre amigos, ganhou novos formatos, relevância, volume e resposta popular. A edição 2011 reunirá mais de 150 profissionais e, como sempre, terá como principal mensagem a crença constante na capacidade de renovação: “Queremos fazer um baile que emende a noite no dia, pois quando nasce um menino renasce toda alegria”, diz Mateus, em um momento do espetáculo. E o menino a quem eles desejam louvar nesse baile é o menino Jesus, símbolo de todas as crianças, pobres ou ricas, de qualquer raça ou cor”, enfatiza Ronaldo.
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