Índia, da miséria à potência

Pensando bem, que curiosa conjunção de países forma o grupo há pouco criado pela mídia e pelos mercados chamado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) como as grandes promessas entre os países emergentes! Em comum, têm o fato de serem grandes economias e com potencial ainda maior de crescimento, de estarem a caminho de uma melhora em sua posição no mundo, de serem países com fortes contrastes e desigualdades internas e terem sua imagem internacional vinculada a uma boa dose de mistério e graça. Mas também quantas diferenças e idiossincrasias afastam esses países uns dos outros!

Pelo menos as raízes culturais e o inconsciente coletivo nos posicionam a milhões de quilômetros desses nossos supostos companheiros situados bem mais a leste do planeta. As diferenças de história, trajetória política, filosofia e religião estariam sendo aos poucos amalgamadas pela dominância das leis e das regras dos mercados capitalistas?
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Por mais que já tenhamos ouvido falar dos avanços da indústria química e da tecnologia da informação, dos brilhantes cientistas indianos, por mais que cheguem filmes aos festivais internacionais mostrando a vida das classes médias urbanas, ainda recebemos muito pouca informação sobre a Índia. O livro de Patrícia Campos Mello, 34 anos, correspondente em Washington do jornal O Estado de S. Paulo, chega em hora e formato dos mais apropriados.

Ela é filha do diretor de redação de Brasileiros, Hélio Campos Mello, e em seu livro oferece um olhar atento, cuidadoso e, melhor para nós, acostumado à nossa realidade, nos iniciando nos mistérios daquele fascinante país. Desde a transição do regime colonial britânico, no apagar da década de 1940, muito mudou e muito ficou igual. As referências e os valores culturais mantiveram-se, enquanto muito das estruturas econômicas foi sofrendo profundas transformações.

Um conjunto de reformas teve início nos anos 1990, como resposta a uma severa crise no balanço de pagamentos. As medidas liberalizantes varreram monopólios estatais e reduziram substancialmente a participação pública na economia, de cerca de 70% anteriormente, retirando restrições e regras sobre o funcionamento dos mercados. Desde então, independentemente do partido no poder, as diretrizes liberalizantes foram mantidas.

Os primeiros anos pós-reformas foram de crescimento excepcional, que vem sendo mantido. Enquanto qualidade e quantidade da produção para o mercado cresciam, mantiveram- se instituições de apoio a setores menos favorecidos, como no setor bancário e em atividades de microcrédito, ainda com forte presença e regulamentação estatal. Políticas compensatórias e distributivas são importantes, pois se sabe que nem tudo pode se resolver nos mercados. A linguagem fluida e a variedade de temas abordados nos permitem entender o processo indiano.

Ao mesmo tempo em que empresas de informática têm ações cotadas na bolsa tecnológica Nasdaq, uma onda de suicídios entre camponeses trouxe à luz o descompasso entre a prosperidade industrial e as condições da agricultura, que ainda abriga 60% da população ativa e se realiza com baixíssima produtividade, segundo o que aprendemos no capítulo “Rezando pelas monções, a epidemia de suicídios no campo”. Casamentos arranjados, herança colonial, opções profissionais, diversidade religiosa, indumentária, arquitetura dos banheiros, a forma de pedir a conta no restaurante… não faltarão motivos para seguir na leitura.


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