Nerds do mundo, uni-vos

Rede Social?ganhou o Globo de Ouro de melhor filme e concorre ao Oscar como favorito. Mark Zuckerberg, o inventor do Facebook, é o bilionário mais jovem da história; Chad Hurley e Steve Chen fizeram fortuna ao criar o YouTube e ao vendê-lo ao Google. Ou seja, os holofotes estão sobre os nerds – na definição atualizada, pessoa que pode revolucionar a vida de milhares de outras com uma simples ideia.A constatação parte de dois dos mais emblemáticos representantes nacionais da categoria, os cariocas radicados em Curitiba, Alexandre Ottoni, 31 anos, e Deive Pazos, 35 anos, criadores do site Jovem Nerd, fenômeno da internet com mais de 20 mil acessos diários. Recentemente, eles tiveram uma ilustre participação na Campus Party – encontro que discute os rumos da tecnologia, em São Paulo, onde ministraram palestra no palco principal, mesmo local ocupado por Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, e Steve Wozniak, um dos fundadores da Apple. O tema, que reuniu público comparável aos supracitados, era no mínimo curioso: “Orgulho Nerd”. A palestra foi aberta com uma série de slides. “Vou mostrar imagens para ver como vocês reagem. Quero ver o orgulho de vocês!”, incitava Ottoni, do palco. A plateia urrava à aparição de cada uma das fotos. Imagens de personagens de animação e filmes de ficção, idolatrados neste universo, porém desconhecidos para os reles mortais. “Ser nerd não é só gostar de cinema, quadrinhos e RPG. O que o nerd faz de melhor é aprender. Vamos, então, aplicar e compartilhar esse conhecimento que aprendemos, a nossa bagagem nerd, para mudar o mundo!”, celebravam os palestrantes.[nggallery id=15018]Líderes de audiência na internet, Pazos e Ottoni começaram com um blog, em 2002. “Era um hobby, uma descarga de frustração do trabalho”, diz Ottoni. Antes de se tornarem verdadeiras celebridades do mundo virtual, Pazos trabalhava com administração de motéis na Baixada Fluminense e Ottoni, com design gráfico em uma agência digital. “Fui parar nesse ramo de motéis porque era um negócio relacionado à minha família”, conta Pazos. “É um trabalho estressante porque é preciso lidar com muita malandragem. Para se ter uma ideia, na época em que a luz negra foi lançada e era uma coqueluche nos motéis, houve um cliente que roubou a lâmpada e colocou no lugar uma berinjela para ninguém notar”, relembra. Mas ele garante que toda essa experiência – afinal, foram 10 anos no setor – o ajudou no site. “Me deu um olhar comercial.”Hoje, Pazos “é o departamento comercial” do Jovem Nerd, e Ottoni, o “financeiro”, e ambos cuidam do conteúdo criativo. Segundo eles, o carro-chefe do site é o Nerdcast, bate-papo impecavelmente editado com efeitos especiais em que eles reúnem amigos (geralmente especialistas em algum assunto, seja cinema, ciência ou grandes questões da vida, como reunião de condomínio) para debater. “A gente não trata só de assunto dos nerds, mas de conhecimento de uma forma inteligente”, diz Pazos. O programa, dividido em blocos, tem uma hora de duração. “Quando o hobby vira trabalho, realmente perde um pouco a graça porque você cria rotina e obrigações. Mas, no nosso caso, o trabalho é conversar com os amigos, então acaba sendo uma terapia”, afirma Ottoni.Eles contam que descobriram o potencial comercial do Jovem Nerd quando lançaram o romance A Batalha do Apocalipse, em formato tradicional, de papel e tinta, escrito por um amigo, Eduardo Spohr, na loja virtual. O sucesso foi estrondoso. “Vendemos 70 cópias em quatro horas. Depois, fizemos mais 500 exemplares que se esgotaram em três meses”, afirma Pazos. “O romance realmente é muito bom, mas estávamos vendendo um livro inédito de um autor desconhecido. A única coisa que fazia as pessoas comprarem era acreditar na nossa palavra”, diz. A credibilidade, segundo ele, é o maior patrimônio do site. “A gente nunca aceita anunciante sem antes testar o produto”, revela Pazos. “Uma marca de um MP3 player desses ching ling que tem por aí quis anunciar, mas ao testarmos percebemos que era horrível, não funcionava direito. Recusamos e explicamos o porquê. Acabamos virando consultores de tecnologia da empresa”, afirma ele.Os criadores do Jovem Nerd perceberam que podiam abandonar os antigos empregos em 2008, quando assinaram um contrato fixo com o IG, portal que já abrigava o site. Hoje, o Jovem Nerd conta com um escritório próprio, com equipe de cinco pessoas em Curitiba, cidade que escolheram para morar pela qualidade e baixo custo de vida. Segundo os autores, o site é sustentado por publicidade.Atualmente, o conceito de nerd perdeu o caráter estereotipado de pessoa que exerce atividade intelectual inapropriada para sua idade, vive solitária e gosta de assuntos ignorados pela maioria, segundo definição do Wikipedia. “Nerd é qualquer pessoa que se interessa muito por alguma coisa. Por exemplo, uma pessoa ‘normal’ compra uma máquina fotográfica digital, bate fotos e pronto. Já o nerd vai querer saber tudo sobre ela. Ele quer devorar aquilo de forma quase incompreensível”, diz Pazos.Nos Estados Unidos, existe uma diferença entre nerd e geek, segundo ele. “O geek é o cara culto, que gosta de tecnologia, se veste descolado e tem um iPhone. O Steve Jobs (presidente da Apple) seria um geek e o Bill Gates (fundador da Microsoft) seria um nerd”, brinca Pazos.O orgulho nerd se tornou tão popular que tem até um dia: o 25 de maio. De acordo com explicação de Ottoni, a data surgiu em homenagem a Douglas Adams, autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias, “uma paródia inteligentíssima da humanidade”. “Também é o dia da toalha e isso tem a ver com a história do livro, com a piada do cara. Ele explica por que, mas toda a explicação não faz sentido nenhum pra gente. A gente não entende porque não está preparado para entender. A importância da toalha faz parte do humor de Adams”, diz Ottoni. No Dia do Orgulho Nerd, todo mundo sai com toalha no ombro.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Reduto de geeks? Também, mas a Campus Party existe principalmente para antecipar, tentar entender e explicar esse louco mundo virtual em que vivemospor Diogo Mesquita
Em uma galáxia muito distante, onde tudo, absolutamente tudo é possível e seres “estranhos” estão no poder, o ser humano tenta entender onde se encaixa na nova realidade cultural, política, econômica e, principalmente, social.Não, isso não é a introdução para alguma nova ficção científica de George Lucas ou a chamada para Avatar 2. Esse é o mundo em que eu e você vivemos, o mundo que está sendo transformado de maneira assustadoramente rápida, no qual o que é moderno hoje, pode ser ultrapassado amanhã e o senso do que é “legal” muda na mesma velocidade.Para ajudar a entender e participar desse novo mundo, o Brasil organizou, pelo quarto ano consecutivo, sua versão do maior evento de inovação, ciência, criatividade e entretenimento digital de todo o mundo, a Campus Party. Criada na Espanha em 1997, a feira surgiu mais com o conceito de Lan Party, na qual mais de 200 participantes se juntavam em uma rede local para jogar games on line.Mas a brincadeira cresceu e, em 2008, chegou ao Brasil, já como uma feira vanguardista, que expunha novas tendências. Além de Brasil e Espanha, a Campus Party já teve edições na Colômbia, México e, neste ano, aterrissará no Chile, Venezuela, Equador e Estados Unidos.

REDAÇÃO Marcos Coil, Fernando Figueiredo Mello e Diogo Mesquita. Como bons exploradores, a Brasileiros foi conferir o dia a dia da Campus Party. Nosso site trabalhou da lá desbravando fronteiras do real e do virtual

A edição de 2011, que aconteceu entre 17 e 23 de janeiro no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, foi a maior já realizada no País e uma das maiores do mundo. O número de pessoas acampadas no local subiu de 6 mil, no ano passado, para 6.500, e estima-se que aproximadamente 100 mil pessoas passaram pelo local durante os sete dias de evento, seja para jogar games, acompanhar as novas tendências ou ver as mais variadas palestras convergindo no mesmo tema: nosso futuro virtual.Passaram por lá figuras como Al Gore, vice-presidente dos EUA na gestão de Bill Clinton, John “Maddog” Hall, diretor executivo da Linux ou os jovens nerds Alexandre Ottoni e Deive Pazos, idolatrados em meio ao público presente na Campus Party. Mas isso não importa, pois no mundo virtual todos são iguais.Como bons exploradores, Brasileiros foi conferir o dia a dia da Campus Party. Nosso site trabalhou de lá na quinta e na sexta-feira (20/1 e 21/1), desbravando as fronteiras do real e do virtual para o melhor entendimento de nosso leitor.”O modelo da Campus Party é muito interessante porque reúne todas as forças vivas da internet, ou seja, grandes agentes do mercado e corporações, pequenas e médias empresas, ativistas sociais e políticos que atuam na rede e defensores da liberdade de expressão e conhecimento”, analisou Marcelo Branco, um dos grandes visionários virtuais do País e que esteve no comando da “festa” durante as três primeiras edições nacionais.Branco, que acompanhou de perto o projeto desde os primeiros passos, comemorou o fato de o brasileiro mudar a maneira de se relacionar com a internet, o que nos colocou entre os países com mais voz ativa na rede. “Somos naturalmente generosos com o compartilhamento de conhecimento. Essa qualidade histórica casou perfeitamente na forma de usarmos a internet”, comentou, enfatizando que nossa atual relevância no mundo virtual não se deve apenas aos mais de 70 milhões de internautas que temos, mas também pela qualidade de nossa intervenção na rede.
O futuro do jornalismo é de todos


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