Neurociência e sal grosso

Foto: Hélio Campos Mello
Foto: Hélio Campos Mello

Miguel Nicolelis é um cientista brasileiro. Formado em Medicina pela USP, é professor e pesquisador na Duke University, nos Estados Unidos, e cofundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra. Suas pesquisas foram publicadas nas principais revistas científicas, como a Science e a Nature. Ele está entre os 20 cientistas mais importantes do mundo, segundo a mesma Science, que o colocou na capa. Primeiro brasileiro em 129 anos a ocupar aquele espaço. É membro da Academia Francesa de Ciên­­cia e da Academia Brasileira de Ciência. E por aí vai.

É evidente que ele tem seus defeitos, afinal é cientista brilhante, mas é um ser humano, um cara que diz o que pensa, que tem posições políticas e ideológicas sólidas e as defende com veemência. Bem, até aí não há defeito. Mas há quem se incomode. Ok, ele é palmeirense. E sua personalidade, se lhe proporciona a energia para produzir tudo o que tem feito, também ajuda a fermentar uma boa coleção de ônus. Neste momento ele trabalha para possibilitar que um paraplégico ande com um exoesque­­­­leto acionado pelos próprios pensamentos. Nada mal. É de dar orgulho.

Mesmo assim, há quem torça para não dar certo.

Na entrevista que concedeu aos nossos repórteres Fernanda Cirenza e Marcelo Pinheiro, ele disse que não é fácil gerenciar as dificuldades de tal empreitada, mas difícil mesmo é lidar com a torcida contra. O Brasil, para certas pessoas, para certos segmentos da sociedade, não pode dar certo, segundo ele. Tudo o que é daqui não é bom. Coberto de razão, ele cita Nelson Rodrigues.

O escritor chamou essa nossa baixa autoestima de complexo de vira-lata: “Por complexo de vira-lata, entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto de mundo”.

E o pior é que essa subterrânea autoestima evolui para uma inveja tóxica. Tom Jobim disse que no Brasil sucesso é ofensa pessoal.

Nós garantimos torcida incondicional a ele, ao projeto Walk Again e até ao Palmeiras. Bem, aí também não, tudo tem um limite. E torcida a favor, é bom deixar claro, até porque não sabemos torcer contra.

Na Alemanha, há uma palavra que sintetiza esse tipo de maldade doentia. É schadenfreude, que significa alegria com a tragédia alheia. O prazer no insucesso dos outros. Também nossos vizinhos queridos, os argentinos (aqui, zero ironia) têm uma frase que é impagável: “No basta ser feliz, es necessário también que los demás sean desgraciados”.

Esta, diga-se, é contribuição de Diego Rousseaux, o autor das fotos de Nicolelis que, apesar de argentino e cunhado, é um grande cara, além de excelente fotógrafo.


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