Macho que é macho não põe a roupa no armário, deixa jogada no chão do quarto, misturada com sapatos e chinelos.
Casa de Macho que é macho não tem TV, só um aparelho de som para tocar Little Richard.
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Em casa de Macho que é macho, a pia do banheiro fica dentro do boxe do chuveiro.
Casa de Macho que é macho não tem decoração nem preocupações estéticas.
Macho que é macho recebe o repórter na cama no momento em que jaz debaixo das cobertas curando uma ressaca monumental.
Macho que é macho convida o repórter para sentar na ponta da cama à espera do seu total e completo restabelecimento.
Macho que é macho balbucia que a noite (são 3 da tarde) foi de muitos pecados, escondendo o rosto debaixo do braço direito.
Macho que é macho pede ao repórter um aditivo para voltar a si e tapar o enorme buraco que se abriu em seu cérebro. “Quero ficar mais inteligente”.
Macho que é macho salta da cama e avisa: “Estou nu”. Mas de camiseta, é claro. Nu, de camiseta.
Macho que é macho tem sobre a mesa da sala-cozinha um exemplar de Flaubert e uma folha de papel sulfite com um poema datilografado, sem título e sem autor.
Macho que é macho recita o poema que não tem uma rima. O ovo, segundo João Cabral de Melo Neto.
Macho que é macho não precisa de pergunta para começar a entrevista.
Paulo César Pereio:
Branco… Hétero… Sexo masculino… Com a genitália masculina, porque veado também tem pau… Nós, homens… brancos… heterossexuais… que temos pau… Pau só tem massa muscular. Pele. Não tem osso.
Brasileiros – Como é que fica em pé, sem osso?!
Paulo César Pereio – São os corpos cavernosos que o cérebro… não é coração… Ah, meu coração e tal. O coração é uma bombinha e o meu ainda me ameaça porque eu uso marca-passo. E não preciso de marca-piço, apesar de ter 69 anos.
Brasileiros – Bela idade.
P.C.P – Seria bom se fosse em Paris. Ah há há!…
Brasileiros – Mas você não completou a frase…
P.C.P – Não, não, mas eu também interrompi, como fez a Luciana Gimenez… entre parênteses: ah há há há… Aquela matéria que você fez comigo, que meu próximo casamento seria com um homem, a Luciana tem um quadro chamado Vai Encarar?, que é uma cambada de oligofrênicos se metendo comigo. E eu, bicho, meu anjo da guarda não tira férias. Não quero nem saber. Teve um cara que eu proibi de falar. Era um quadro de dez minutos que deu tanta audiência que ela me convidou pra fazer um programa inteiro.
Brasileiros – E os caras implicaram com você por causa daquela frase “Se eu for casar de novo vai ser com homem”?
P.C.P – Não, teve um cara que só queria saber se eu queria dar. Aí, censuraram com o bip. Eu falei: “Mas, Luciana, fuder vem do latim fudere, que significa cavocar… Caralho é o mastro da caravela… Não tem palavrão, garota! Vocês falam transar, é uma transação comercial. Porque transar subentende uma negociação que envolve grana, é uma transação financeira”. Comigo, a audiência subiu pra oito, nove. Ela falou assim entre aspas, entre parênteses: “É do caralho”. Alex, é burrice. Esse livro coleciona burrice (aponta o Flaubert). Chama-se tolicionário. A burrice é intransponível. Outro dia, fui comprar uma lâmpada, e o garoto do balcão testou, mas testou… já era burro… Não percebeu que tinha que adaptar um plugue na lâmpada e aí tirar o troço que estava na tomada e botar a lâmpada. Aí, eu falei assim: “Outro dia, eu fui comprar uma caixa de fósforos, o cara também testou uns fósforos…”.
Brasileiros – Mas você estava dizendo que…
P.C.P – Eu sei! Eu não tô gagá! Eu tô abrindo parênteses…
Brasileiros – Peraí, onde estão teus dentes?
P.C.P – Não, calma aí… Se uma moça ou fotógrafo estivesse aqui, eu usaria. (Pereio sai da sala. Volta com os dentes na boca.) O que eu chamo de galanteios pesados e charme selvagem é o seguinte: quando a moça tá interessada eu tiro a dentadura assim… (descreve o movimento).
Brasileiros – E elas ficam a fim?
P.C.P – Eu, uma vez disse pra mulher o seguinte… que galanteio pesado e paradoxal… Eu falei pra ela: “Eu já fui rejeitado por mulheres muito piores que você”. E ela travou. Você tem de pensar um pouquinho, não? Já fui renegado por mulheres muito piores que você. Pô, tá me esculachando? Eu não tô fazendo elogio, não tô dizendo que ela é bonita. Tô dizendo que tem piores. Piores! Sabe quando tu goza e não quer aquele cabelinho fazendo cócegas no pescoço, sabe… dormir de conchinha… pior ainda, pode pintar uma descarga elétrica e nascer um… sei lá… um Rubem Biáfora… um Fábio Barreto… coitado, parece que Deus chamou…
Brasileiros – Ele continua o tratamento em casa.
P.C.P – Passou um carro, ele falou vrrum, vrrumm… Passou um automóvel e ele falou assim: “Mãe, dá-dá. vrrummm, vrrrummm”… Mas o cinema dele sempre foi meio assim.
Brasileiros – Quem é o Dadá?
P.C.P – Que Dadá? Dadá é dadaísmo…
Brasileiros – É que você falou que o Dadá…
P.C.P – Não, ELE falou da-dá… mãe, vrrummm, vrrrummm… Tá bom já, já tá quase chegando ao nível sináptico com que ele dirigiu Lula, o Filho do Brasil que, ainda antes de lançar, ele e a Glória Pires falaram assim: “Não é oportunista, gente! Não é oportunista”. Ninguém perguntou nada. E agora, como foi fra-ca-sso… FRA-CA-SSO… Aliás, foi o que promoveu o filme, foi isso… Ah, foi fracasso? A imprensa adorou. A única notícia realmente não gratuita, né…
Brasileiros – Você filmou?
P.C.P – Não! Eu não passo perto! Pera um pouquinho!
Brasileiros – Não estou perguntando se você fez o Lula, o Filho do Brasil, mas se filmou alguma vez com Fábio Barreto.
P.C.P – Fiz sim com o Bruno, A Estrela Sobe… Eu, na intimidade, chamo ele de Cabeção. Já viu o tamanho daquela cabeça?
Brasileiros – Do Fábio?
P.C.P – Do Bruno! Ele era bonitinho, tal, tinha cabelo, agora ficou careca.
Brasileiros – Mas com o Fábio, você nunca filmou?
P.C.P – Não. Peraí, bicho! Calma aí. Brincadeira tem hora! Eu já filmei com Reinaldo Pinheiro, o primeiro filme de um cara de 60 anos. Ele queria saber o que eu estava achando antes de fazer o filme. Vai escrever alguma coisa querendo saber o que o leitor já está achando? É isso que eu chamo de ditadura do erro. Não pode errar, então você bota o erro no poder. O Jô Soares é inteligente, mas o programa dele é burro. Eu não sou burro, mas minha pergunta é burra. Claro, o Jô não arrisca.
Brasileiros – Por que você falou que o Jô é burro?
P.C.P – Não! Ele não é burro. O programa dele é burro. Porque, pra me entrevistar… Ele me detesta… Isso é uma condecoração. Se a gente puder esculachar um pouquinho ele, por que não? Inclusive dá matéria. Porque a Veja bota matéria sobre emagrecimento na capa! Não tem mais calhau! Tudo é calhau!
(Toca o celular do Pereio.)
É a minha coleira… All over… É. Sim. Eu jogar pôquer? Que canal que é? Mas é valendo? Pôquer tem que ser valendo… a graça do pôquer é a aposta… É ou não é? E também o sabor da espera… É acridoce… É acridoce o sabor da espera, como no jóquei… Já viu os caras no turfe? Coisa que no pôquer não tem. Então, eu não jogo. Ué, bicho… tem o canter, que é o desfile com os cavalos que estão no páreo, todos com cores maravilhosas… E tem a tribuna dos profissionais, dos sócios, dos abastados… e dos pobres. Tem os pobres. A melhor é a dos pobres. Eles não vão no guichê apostar, jogam um contra o outro. É a mais baixa das tribunas. Todos têm a mesma posição. Mas a dos profissionais é exatamente em frente ao fotochart… É, fotochart, onde é fotografado… Não, tem outro nome, mas eu chamo de fotochart porque tem um aparelho fotografando porque às vezes os cavalos chegam juntos na linha… Ah, bem, mas não é a mesma coisa, bicho! Sim… sim… tem também a terceirização erótica… Eu também já vi muito sexo na TV, mas eu prefiro pessoalmente, entendeu? Ah, sim… nas sociais tem um restaurante lindo e tem um outro, mais popular. E tem entrada pra homem, pra mulher e pra analfabeto. Sim, porque… peraí… sabe o que é? Quem perde são os cavalos. Os burros ficam olhando e apostando. Mas é exatamente o sabor acridoce da espera. O acridoce eu acrescentei porque… não! É chinês… tem esse molho… frango xadrez, porco acridoce. Não, estou me referindo ao território do Acre… e sim ao vinho acre, o vinho azedo, vinagre. Eu tô divagando… Eu tenho certeza… Não, eu tô velho, feio, não tô broxa, mas toda mulher que dá entrevista fala… Até as mais gostosas dizem que homem tem de ser engraçado. Agora, eu vou parar nos 69, vou mentir que tenho 69 já pra ir abordando o tema, chegando no assunto e tal… Não… para de rir e fala logo o que é pra eu fazer. Hoje? Eu to aqui com o Alex Solnik, aquele judeu escroto… Alex Solnik… é um jornalista… Meia sola, eu já tô topando. Então, falou… Se eu for aí, você me recebe? O que é aí? Ah, tu me liga segunda? A que horas? De manhã??? Porque você quer me deixar destemperado pra eu perder, né? Hein? Eu já tô gagá, você vai botar umas feras pra jogar comigo, me acorda de manhã, eu chego lá já vendido. Se tiver um exame antidoping… Hein? Tem exame antidoping? Ah, então… não… Não, porque o residual, entende… Eu tô limpo, mas tem um residual, tem de fazer um washout para tirar, digamos assim, os modificadores da consciência. Fica no DNA? Acho que não, no exame de fezes eu acho que sai. Entende? Hein? E na autópsia. Grego pra mim é grego. O meu grego é pra inglês ver. Eu sou paradoxal. Mas fala logo aí… Vai me ligar segunda de manhã… não… Então, de manhã você me pega fácil… Há há há… Tchau… Ela tem uma voz grave, mas é… Não é de velho, a voz ainda tá… Não é como a minha que já tá… garbage voice…
Brasileiros – A tua voz ainda tá boa. Você podia fazer o Fantástico no lugar do Cid Moreira, um dia…
P.C.P – Não, não, o Cid não, bicho… eu sou o anti-Cid Moreira. Ele tem a voz limpa. Ele trata a voz… tem estúdio em casa… ele grava a Bíblia! É golpe sujo, bicho! Eu só vendo merda! Mas eu vendo. Um dia tinha o cigarro – que eu vou morrer disso – a marca era Advance, iam lançar um cigarro novo, Advance, o maço era amarelo… Atualmente, cigarro que tem cores quentes é só cara que gosta de fortão, o resto é branco e azul. Já percebeu isso?
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Brasileiros – Já. O prateado…
P.C.P – E aquele azul do selecionado italiano que… a bandeira é vermelha, verde e branca… e La squadra é azurra. Por quê? Il colore della Madonna. É a cor de Nossa Senhora, eles são edipianos. É aquela Nossa Senhora do Da Vinci, azul marinho, mas aquilo é azurro… A de vôlei também! Eles todos são edipianos. E moram com a mãe.
Brasileiros – Você morou lá?
P.C.P – Morei, em Roma. Eu tinha uma amiga, Boja… Boja Kojac… Nasceu na Iugoslávia, ali… E a filha dela era minha namorada. Chamava-se Lepka Kojac. Era linda. Ela parecia aquela… Bem, agora já não deve parecer tanto… deve ser um maracujá…
Brasileiros – E então, o que aconteceu? Por que você começou a falar na Boja? Você estava dizendo que os italianos são edipianos.
P.C.P – Amnésia lacunar.
Brasileiros – Azurra… edipianos… amnésia?
P.C.P – Amnésia lacunar. Lacuna. Eu telefono pra ti, quando você atende, eu só sei que é você porque reconheço tua voz. Mas eu já esqueci pra quem eu telefonei. Eu tô usando a minha memória agora pra esquecer, não pra lembrar. Bicho, com o tempo o paiol vai esgotando… o silo… os tombos…
Brasileiros – Os fuzis…
P.C.P – Não, o que está lá dentro são Mauser 1892 que estão no meu paiol, é aquele Ku-Klux-Klan (simula carregar fuzil)… É daí que vem o Ku-Klux-Klan, sabia?
Brasileiros – Não.
P.C.P – Ku…Klux…Klan… é uma onomatopeia. Porque, porra, botar que nome naquela merda? Escrotos Paraboiólicos de Pau Pequeno, Brancos?…
Brasileiros – Agora, você voltou aos brancos do começo… não exatamente esses, mas brancos…
P.C.P – Que era o tema… Homem, do sexo masculino…
Brasileiros – Esse homem branco, heterossexual…
P.C.P – É o vilão atualmente. O Black Power é contra nós porque nós somos brancos… O Gay Power é contra nós porque somos héteros… Eles são heterofóbicos. Nós não somos homofóbicos. A gente até que tem… Eu tenho um cachecol de emotional support… Tem muitas lésbicas maravilhosas. Não vou dizer o nome porque tem muita mulher que não gosta que divulgue.
Brasileiros – Ah, é?
P.C.P – Tem uma que era da Folha e era jabazeira. Acho que ela tinha uma coluna, não era chique ainda, era baixa sociedade a coluna. E ela começou a… “Quer aparecer na coluna? É tanto…”. Daqui a pouco, o cara: “Eu tô sabendo que…”. Nem tá sabendo de nada! Bom, tu sabe. Tu sabe. O Haf… o Hamilton Almeida Filho, meu ídolo, ele… é, morreu, virou santo… Ele, lá no Correio Braziliense, disse que tinha ta-be-la. Matéria redacional.
Brasileiros – Eu trabalhei com o Haf lá.
P.C.P – E teve o dia em que ele revelou… Porque alguém, sei lá, o Chico Caruso botou ele com o Delfim, que ele era assessor do Delfim, e aí ele criou a história de que os irmãos Caruso são um só: um cara, pra dobrar o cachê, matou o outro e ele faz ponte-aérea. Eu contei isso num show deles, eles não gostaram muito. Não fui muito popular, sabe aquela história? Falar mal pelas costas, foda-se; mas falar mal pela frente… Aí, eu não vou gostar. E eu falei isso na frente dos dois! Estavam os dois. Ou então, eu estava com a visão dupla. Então, é que nem o Zé Mané… que gênio não é eterno, quando morre é tudo igual. Agora, o Zé Mané ocupa espaço igualzinho, você nem percebe. Tem Zé Mané na cerca, na reserva. Claro que não tem Ronaldinho, nem Ronaldão porque o Dunga é burro. O Ronaldinho Gaúcho… porque ele é… se lembra?… A era Dunga… Nenhum sorriso. O Dunga nunca brindou o povo brasileiro com um sorriso.
Brasileiros – Tem esse negócio…
P.C.P – O meu celular é assim: não tá acontecendo nada, não posso me concentrar… Se interromper… se interromper o intercurso, eu perco aquele embalo. Tem uma hora que embala, não tem? Vai indo, vai indo, vai indo e pá! Aí… não para, não para, não para e aí é o seguinte: é a teoria da borboleta. Se a borboleta bater asas, pronto! Ele é muito carente. Precisa da atenção toda. Tipo: eu estou aqui, não se esqueçam de mim, tal… Porque o meu vermelhão é assim… o apelido dele… cromaticamente ainda é o mesmo, mas ele tá meio quebrado, sabe? Uma vez, eu vi uma entrevista sobre um médico que endireitava. Deve ser pior que virar mulher. Botar o pau na reta.
Brasileiros – Quem fazia isso?
P.C.P – Não, apareceu uma entrevista na televisão um médico dizendo que era o capuz albugínico e ele culpava a punheta. Porra, inocente punhetinha! A única mercadoria que tem pra negociar com o pau, de homem pra homem… Uma vez, eu estava com raiva dele, fiz um blues que eu cantei no show do Paulo Caruso chamado Larguei da Punheta (canta). Bonito, né?
Brasileiros – Você é o autor e o cantor também? A música é tua?
P.C.P – A música, bicho, não existe mais música. Todas foram feitas. Você tem de ter bom gosto.
Brasileiros – Você fez um apanhado de outras músicas.
P.C.P – Não, eu não fui direto, não é plágio, assim… É plágio do universo interior, que tá lá dentro… Então, tem muita coisa assim, aliás, a escala cromática, dodecafônica que pode ter no computador e não sai nenhuma melodia nova. Nenhuma! Agora, tem de criar uns ornamentos, tem umas escalas aí que parece que têm notas de uma escala oriental… Tudo a mesma merda… turco, iraniano, aqueles turcos lá… que nem Paraíba. São Paulo é Paraíba. O Brasil vai até Santa Catarina, o resto é a Paraíba. É a mesma merda… capixaba… sou de Alagoas… é a mesma merda… e o Leste Europeu também. Letônia, Lituânia, Ucrânia… é tudo a mesma merda, é ou não é? Você que é… belongs to East Europe… é tudo cachaceiro, e tá faltando vodka lá, parece que vão comprar vodka brasileira. O ideal seria a gente comprar um Electra, que foi o avião da minha vida, encher de vodka e levar pra Rússia. Vodka Orloff…
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Brasileiros – Eles bebem perfume, bebem álcool industrial…
P.C.P – Então, é melhor não levar etanol, porque etanol mata.
Brasileiros – Bebem, bebem…
P.C.P – Aqueles russos lá, nem o Napoleão conseguiu dobrar… General Inverno.
Brasileiros – Eles são fortes.
P.C.P – Imagina, bicho, eu, se tiver um inverno abaixo de zero muito longo, eu me mato. Também, calor… Você viu que meu quarto é climatizado. É o único lugar fechado da casa, percebeu?
Brasileiros – A Caras ainda não fotografou aqui?
P.C.P – Bicho, é que nem aquele cara que fala assim: “Eu não falo sobre a minha vida particular, eu me preservo”. Na Angélica, era eu e o Fábio Assunção. Tinha uma pergunta pra mim que era assim: “E drogas?”. “Todas!” E o Fábio Assunção disse que malhava, fazia alimentação balanceada e tal… Chegava pra gravar, não sabia texto nenhum, batia cabeça nas paredes. Todo mundo da Globo é da pó-lí-ti-ca… tu sabe… O que mais revela e o mais dramático no alcoolismo é o goró no armário. A mãe da Cissa… Ela precisava de uma dose… e aí dizia: “Vou retocar a maquiagem, vou empoar o nariz…”. E ela entrava… Ela tinha um apartamento dentro do apartamento, entrava, abria o armário, tirava o uísque Drury’s!… Pedrinho Moraes era Old Eight… tinha gosto de canela… Voltando… “Ah, o Nelson Rodrigues…” Eu estava fazendo A Dama do Lotação, eu e a Sonia Braga. E a Sonia Braga é o seguinte, bicho. Porra, no camarim de atores não tem underwear. Todo mundo anda pelado, qual é? É um camarim pra todo mundo. Como dizia Flaubert, as jovens atrizes são a perdição dos jovens de família. E as egípcias se prostituem publicamente com os crocodilos! Quer dizer, há exceções: tem umas que são boas chefes de família. Mas, bicho, ninguém tem genitália, peito, bunda… Depois, pode ser, mas tem de ter um jantar no Spot, no Gigetto, na Fiorentina, e aí fica alegrinho e tal e esquece que conhece muito bem e tal evidentemente que uma mulher quando pinta, o papo padrão ela dá uma rabiscada de olho, ou então olha pelo espelho, está se maquiando, mas está olhando… É normal.
Brasileiros – Mas… e a Sonia Braga? A Dama do Lotação…
P.C.P – Ah, então… no Motel dos Bandeirantes, na estrada dos Bandeirantes… Era aquele motel, assim “o que é que eu vou dizer lá em casa?”. E não tinha telhado, tinha laje. E o ar era todo condicionado, senão não dá. E houve uma tragédia: acabou a energia elétrica. A Sonia nunca teve nenhum pudor, muito pelo contrário, até a volúpia dela era o exibicionismo… No A Dama do Lotação tinha uma locação que era um terminal de uma linha de ônibus, a primeira coisa que ela fez foi ficar pelada e ficar passeando. Pô, aqueles caras…
Brasileiros – Num terminal de ônibus com gente olhando?
P.C.P – Gente, não… Eram os motoristas, os cobradores e os mecânicos! Aqueles que têm a foto dela na folhinha na manutenção e ela… E tinha pelo naquela época, não tinha pintado ainda a moda Príncipe Danilo.
Brasileiros – Mas, escuta… Você começou falando do camarim…
P.C.P – Camarim, não, na filmagem… Acabou a energia e eu e Sonia estávamos nature… sem underwear… que as modelos desfilam nature pra não marcar. Bem, e entra… eu e Sonia… calor filho da puta! Eu e Sonia temos uma intimidade muito grande… Antes de tirar a roupa, eu fico olhando… tem aqueles caras da técnica, aqueles negões que só pensam naquilo… gostam de olhar. Por isso é que a pior coisa que tem é fazer filme erótico. E ainda tem o iluminador que bota vinte quilos de luz em cima de ti! O cara usa filme 100 asa, 200 asa, então ele precisa de mais luz.
Brasileiros – Aquele calor…
P.C.P – Meia luz nem pensar! Só na letra do tango. É por isso que eu sempre digo: quando uma mulher se insinua na filmagem… já aconteceu… Não vou entregar… Vera Fischer se insinuou, eu falei: “Não… Talvez na dublagem. E depois tem outro problema, você deu pro Perry Salles, então aqui… não tem…”. Você não acha? Mulher que deu pro Perry Salles! Gravou isso?
Brasileiros – Lógico.
P.C.P – Então, estávamos eu e a Sonia ali, de bunda dada… porque a cama era estreita, ficamos de bunda dada… É bom, gostoso, Soninha e tal, tudo bem…
Brasileiros – A cena era essa?
P.C.P – Não, a cena era eu comer ela! Mas acabou a energia, não podia filmar e aí… Também acabou o ar condicionado do motel… O motel era uma laje no Rio de Janeiro e então eu pensei, bom, vamos esperar. Vamos dar um tempo. Sempre há uma esperança. Não pode cair o dia. Pô, cair um dia de filmagem… A gente ficou tão à vontade eu e Sonia… A gente era muito amigo… ainda somos… e eu agora vou ser mais amigo dela porque eu ainda sou símbolo sexual e ela já está caindo. Mas não me procura! Só sabe reclamar do Chico Anysio e não sei que tal. Parece que ela tem liquidez no Chico… estrangulou o Chico Anysio… E quando a minha separação com Cissa não deu certo – tem casamento que não dá certo, e tem separação que não dá certo -, de vez em quando ela me procurava, o Rony Porrada dizia que era “saudades do vermelhão”…
Brasileiros – Quem é Rony Porrada?
P.C.P – Aquele engenheiro que só dava porrada no Rio de Janeiro, era um puta dum matemático e era louco e tinha um humor do caralho. Ele bancou o JÁ pro Tarso!
Brasileiros – E a Sonia?
P.C.P – Entra Nelson Rodrigues, Jorge Dória estava nas circunstâncias, que ele não é trouxa, ninguém é de ferro, deve ter saído por causa do calor, mas quando chegou o Nelson, Jorge Dória foi junto com o Nelson pra ver e entraram os dois e olharam e viram a Sonia lendo a bula de um remédio e eu dando uma coçada no saco, que, aliás, é muito injustiçado, é a parte mais importante do homem, se não fosse o escroto ia ter de segurar os culhões na mão. E eu dando aquela beliscadinha, que com o calor ele dilata, na sauna ele é um termostato.
Brasileiros – Não sei… Não frequento sauna.
P.C.P – Peraí… Ô, cara, eu também não sou veado não.
Brasileiros – Não disse que você era…
P.C.P – Eu já filmei em sauna. Eu nunca dirigi caminhão e no bang-bang eu era um caminhoneiro. E bronzeamento artificial você faz?
Brasileiros – Imagina…
P.C.P – Ah, mas o Fagundes faz. O Fagundes chefe de boca naquela novela não tinha marquinha de camisa regata. Não tinha marquinha. Bem, Sonia lendo a bula e eu dando aquela coçada… E o Dória falou pro Nelson: “Nelson, o que é aquilo?”. E o Nelson: “O Pereio está além da minha compreensão. Diante daquele monumento, daquela coisa calipígia da Sonia Braga, ele fica coçando aquele saco cor-de-rosa!”. Olha que genial! “Aquele saco cor-de-rosa…”
Brasileiros – Mas o que eu queria dizer pra você era o seguinte. Eu li em algum lugar que você torra a grana com putas…
P.C.P – É mentira! Eu broxo com puta! Eu tive agora uma dona de coração, uma coisa que tava há muito tempo, pintava uma atração mútua, a gente trocava literatura… Ela tinha tido uma cena com meu irmão… Tenho quatro irmãos homens… e eu não sabia. É claro que ela calava fundo no meu coração. Sabe, sexo eu gosto de ter um vínculo de humor, de conversa, até cultural, claro… Falar de João Cabral de Melo Neto e não saber quem é! Tem uma puta que eu fiquei louco por ela e aí ela pediu pra ajudar uma amiga pra pagar um carnê, tal, fui junto com ela e ela perguntou assim pra mim: “Qual é a diferença entre um avião e um helicop…”. E travou no helicop. Aí, eu quis dar uma de sábio cultural tem a hélice, e em grego pteros é asas. Ela tomou um alka-seltzer e naquele momento eu broxei. Eu sou priápico. Três dias… é! É coração.
Brasileiros – Três dias?
(O telefone toca.)
Pereio (ao telefone): Estou sendo entrevistado pelo Alex Solnik agora. Você quer me entrevistar pelo telefone? Eu pretendo não fazer, entende? Essa hora eu vou… eu vou… zerar… zerar. Eu tenho um nome a zerar… e eu agora tenho uma hora a zerar… alguns caras têm o nome a zelar, eu tenho o nome a zerar… Estou devendo no banco, estou com o cheque especial estourado, então eu tenho um nome a zerar. Como o dia tem 24 horas e amanhã vai ter 25, uma hora eu não vou pensar em nada, em problema nenhum, em conta de banco… eu vou zerar essa hora. Tchau, um beijo!
P.C.P – Quer coisas engraçadas… senão elas botam uma merda, o editor bota uma merda… as guriazinhas de Cultura da Folha e do Estadão… Uma vez, bicho, quando eu estava na campanha pela destruição do Cristo Redentor, eu falei que me inspirei no Flávio de Carvalho que tinha um projeto que ele deu pro Gustavo Capanema de demolir, com cálculo formatado, o projeto da escultura… tá gravando?
Brasileiros – Tá.
P.C.P – Bem, e aí eu na minha campanha fiz até um jingle, na minha campanha de derrubar o Borba Gato, o bonecão… Bem, no Rio fui um pouco impopular, os caras não gostaram, mas em São Paulo na Virada Cultural que eu fiz uma vez na rua as pessoas gritavam: “Vamos derrubar aquela merda” e tal… O que eu tava falando?
Brasileiros – Sobre as guriazinhas da Folha e do Estadão…
P.C.P – Ela me telefonou, eu falei da inspiração no Flávio Carvalho, ela me perguntou quem era o Flávio de Carvalho… Bicho, ela cobria cultura! Em São Paulo! Quem é Flávio de Carvalho?!
(Pereio coloca um som de Little Richard. Lucille.)Olha que genial, tá vivo o filho da puta…Louco! E a gente é descendente dele. Mas veja só, o Little Richard tinha o cabelo parecido com o do ditador da Coreia do Sul que usa sapato alto porque acha que vai ficar mais alto. Ficou mais baixo. Ficou mais baixo porque, em proporção…
Brasileiros – Aumentou pros lados?
P.C.P – Aumentou pros lados. A Cissa tem um 1,52 m e ninguém diz isso. Que ela… Cissa tem um bom equipamento cerebral. Usa às vezes para baixas paixões, o que também é uma burrice emocional. Sempre precisa um pouco de inteligência… inteligência priápica… inteligências fálica… Qual é o tema?
Brasileiros – Marisa Orth.
P.C.P – Marisa Orth não, já perdoei (ela tinha chamado Pereio de dependente químico). Já perdoei. Fiquei puto, porque eu não sei, às vezes há uma contaminação do personagem no ator. E ela fazia uma mulher que era oligofrênica. Tinha pouco cérebro. Magda. E até tem uma história que a Cláudia Jimenez saiu porque a Marisa ficava esculachando ela de gorda. E ela falou: “Mas eu, me esculacham de burra…”. “Mas você não é burra, e eu sou gorda!”. Esse padrão atual ta homogeneizando… Uma amiga minha não sabe quem é mais, estão todas ficando iguais na mesma idade. Uma espécie de diferença, quer dizer. Se não tem tu, vai tu mesmo. Essa é a questão que eu tenho com puta. Eu gosto de conversar, sabe… eu sou maratonista. Pra pernoite.
Brasileiros – E maconha…
P.C.P – Naquela época dava uma larica filha da puta, agora não dá mais. Nem dá aquele negócio de rir, tal. Eu acho que você libera um pouco a resistência. Então fica tudo melhor. Aquele papunço não tem mais (ficar empapuçado). A gente é Lady Di. Ela teve um período bulímico e ela declarou o seguinte: “Eu me sentia me abraçando com a nudez”.
Brasileiros – De tão magra?
P.C.P – É, porque ela era bulímica e vomitava. E daí, comia de novo. Até que pintou o Dodi. Ela largou o vício e ficou morando naquele hotel de Paris, nisso aparece o motorista que também estava com a cabeça feita, tem essa suspeição, mas é abafada. Que nem com o filho do Fernando Henrique, uma conspiração de silêncio da imprensa. O filho que ele teve com a jornalista!
Brasileiros – Pedro… filho dele com a Miriam Dutra.
P.C.P – Como é o nome dela?
Brasileiros – Miriam Dutra.
P.C.P – É, a Miriam Dutra… O foco da imprensa era só o abandono do guri, que a Miriam Dutra foi pra Espanha.
Brasileiros – Não, isso não, ele nunca foi abandonado, ele sempre bancou o filho.
P.C.P – Tá, ele sempre dava conta da maloca, agora mesmo parece que tá dando conta de uma…
Brasileiros – Sempre bancou, tanto que ela nunca se queixou.
P.C.P – A gente só sabe reclamar. Tá legal, vamos livrar a cara do nosso presidente mais apresentável… brasileirão, mulato, ele se declarou pardo.
Brasileiros – Escuta, falando em Fernando Henrique e a corte… Você esteve no Hamlet do Diogo Vilela…
P.C.P – Não, eu fui expulso por mau comportamento.
Brasileiros – Você queria comer alguém?
P.C.P – Foi um telefonema para Rita Elmor… que era Ofélia. Boa atriz. Mas, já tinha tido um filho, trabalhava na Globo, aquele puteiro. E eu deixei um recado para-humorístico pra ela na secretaria eletrônica e fui mal interpretado. O recado era: “Tara… você é a minha tara. Magrinha…”. Foi interpretado como assédio pelos veados. Um deles telefonou me expulsando: “Essa moça já foi minha namorada”. Aí, eu entendi as coisas. Tem mulher que só namora veado. O Diogo Vilela tinha ciúmes. Porque a minha carga era maior que a dele. Eu fazia o Claudius, a carga dele é muito maior que do Hamlet e ainda fazia o Pai, o fantasma. Tinha horas que ele tinha pitis. Ele era o produtor também… Ele estourava de vez em quando, tinha aquele discurso do patrão, do cara que dá a grana: “Eu não vou vender meu apartamento pra pagar…”. Plutocrata. E aí, eu fui expulso porque não tinha estatura moral…
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