No Dia da Música Antiga, violoncelista diz que arte é atemporal

Foto divulgação

Para celebrar o Dia da Música Antiga – data pouco conhecida no Brasil, mas bastante lembrada na Europa -, a Brasileiros conversou com o violoncelista Dimos Goudaroulis, grego radicado no Brasil desde os anos 1990. Para ele, apesar de chamada de “antiga”, a música medieval, renascentista e barroca é atemporal, pois nunca deixa de ser contemporânea e de trazer um frescor. Leia a entrevista abaixo.

Qual é a relevância de se ter um Dia da Música Antiga? O que significa essa celebração?

Eu não sabia que era o Dia da Música Antiga hoje, justamente porque para mim o Dia da Música Antiga é todo dia. Eu toco violoncelo barroco todo dia quando eu estudo aqui em casa. Ao mesmo tempo, me toca muito essa data. Eu acho interessante, primeiro porque acho que a música antiga é uma música um pouco mais rara e distinta dentro do próprio mundo da música erudita. Não está no, digamos assim, mainstream da música erudita. Além disso, a data me toca porque é o aniversário de Johann Sebastian Bach, e acho muito bem pensado a data escolhida ser essa.

Existe uma definição exata para o que se chama de música antiga? Barroca, Medieval…

O termo virou muito genérico e compreende toda a música renascentista ou da Idade Média, até mais ou menos o final do barroco. Hoje em dia colocamos dentro da música antiga, essa estética de tocar instrumentos antigos. Pode até ser música posterior, do final do século 18 ou começo do 19. A gente interpreta essa música com um olhar histórico e procuramos fazer pesquisa para saber como se tocava e qual era a estética do período. Então é uma palavra que compreende um grande período, mas ao mesmo tempo significa um jeito de pesquisar e ver a música, um olhar específico, histórico, musicológico.

Mas ao mesmo tempo que é antigo, é uma música que não deixa de ser atual, no sentido de nunca perder seu valor…

Isso é a maravilha da arte, em geral, e da música que é atemporal. A gente pode ouvir e ser tocado pela música de séculos atrás. A música tem essa coisa de viajar no tempo e não ter tempo. E a música antiga, mais especificamente, ela propõe uma visão do mundo que é justamente pelo frescor quando se redescobre hoje que pode ser muito contemporânea. Às vezes nós cansamos mais daquilo que é mais próximo, e a música antiga pode voltar num frescor que é mais antigo e mais contemporâneo simultaneamente.

Você é conhecido pelas suas interpretações de música antiga e também pela utilização de instrumentos de época. Como é essa pesquisa e o que você busca com ela?

Minha busca, de um jeito mais filosófico, não só musical, é o refinamento, e abrir a minha cabeça e experiência de músico para a pluralidade. Para ter várias estéticas, técnicas e instrumentos, cada um apropriado para cada tipo de música que eu toco. Acho que isso enriquece como músico. E tem essa busca do refinamento ao tocar música antiga, de chegar perto de um som original com os instrumentos devidos. Eu batalho contra uma globalização do gosto que vivemos. Sou contra esse fascismo do gosto único. Acho que tocar vários tipos de música com uma só estética ou com um só instrumento, vai nessa direção da padronização.

E você acha que essa música antiga ainda é muito pouco ouvida no Brasil?

Sim, ao contrário da Europa, no Brasil ainda soa como uma coisa exótica. A gente, como músico, ainda se sente na obrigação de explicar um pouco as coisas para o público. Mas isso, ao mesmo tempo, permite uma liberdade de movimentos e cria uma relação gostosa com o público, de colocar o público no clima. É um jeito também mais desencanado de fazer concertos de música erudita, que às vezes parecem muito formais e distantes do público.


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