O Discovering Latin América Film Festival foi aberto na noite de quinta-feira (26), em Londres, já com polêmica. O filme colombiano Blood and Rain ou La Sangre y la lluvia, de Jorge Navas, causou descontentamento dos espectadores e gerou uma discussão.
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O filme trata de um taxista e uma viciada em cocaína que se encontram em uma noite chuvosa. O taxista sofre com o recente assassinato do irmão. A viciada, com a droga. La Sangre y la lluvia é um filme de amor, mas que acontece no contexto da violência da cidade de Bogotá.
Jorge Navas, é um jovem colombiano que em 2009 tem estado em vários festivais pelo mundo, inclusive festivais importantes, como o de Veneza. Nos últimos anos, o governo colombiano vem apoiando novos cineastras e Navas é um resultado disso. Ele estava presente na sessão de seu filme e no final respondeu perguntas.
“Nosso cinema está começando a produzir cada vez mais filmes. Estamos fazendo doze filmes por ano. A maioria da produção do nosso país costumava ser novelas. Mas, agora está começando algo diferente e interessante. Esse foi o melhor ano para o cinema colombiano”, disse ele.
Sobre as suas inspirações, Navas foi direto. “O que me inspira é o meu cotidiano, meu dia a dia, a cidade de Bogotá, mas principalmente o obscuro lado dessa cidade”, falou o diretor.
Existe um forte senso de realidade no filme de Navas. Isso se expressa em vários aspectos, como nas longas tomadas que o diretor decidiu colocar. Mas, também o fato de que ele contratou atrizes não profissionais para o filme.
“Para mim é muito importante a sensação da realidade. Nós temos muitas novelas em Bogotá. Para mim, elas são vazias. Eu luto muito pela sensação de realidade e espero que eu esteja conseguindo atingi-la”, defendeu ele.
Jorge Navas diz que sua inspiração vem de diversos objetos. “Para mim, é muito importante história da arte, Expressionismo e Romantismo alemão e, principalmente, o cinema negro, o lado negro do ser humano. E a estética entre a paisagem e a cidade”, analisa.
Nós últimos anos, latinos-americanos vão a festivais de cinema no exterior esperando ver o lado bom da região retratada, pois muitos filmes sobre violência já foram feitos. Nesse sentido, La Sangre y la lluvia causou polêmica. “Porque você acha que é importante mostrar o lado ruim da Colômbia? É só isso o que se vê nos telejornais todo dia aqui. Porque você quis mostrar mais disso?”, manifestou-se um espectador colombiano.
Navas argumentou. “Eu tenho consciência de que escolhi um polêmico lado para começar minha carreira. Mas, isso é o que eu quero mostrar. Quem sabe em 10 anos eu possa fazer um filme mais feliz. Mas, não nesse momento. A Colômbia não é esse país brilhante que todos nós queremos. Agora nós estamos vivendo um exorcismo no cinema colombiano. Estamos colocando todas as coisas ruins para fora”, explicou o diretor. Porém, lembrou que Bogotá é uma cidade de contrastes e que o filme mostra o lado mais obscuro dela.
Mas, a audiência ainda não estava convencida. Navas continuou. “Eu não acredito que aqui eles saibam profundamente sobre o que acontece hoje na Colômbia. Eu trabalhei com publicidade por 15 anos. E eu tenho que dizer que é ridículo ficar tentando mostrar todas essas coisas felizes e engraçadas”, diz ele.
Ele defende que é necessário discutir os problemas. “O povo colombiano não quer enxergar a violência. Eles não querem estar com medo. Mas, nós temos que refletir isso. É nossa realidade e nós temos que mudá-la. Assumir o problema é o começo para isso. Eu não vou fazer filme para fazer propaganda para meu país. Se eu faço um filme é porque eu senti a necessidade de fazê-lo”, argumentou.
No final, Navas assume que o filme reflete a sensação que ele próprio tem na cidade. “Quando minha família sai, nem que seja até quatro blocos da minha casa, eu temo por eles. Quando eu tenho que andar de noite na rua eu tenho medo. Eu tenho medo o tempo inteiro, por vários motivos”, confessa o diretor.
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