Noite de gala brasileira no festival latino-americano

Sábado (28), terceiro dia do Discovering Latin America Film Festival (DLAFF). A programação está recheada de filmes brasileiros. O público presente surpreende. “Mais de 50% do público foi inglês. São pessoas interessadas em cinema, em América Latina ou que estudam línguas latinas”, disse um dos organizadores do festival, Neal Baker.
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Mas, essa não é a única razão pela qual muitos ingleses comparecem às sessões. “Essas pessoas sabem que o dinheiro da venda dos ingressos vai para ONGs latino-americanas. Então, elas vêm também pelo intuito de ajudar”, continuou Neal, que é inglês e voluntário há 5 anos no DLAFF. Ele próprio é envolvido com o festival por essas causas. “Uma vez, fiz um intercâmbio a trabalho na Venezuela e vi coisas chocantes. Isso mudou minha vida. Resolvi ajudar”.

O dia foi repleto de filmes brasileiros. Começando por Garapa, de José Padilha. O filme de 2009 foi gravado no interior do Ceará, em uma comunidade muito pobre. O diretor e sua equipe presenciaram quatro semanas do dia a dia de três familias que lutam diariamente contra a fome. O resultado são 110 minutos de documentário que, segundo o próprio público presente, vale muito a pena assistir.

“O filme é triste, mas é a realidade. Ele traz informação que precisa ser divulgada. As pessoas precisam se conscientizar desse problema”, declarou Karen Abbott, uma nutricionista inglesa que estava entre os espectadores. “O filme foi muito chocante. Nós lemos nos jornais que pessoas passam fome, mas quando você assiste imagens de pessoas passando fome, a comunicação é muito mais poderosa. Eu também tive uma sensação de não poder fazer nada. O que é horrível”, disse a estudante francesa Coignac Marine.

“O filme é muito triste. E eu tenho a sensação de que se eu voltar dez anos depois, para assistir um outro filme gravado no mesmo lugar, eu provavelmente estarei vendo as mesmas imagens. É muito bom que esse diretor tenha feito um documentário sobre isso. Assim, as pessoas podem ver o que está acontecendo”, disse Haider Kikabhoy, um estudante inglês frequentador assíduo do festival e que diz buscar nos filmes realidades que nunca viu antes.

O segundo filme brasileiro do dia foi Romance, de Guel Arraes, que além de cineasta é diretor da Rede Globo. Ele já fez várias produções em parceria com a emissora, como Lisbela e o Prisioneiro, um grande sucesso nos cinemas brasileiros.

Uma das produtoras de Romance, Clarice Saliby de Simoni, estava presente e nos contou como a vida pessoal do diretor influenciou na criação do filme. “Guel Arraes estava com vontade de falar sobre o conflito que nós temos no Brasil entre quem faz televisão e quem faz cinema. Se você quer machucar um diretor no Brasil apenas diga ‘você é um diretor de televisão’. Além disso, ele estava tendo seu segundo filho, com sua segunda mulher. Então, estava também querendo falar sobre relacionamentos e pensar um pouco sobre isso”.

Clarice foi uma das produtoras responsáveis pela trilha sonora do filme. “Nós misturamos música clássica com sons brasileiros, como a viola e os cantores repentistas. Caetano Veloso foi o diretor musical, então foi maravilhoso”.

A produtora falou também sobre a atual indústria cinematográfica brasileira. “A Ancine financia os filmes brasileiros por meio de incentivos fiscais. Esse é o modo que nós fazemos filme no Brasil. Mas, isso é uma coisa que nós queremos mudar – digo a indústria cinematográfica em geral. Porque nós nos tornamos mal acostumados. Sabe quando você é criança e tenta vender doces, mas ninguém compra e aí vem seus pais e dizem ‘não se preocupe, nós vamos comprar seus doces’?”, compara.

Segundo a produtora, o cinema no Brasil estava, poucos anos atrás, realmente despreocupado. “Nós tinhamos dinheiro para gravar e nós não perderíamos dinheiro se saísse um filme ruim e ninguém assistisse”, disse ela.

Mas, agora esse quadro está mudando. “Nós não queremos isso mais. Nós queremos nos tornar uma indústria de verdade. Isso já está acontecendo. Esse sistema da Ancine é bom pois sem ele nós não teríamos feito tantos filmes. Mas, por outro lado, é muito perigoso se tornar tão despreocupado, por não ter competição e riscos”, finalizou Clarice.

Fechando a noite, o festival exibiu A Erva do Rato, de Júlio Bressane e Rosa Dias. O filme foi inspirado em dois contos macabros de Machado de Assis, O Esqueleto e A Causa Secreta. Os atores centrais são Selton Mello e Alessandra Negrini.

Somando todos os filmes, o público inglês teve um bom panorama do cinema brasileiro atual. Nos próximos dias, tem mais filme brasileiro no Discovering Latin America Film Festival.

Veja a programação completa do DLAFF no site oficial.


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