Foto Marcela Poch
A ópera Don Giovanni é uma das combinações mais perfeitas de texto e composição que a música ocidental criou nestes séculos de grande concepção lírica, segundo John Neschling, diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo. “Creio que o humor e a sabedoria desses dois gênios – Mozart e seu libretista, Lorenzo da Ponte – se amalgamaram de tal forma que não é possível pensar na música sem o texto ou vice-versa”, escreveu. Essas qualidades fizeram com que o Theatro Municipal de São Paulo escolhesse Don Giovanni como a segunda atração de sua Temporada Lírica 2013. O espetáculo será acompanhado da Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência de Yoram David, e do Coral Paulistano.
O elenco reúne nomes relevantes, como o italiano Nicola Ulivieri, vencedor do Prêmio Abbiati por suas interpretações para as óperas de Mozart, e o brasileiro Leonardo Neiva, Melhor Cantor do Brasil no 12o Prêmio Carlos Gomes, em 2009. Além deles, participam Andrea Rost e Luciana Melamed. A direção cênica é do italiano Pier Francesco Maestrini, referência em mais de 80 produções pelo mundo, do barroco ao contemporâneo. Maestrini concebeu a peça no Chile, onde foi originalmente produzida pelo Teatro Municipal de Santiago. Dividida em dois atos, Don Giovanni se passa em Sevilha, século 16, e trata da desordem dos afetos. Os personagens vagam em um mundo afogado em emoções e desejos violentos. O tema central, o “donjuanismo”, é recorrente na psicologia moral como símbolo do enlouquecimento do desejo.
A concepção de Maestrini para a obra se baseou no ensaio publicado, em 2003, pelo escritor e musicólogo italiano Alessandro Baricco, autor do romance Seda, que apontava similaridades entre o libertino mozartiano e Drácula, o lorde dos vampiros. Maestrini se aprofundou na comparação e encontrou outras coincidências entre as tramas: os inimigos dos protagonistas têm perfis semelhantes, as cenas cruciais se passam em cemitérios e a presença de um morto-vivo entre os personagens foram algumas constatações. “Drácula e Don Giovanni possuem um poder de atração magnética: ambos são física e mentalmente irresistíveis aos que os procuram. Isso emerge da narrativa, mas vai mais além, assumindo um quê de eternidade mítica, que não só afeta os leitores e amantes da ópera. Deixam de ser simples personagens, determinam um modo de vida”, afirma.
Além de Don Giovanni, outras quatro produções estão programadas até o fim do ano, sempre com a Orquestra Sinfônica Municipal. Em outubro, será a vez de Jupyra, de Francisco Braga, e Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, com regência de Victor Hugo Toro e direção cênica de Maestrini. Em novembro, será a vez de O Ouro do Reno, de Richard Wagner, com regência de Luiz Fernando Malheiro e direção cênica de André Heller-Lopes. O encerramento da temporada em dezembro, será com La Bohème, de Giacomo Puccini, regenciada por Neschling.
Movimento
Sob direção da talentosa Iracity Cardoso, o Balé da Cidade de São Paulo se prepara para apresentar mais um programa da temporada 2013. Desta vez, serão três peças. Abrupto., com a coreografia inédita de Alex Soares, ex-bailarino da companhia, trata de relações, afetivas ou não, confrontos e parcerias inesperadas. Dez bailarinos se movimentam por meio de música do estoniano Arvo Pärt – peça de 25 minutos.
Na sequência, duas grandes remontagens: Apocalipsis, do espanhol Victor Navarro, que foi criada para a companhia em 1976, e Cantares, do argentino Oscar Araiz, sobre a Rapsódia Espanhola, de Maurice Ravel, criada originalmente para o Ballet du Grand Théatre de Genève, em 1982, e remontada para a companhia, em 1984.
Apocalipsis reúne em cena 20 bailarinos em uma composição abstrata com música de John McLaughlin (movimentos e som ultrapassam o desgaste do tempo). Cantares é a última parte de um conjunto de quatro coreografias que formam a obra Ibérica. A inspiração partiu de vários autores espanhóis, especialmente Federico García Lorca. Certos movimentos e a dinâmica do folclore espanhol também estão presentes na obra.
As duas peças serão acompanhadas da Orquestra Sinfônica Musical, regida pelo maestro Luis Gustavo Petri. O espetáculo todo dura pouco mais de uma hora – cada coreografia tem, em média, 20 minutos de duração.
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