Normas sagradas e normas ignoradas

Livro sagrado, regra sagrada
Livro sagrado, regra sagrada

Meus caros, estou assombrado com a notícia de que grandes líderes da comunidade de judeus ortodoxos nos Estados Unidos assinaram um documento no qual reconhecem aos homossexuais o direito a serem tratados com respeito e dignidade, eis que também foram “criados à imagem e semelhança de Deus”. Isso é uma revolução em termos de judaísmo, e mesmo para o movimento homossexual. Não preciso explicar a vocês como são os judeus ortodoxos, a designação fala por si, lembro o filme Pecados da Carne , exibido nos cinemas há alguns meses, que mostra a relação entre dois deles, que viviam em Jerusalém, bem como o lindo Segredos Íntimos. Os livros sagrados continuam a condenar a homossexualidade, não está em pauta nenhuma liberação geral, mas a declaração pública de que é devido respeito aos homossexuais, com base nesse princípio básico, é fato sem precedentes, principalmente vindo da ala mais radical do judaísmo.

Em Israel, cujo Estado é laico, o movimento homossexual tem conquistado avanços significativos: 61% da população apoia o casamento gay, a comunidade é bastante cosmopolita e avançada, realiza paradas gays, mesmo que sob ruidosos protestos dos ortodoxos locais. Eu amo o exemplo da rabina Sharon Kleinbaum, de Nova York, lésbica assumida, que vive um relacionamento público com uma companheira, cujas filhas são criadas por ambas, e é considerada uma das 10 mais influentes lideranças judaicas americanas. Não sei detalhar o que, exatamente, levou os ortodoxos a aceitarem um movimento público desses, que abre um canal de diálogo com os homossexuais, acredito que seja a força e a visibilidade que ganhamos nos últimos anos, e a noção de que, mesmo entre eles, ortodoxos, há muitos homossexuais, impossível fugir a essa realidade. O fato é que até judeus ortodoxos avançaram em nossa direção.

Para mim, é impossível não traçar um paralelo com nossa Constituição Federal, cujo artigo 5º diz que “Todos são iguais perante a lei”, mas essa igualdade é pura fantasia, nos são negados diversos direitos livremente exercidos por heterossexuais, como é o caso do casamento. Judeus ortodoxos americanos impuseram respeito e dignidade a homossexuais, declarando que quem os constrange ou desrespeita está ofendendo a um princípio consignado em um livro sagrado. No Brasil, nenhuma lei condena a homofobia, contra nós podem fazer qualquer coisa, a Constituição Federal não vale nada. Um pouco de ortodoxia não nos faria mal nenhum. Abraços do Cavacanti.


Comentários

4 respostas para “Normas sagradas e normas ignoradas”

  1. Avatar de Tatto Marck
    Tatto Marck

    Pois é meu querido e simpático (porque não dizer) Lourenço, como um bom descendente de judeus alemães, fico a pensar se estivesse eu na Alemanha nazista… Claro: Aushwitz na certa!
    Já pensou: judeu e gay?
    Nós judeus precisamos deixar de ser TÃO PRECONCEITUOSOS e TÃO HIPÓCRITAS!
    Digo: Até que enfim não?
    Beijos a você e aos leitores todos.
    SHALOM GAYLERA!
    Tatto Marck

    1. Tatto, a humanidade precisa ser menos preconceituosa e hipócrita, mas não generalize. Lembre-se de comoe Berlim era antes de guerra, já escrevi sobre isso, http://www.revistabrasileiros.com.br/23b/2009/10/23/os-cabares-de-berlin/.
      Abraços do Cavalcanti

  2. Caríssimo,
    Fazia um tempão que não passava por seu blog.
    Está bem bonito, cheio de links e short cuts!PARABÉNS!!!

  3. Avatar de Eduardo Francisco
    Eduardo Francisco

    Olá Loureço, gosto muito dos seus textos. Revelam maturidade e bom senso. Qualidades que as vezes faltam nos blogs gays.

    Será que esse filme mencionado: A Carne é Fraca não teria outro nome? Não seria Pecado da Carne?
    ABÇS.
    Edú.

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