Março
A morte do cartunista Glauco chocou o Brasil. Fundador de uma comunidade do Santo Daime, o desenhista e seu filho, Raoni, foram mortos por um frequentador da instituição. André Toral, colaborador da Brasileiros com a seção de Quadrinhos, escreveu um pouco sobre o choque de receber a notícia da morte de uma pessoa do bem. Triste.
“É estranho como algumas mortes nos atinjem. Conhecia o Glauco muito superficialmente; conhecia bem o seu trabalho. Fui uma vez em uma comunidade do Daime e vi o Glauco, integrado, nas funções da sua igreja. Sei, por conhecidos comuns, que a comunidade céu de Maria teria sido fundada por ele e que se dedicava a ajudar e orientar pessoas. Muita gente achava seu rumo, encontrava apoio para deixar as drogas. Nada de bacanas da zona oeste à procura de emoções. Era uma coisa séria.
Ao que parece o Glauco foi morto por um desses frequentadores que ajudava. Não vou cometer a leviandade de dizer que o Glauco está em uma nuvem fofa, rindo dos acontecimentos. A morte foi um golpe, a família destruída, a mulher e a filha em estado de choque, a carreira interrompida.
Nós (eu, você, a comunidade) perdemos. Acordamos mais pobres. Conversemos com os amigos, vamos refletir com nossos filhos, cobremos justiça. Mas não podemos nos acostumar com a violência das balas e das opiniões dos ignorantes que certamente vão culpar a vítima e a comunidade Daime. Não podemos matar o Glauco outra vez. Eu, por minha parte, sinto que perdi um colega de profissão, alguém que gostava das mesmas coisas que eu. Estranho como certas mortes nos atinjem.”
* André Toral é historiador, antropólogo e professor universitário em São Paulo, SP. É colaborador da Brasileiros desde a edição 24.
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