Meus caros, o Ministério da Saúde modificou radicalmente os critérios para a aceitação de doadores de sangue, em todos os hemocentros do Brasil, mas agora não será mais assim. Nós, gays, éramos impedidos de doar, não importa que eventualmente tivéssemos em mãos os resultados de um exame provando que nosso sangue era puro e livre de qualquer contaminação. Gay não podia doar sangue, e ponto final, assim dizia a lei! O que fazer? O que eu mesmo fiz mais de uma vez: menti. Sempre fiz exames de sangue esporádicos, por mais que jamais tenha baixado a guarda, e sempre tenha usado camisinha. Pelo menos duas vezes ao ano eu refaço os exames. Por pelo menos três vezes, duas por solicitação da família de amigos em dificuldades, e outra para pagar uma promessa, sabendo por exames de sangue feitos previamente em bons laboratórios, que eu estava perfeitamente saudável, doei sangue, mas menti na triagem: declarei-me heterossexual. Não adiantaria discutir com as enfermeiras recepcionistas, para as quais gay era sinônimo de todas as doenças sexualmente transmissíveis imagináveis, que eu já tinha examinado meu próprio sangue, em um caríssimo laboratório particular. Gay era contaminado por presunção legal. Também não adiantaria alegar que o meu sangue doado seria re-examinado antes de ser repassado a qualquer outra pessoa, como o sangue de todos os heterossexuais, e isso consoante as mesmas disposições legais. Para o Ministério da Saúde, homossexualidade era impedimento, não importa o quanto os hemocentros estivessem desesperadamente necessitados de sangue.
Isso mudou, agora eu posso me declarar gay e doar sangue – mas – e o Diabo mora nas exceções, terei de declarar que não tive relações sexuais nos últimos 12 meses (tive!). Sou um cara responsável e bem informado, minha vida sexual é super salutar, faço meus exames há muitos anos por puro desencargo de consciência, há mais de uma década que nunca tive nenhuma má notícia nos resultados. Mentirei de novo? Meu sangue será re-examinado de qualquer maneira! Não, não vou pregar desobediência civil aos outros tratando-se de um assunto dessa seriedade. Só digo o seguinte: sejam responsáveis! Se você se expôs a risco, não vá expor os outros também. Mas sejam generosos, e doem sangue. É um ato de amor e compaixão que só quem já praticou sabe o quão gratificante pode ser. Homossexualidade não pode ser sinônimo de irresponsabilidade, e essa parte cabe a cada um de nós. Abraços do Cavalcanti
Deixe um comentário