João Hipólito, fotógrafo de Imbituba, no litoral catarinense, registrou há exatos 60 anos um momento crucial para a economia da cidade: a “chegada” de uma baleia-franca. Depois de arpoada e rebocada até a praia, ela estava prestes a ser processada, ou seja, teria a capa de gordura arrancada, retalhada e fervida. A prática vinha dos tempos do Brasil Colônia.
O óleo de baleia fazia iluminar os lampiões das cidades e servia como liga na argamassa das construções. As barbatanas viravam espartilhos. José Bonifácio, o Patriarca da Independência, reclamou, ainda em 1790: “Deve certo merecer também grande contemplação a perniciosa prática de matarem os filhotes de baleia, para assim arpoarem as mães com maior facilidade”.
Mesmo depois que os espartilhos caíram em desuso, a caça à baleia continuou no litoral brasileiro, em especial a busca pela baleia-franca, que é lenta e costuma nadar rente à costa. A armação de Imbituba foi uma das últimas instalações da indústria baleeira a serem desativadas no Sul do Brasil, em 1973. Hoje abriga um museu.
Conheci na cidade um antigo remador de baleeiro, o seu Cedolino Alexandre Matos. Há alguns anos, ele me contou que não sentia saudades da indústria baleeira. Para ganhar um dinheiro a mais, ele e os colegas ajudavam a retalhar a gordura e custavam para se livrar do cheiro, mesmo depois de jogar a roupa fora: “Semanas depois do serviço, a gente ainda fedia”.
Depois que a caça ao cetáceo foi proibida no Brasil, em 1987, baleias-franca e baleias jubarte começaram a ser avistadas em trechos da costa brasileira entre agosto e novembro, vindas do gélido entorno das ilhas Geórgia do Sul. Em águas mais tépidas, elas têm seus filhotes e os amamentam. Quando o verão está para chegar, todos voltam para casa.
No Brasil, a vida para as baleias melhorou muito, mas os perigos continuam, em forma de encalhes ou de rede de pescador. O turismo embarcado de observação também perturba os animais. Nesta temporada, no final de agosto, um filhote de jubarte foi visto boiando no mar e mais tarde chegou morto à praia da Joaquina, em Florianópolis. Tinha um pedaço de rede enrolado em sua cauda.
Em outras partes do mundo, a situação é pior. Japão, Noruega e Islândia não abrem mão da caça à baleia. Como existe uma moratória global à caça comercial, eles continuam a prática, sob o pretexto de fazerem “investigação científica”. Não por acaso, os três países são os principais lobistas contra a criação de um santuário de baleias no Atlântico Sul.
Deixe um comentário