Outro dia, no cabeleireiro, vi uma revista sobre Elizabeth Taylor. Era um texto que falava de atrizes antigas e comentei sobre Liz com a manicure, novinha e bonita:
– Até que você se parece um pouco com ela, mostrando a foto da atriz.
– Quem é Elizabeth… O que, hein?
Entreguei-lhe a revista, chocada com a possibilidade de alguém não conhecer tal ídolo. Então, perguntei ao restante da turma, todos mais ou menos com a idade da moça, e o único que sabia quem foi Liz era um rapaz meio gay. Ele disse que a mãe, costureira, na época da estrela, copiava as roupas dos filmes para as freguesas e elas usavam até coroa na cabeça para combinar com o vestido.
Eu vi a atriz, em Roma, na Piazza Navona, cercada de fotógrafos que prometiam ficar quietos se ela permitisse ser fotografada. O combinado era que ela gritasse “paparazzi” e batesse palmas para o início das fotos. Depois, deveria repetir os gestos para que eles parassem de fotografá-la.
Espalhados pelas praças também tinham os Rolling Stones, mas os fotógrafos preferiam Liz, talvez por que fosse mais difícil de encontrá-la – os Stones faziam shows pelas cidades e Liz não dava mole para ninguém.
Era uma época de celebridades hollywoodianas espalhadas pelo mundo afora e não atores televisivos, por exemplo, que só eram celebridades em seus países.
Uma noite, peguei o metrô com um amigo gay, olhei ao redor e vi que quem estava diante de mim, com um amigo também gay, era o ator Farley Granger, pelo qual eu tinha sido apaixonada quando adolescente. Ainda meio incrédula, me aproximei dele e disse:
– You look like Farley Granger.
E ele me respondeu:
– People get old!
Abri bem os olhos e disse:
– You are Farley Granger!
O que o fez rir e convidar a mim e ao meu amigo para irmos a uma boate gay, onde fomos dançar.
Nunca fui deslumbrada, mas sempre gostei de ver minhas paixões ao vivo e em cores, como Elvis que vi saindo do teatro, onde não tinha mais lugares para assisti-lo e só pude mandar-lhe um beijo. Os Beatles, que assisti ao show inteiro no Olympia, em Paris, e ainda fui falar com eles depois, sem gritos nem desmaios como fazem aqui com Roberto Carlos, que conheci também na RAI, em Roma, e tivemos um papo engraçado.
Aqui no Rio, um amigo me ligou dizendo que tinha encontrado um rapaz em Copacabana que perguntou se ele conhecia a Avenida Barata Ribeiro. Ele achou que tinha cara conhecida e perguntou qual era o nome dele. Ao que o rapaz respondeu: Leo. À noite, liguei a TV e vi Leonardo Di Capri com a Gisele Bündchen em uma churrascaria.
Uma turma e eu também fomos ver a estreia de um filme no Meridien, com Omar Sharif. Depois, saímos todos para o Chez Regine, ali em frente, e o ator disse ao porteiro para nos fazer entrar:
– They are all with me.
E o porteiro respondeu:
– I know them all, but who are you?
Estive agora em Roma, nos mesmos lugares de antigamente, onde não tem mais nenhuma celebridade e os próprios frequentadores de antigamente não vão mais.
*É atriz, atuou em mais de 50 filmes, 15 telenovelas e minisséries, além de peças de teatro. Também é cronista do Jornal do Brasil e autora do livro O Quebra-Cabeças (Imprensa Oficial, 2005), uma compilação de crônicas publicadas pelo jornal.
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