Ao que tudo indica, o diretor Hector Babenco está passando por uma nova fase na sua vida. Haja vista seu humor, verificado há pouco na coletiva para os jornalistas que estão cobrindo a 3ª edição do Paulínia Festival de Cinema.
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Bem humorado, durante quase uma hora ele respondeu e até elogiou o nível das perguntas. “Estou surpreso com a qualidade das perguntas de vocês. Estou cansando de perguntas de jornalistas que vão logo falando: ´Por que você fez esse filme?´. Não há como eu responder a esse tipo de pergunta”, brincou.
Veja os principais trechos da coletiva.
Sobre a exibição de O Beijo da Mulher Aranha, na noite de abertura do festival, ontem
“Já tinha visto esse ano, no Festival de Cannes. Ontem, ao vê-lo novamente, pensei: ´Meu Deus como estou defasado do meu tempo´. Mas quando fui para o hotel, pensei com calma, direito, e vi que o filme permaneceu bacana, envelheceu bem. Apesar de tê-lo feito de forma acadêmica, acho que era necessário fazê-lo desse jeito. A maneira que queria contar aquela história exigia isso”.
Cinema digital e cinema de película
“Vendo o filme aqui, exibido em película, e comparando com uma das exibições feitas em digital, em Cannes, este ano, vejo que o celuloide (película) está morto. O famigerado, o nefasto digital veio impor uma nova maneira de capturar as imagens, uma nova estética, no cinema hoje”.
A qualidade do filme O Beijo da Mulher Aranha
“O filme, mesmo feito de forma precária, pois não tínhamos os equipamentos que temos hoje, é muito bom. E isso não foi a mão de Deus, que não estava lá, mas sim as mãos dos profissionais que trabalharam no filme”. (risos)
Literatura latino-americana
“A literatura latino-americana sempre foi excelente e mesmo escritores marginalizados, como Manuel Puig (autor do livro O Beijo da Mulher Aranha), têm muita qualidade. Uma vez andava pelas margens do Rio da Prata, com Puig, e falávamos sobre os escritores como Onetti, Cortázar, Borges e ele olhou para mim e disse: ´O rio de La Prata deveria chamar rio de Las Letras´”.
Manuel Puig
“Demorei muito a convencê-lo a me vender os direitos de adaptação do seu livro. Lembro que levava para ele, toda vez que ia visitá-lo, bombons, caixinha de chocolate. Ele nunca me agradecia. Era um ser muito egoísta e só nos cedeu os direitos do livro depois que pagamos o que ele sonhava em receber. Mas ele não ficou satisfeito com meu filme. Acho que nunca chegou a vê-lo. O que o deixaria realmente feliz seria adaptar o seu livro para a Broadway”.
Entrevista com a revista Playboy
“Engraçado que a revista Playboy nunca quis me entrevistar. Eles nunca me procuraram para eu dar uma entrevista. Por que será?”. (risos)
Pouco dinheiro com O Beijo da Mulher Aranha
“Nunca ganhei dinheiro com os direitos do filme. Lembro-me que na época vendi os direitos para um cara nos Estados Unidos, que pagou uma quantia de US$ 1 milhão para comercializar o filme em todo mundo, o que achei uma fortuna. Mas ele ganhou muito mais que isso. Para vocês terem uma ideia, só com os direitos do lançamento do filme em vídeo (não existia DVD na época do lançamento), nos EUA ele recuperou o dinheiro gasto”
Raul Julia
“Foi uma dificuldade imensa chegar ao elenco definitivo do filme. Lembro que um dia, na casa de Burt Lancaster, que iria fazer o papel de Molina (o papel acabou sendo interpretado por William Hurt), ele me falou do ator de teatro talentosíssimo, que era o Raul Julia. Disse que tinha uma voz poderosa e acabou ficando com o papel”.
Burt Lancaster
“Me perguntaram por que eu dediquei a sessão de ontem ao ator Burt Lancaster. Agora vos respondo: Ele foi quem me indicou o Raul Julia, que ao ter o papel garantido, me falou do William Hurt, que, por sua vez, fez o papel do Molina. Acho que Lancaster não aceitou o papel do homossexual Molina. Na época, alegou problemas de saúde para não fazer o filme, mas acho que foram causas de conflitos interiores sobre sua sexualidade”.
William Hurt
“Quando viajei para Nova York para fazer uma leitura do filme com o ator William Hurt, que tinha se oferecido alguns meses por telefone, lembro que desci do táxi em frente a casa do Raul Julia, pois a leitura seria lá, e coincidentemente, naquela mesma hora o William Hurt desceu também de um táxi. Fiquei olhando ele sair do táxi e se encaminhar a entrada do edifício onde morava Raul Julia. Prestei atenção naquele homem louro, de boa estatura e pensei. ´Porra, como ele, um cowboy de propaganda de cigarro Marlboro, vai interpretar um homossexual?’ Quando subi e ele começou a ler as suas falas, fiquei enlouquecido com a sua maneira fragilizada, delicada, vergonhosa, de compor o personagem do Molina. Me apaixonei por ele na hora”.
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