Novidades sobre a ação da serotonina no cérebro

A serotonina talvez seja a molécula mais popular do corpo humano. Produzida pelo organismo, é definida como uma das principais substâncias mediadoras da comunicação entre as células nervosas. Sua fama se consolidou a partir da década de 1980, com o lançamento de um medicamento (a fluoxetina) que bloqueava a reabsorção da substância e oferecia efeitos colaterais mais brancos, inaugurando uma nova geração de antidepressivos. 

Desde então, dezenas de estudos comprovaram, por  exemplo, que ela também exerce papel importante no controle do sono, dos movimentos e de comportamentos cruciais para a sobrevivência dos animais. 

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A presença ou falta de motivação interfere nas reações ao estímulo da serotonina. Ilustração: Gil Costa.

Agora, um novo trabalho promete revelar mais sobre os caminhos da serotonina do corpo. Feita em ratinhos, uma investigação conduzida por neurocientistas do Centro Champolimaud, em Portugal, apontou que a molécula participa de mecanismos ligados de alguma forma à presença ou falta de motivação. O estudo foi publicado pela revista online eLife. 

 Os cientistas estimularam a produção de serotonina em neurônios que ficam abrigados em uma área do cérebro chamada núcleo da rafe (a parte mais antiga em termos evolutivos). Ali, as células nervosas produzem e liberam a substância e também “enxugam” o excesso. Eles começaram por provocar “picos” de serotonina ao estimularem a sua produção com pulsos de luz. O estímulo tinha duração de três segundos e foi ministrado a cada dez segundos, em sequências com intervalos de cinco minutos entre si.

Os ratinhos, que ficavam em uma caixa, eram livres para explorar o seu ambiente após o estímulo. Nestas condições, o comportamento espontâneo mais frequente esperado desse animal é andar, erguer-se nas patas traseiras, limpar-se, cavar buracos ou ficar ainda ficar parado, mas alerta. O que os cientistas viram, no entanto, é que os ratinhos estimulados reduziam em cerca de 50% a velocidade de locomoção.  “Os animais agiam como se estivessem desmotivados”, diz Zach Mainen, que liderou o estudo.

Observando os animais, os cientistas entenderam que a estimulação só afetava a velocidade de locomoção dos ratinhos que não estavam empenhados em alguma tarefa particularmente motivadora, como procurar comida. “Com as estimulações, os animais reduzem a sua atividade motora, mas unicamente quando estão explorando um ambiente novo sem objetivos associados”, explica a co-autora Patrícia Correia, que realizou as experiências e que, com o seu colega (e também co-autor) Eran Lottem, analisou os resultados.

“Já a mesma estimulação não tem qualquer efeito se o animal estiver concentrado numa tarefa específica como, por exemplo, correr para obter uma recompensa. O nosso estudo revela que a serotonina tem um efeito direto na locomoção/exploração e eventual motivação do animal”, disse Correia.

Segundo os neurocientistas, até recentemente era muito complicado avaliar os mecanismos de ação da serotonina. Não havia um meio específico para observar o impacto de estímulos à produção cerebral no comportamento durante a estimulação. Hoje, isso é possível graças à técnica chamada optogenética, na qual é utilizada uma luz para estimular ou silenciar os neurônios. 

Mais um efeito foi descoberto ao mudar o padrão dos estímulos. Para isso, os ratinhos foram estimulados durante 24 dias consecutivos. E foi aí que veio a surpresa. “A estimulação prolongada desencadeou um segundo efeito. Os ratinhos ficaram globalmente mais ativos”, explica Patrícia Correia. A existência deste segundo efeito poderá ajudar a entender, por exemplo, por que os antidepressivos que inibem a recaptação da serotonina demoram cerca de três semanas para atuar. 


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