Novo São Paulo entra na disputa

Que belo domingão diante da TV! Faz muito tempo não via um jogo tão emocionante como os 4 a 3 que o novo São Paulo meteu no Santos, na raça, na bola e com toda justiça, apesar do juiz e do Richarlyson (até quando?). O mesmo não se pode dizer do burocrático debate dos presidenciáveis, que me deu sono e vai ficar para o final deste post.

Era o encontro entre o melhor time do futebol brasileiro em 2010 e um dos piores do Brasileirão, ameaçado de entrar na zona do rebaixamento até duas semanas atrás. Só este ano, nas quatro partidas disputadas entre Santos e São Paulo, o time da Vila Belmiro havia vencido todas as quatro. Quer dizer, as perspectivas eram as piores possíveis.

Ainda por cima, tomamos um gol logo aos três minutos, em mais uma largada de bola do histórico Rogério Ceni, que depois se recuperou e foi um dos heróis tricolores. Daí para a frente, o São Paulo de Paulo César Cerpegiani se lançou ao ataque como um faminto se jogando sobre um prato de comida e, em apenas 20 minutos de jogo, já estava 3 a 1 para o tricolor do Morumbi, com três gols de Dagoberto (o terceiro, com a ajuda do lateral Pará).

Na avenida deixada do lado esquerdo da defesa por Richarlyson, um craque que não marca, não arma e não chuta no gol, o Santos ainda encontrou o seu segundo gol antes do primeiro tempo acabar.

Sai técnico, entra técnico, mudam meio time, compram, promovem e vendem jogadores, mas o lugar dele está sempre garantido. Vive reclamando dos juízes, corre para todo lado, entra em todas as divididas para quebrar, arma os contra-ataques dos adversários, e ninguém tem coragem de tirá-lo do time.

Não deu outra: já com cartão amarelo por reclamação escandalosa no primeiro tempo, aos 12 minutos do segundo o descontrolado e insubstituível Richarlyson deu uma entrada criminosa em Zé Love, e já saiu andando e xingando para os vestiários, antes mesmo de o juiz lhe mostrar o cartão vermelho.

O pior é que Carpegiani tinha no banco outro lateral esquerdo, o Diogo, um dos bons garotos promovidos das equipes de base, que já deveria estar jogando desde o começo. Tanto isso é óbvio, que foi só ele entrar em campo e a defesa se ajustou, saiu do sufoco, e o São Paulo, mesmo com um jogador a menos, foi novamente ao ataque, perdendo várias chances de marcar antes de chegar ao gol da vitória, no último segundo dos descontos, com o lateral Jean, que já tinha perdido dois gols feitos.

Como foi mais uma vez expulso, não corremos o risco de contar com Richarlyson no próximo domingo, no jogo contra o Ceará, em Fortaleza. Só assim para ele não entrar em campo. Qual será o mistério?

No resto, em poucos jogos comandando a equipe, Carpegiani já deu um jeito no São Paulo, que vinha caindo pelas tabelas, e agora entra novamente na disputa por uma vaga na Libertadores, pelo menos. Em vez de vergonha, agora a gente sente alegria de ver este time jogar.

***

Em tempo 1:

Recebi, no fim de semana, mensagem de um velho amigo jornalista de Brasília, muito bem informado sobre os bastidores das campanhas presidenciais. A seu pedido, não o identifico, mas acho que vale a pena publicar seu texto, para conhecimento dos leitores, com uma visão do atual momento da disputa que diverge da análise feita por mim no post “Terceira onda favorece Serra”, publicado na semana passada.

“Camarada,

Como diria aquele finado jornalista, não li, mas me contaram.

Lembra quando a gente falava sobre a campanha da Dilma um ano atrás? O que dizíamos?

1) Vai ser uma eleição dura, muito provavelmente decidida no segundo turno.
2) As condições objetivas favorecem amplamente o governo: a economia, a ascensão social de milhões, a liderança do presidente Lula.
3) As condições subjetivas também: recuperação da auto-estima, as perspectivas de futuro, o respeito externo conquistado pelo Brasil e por Lula.
4) Diante disso, restará ao adversário tentar desconstruir e desqualificar a candidata. É a única chance que eles têm.
5) Sendo José Serra este adversário, todos os recursos escusos serão mobilizados, no mundo e no submundo da informação.
6) Será, por isso mesmo, uma eleição suja, muito suja, talvez mais suja que o segundo turno de 1989.

Lembrou direitinho? É exatamente o que está ocorrendo desde as últimas semanas do primeiro turno, com mais ênfase no início do segundo. O crescimento da Dilma entre dezembro e agosto, período em que ela passou de menos de 20% para cerca de 50% das intenções de voto, não foi uma onda.

Foi uma construção sustentada na progressiva identificação do nome de Dilma ao papel que ela desempenhou no governo Lula, aprovado por 80% dos brasileiros.

Para isso contribuíram a agenda social e regional da candidata, centenas de entrevistas a emissoras de rádio, tevês e jornais locais, os programas nacionais e regionais do PT, os momentos de visibilidade em torno do encontro e da convenção do PT, a agenda de debates e entrevistas em rede nacional, a costura das alianças políticas, a propaganda na televisão e no rádio, a partir de agosto, e o apoio entusiástico, generoso e qualificado do presidente Lula, o maior e melhor cabo eleitoral que um brasileiro poderia ter.

Esta construção foi o alvo de uma das mais sórdidas campanhas de desqualificação que eu vi nos meus 30 e poucos anos de jornalismo. Orquestrada e dirigida cientificamente por pessoas profundamente vocacionadas para esse tipo de objetivo. Você acompanhou o Lula nos anos mais difíceis e sabe melhor do que eu do que estamos falando.

Mesmo assim, ela chegou ao primeiro turno com 47% das intenções de voto. Quando a eleição finalmente se transformou no que sempre imaginamos (mas ainda não tínhamos vivido, por causa da ilusão de vitória no primeiro turno), foi a Dilma, elazinha, quem botou ordem na confusão. Foi a participação corajosa da minha candidata no debate da Band que surpreendeu o adversário, reposicionou o debate nos limites da política e alertou o país para a gravidade da decisão que vamos tomar em 31 de outubro.

Vou resumir o que ela fez em quatro pontos:

1) Denunciou a campanha de ódio e as mentiras sórdidas que José Serra difunde, manipulando o preconceito e a religiosidade de setores da população;
2) Denunciou o plano dos tucanos de entregar o pré-sal às petroleiras estrangeiras, pelas mão de José Serra, o chefe das privatizações de FHC (você se lembrava que o Zé Leilão foi o presidente do Conselho Nacional de Desestatização? Pois ela nunca esqueceu).
3) Denunciou a hipocrisia de um candidato que promete e não cumpre, o que põe em risco a continuidade dos programas sociais do governo Lula.
4) De quebra, espetou na biografia do “homem sem escândalos” o caso Paulo Preto – e só assim a mídia amestrada passou a tratar do assunto.

O nome disso é liderança. Dilma ditou a estratégia que, na velocidade possível, vai orientando a campanha, animando a militância e engajando os muitos setores sociais que identificaram o risco que José Serra e sua campanha de ódio e divisão representam para o país e para a democracia.

Passadas duas semanas, Serra não conseguiu virar a eleição. A candidatura da Dilma não desmanchou na praia, como acontece com as ondas em São Sebastião.

A eleição está mesmo dura, camarada, como nós esperávamos. A Dilma está fazendo a parte dela. Cada vez mais gente está fazendo sua parte.

Um abraço do seu xará”

***

Em tempo 2:

Em razão das justas comemorações pela vitória do São Paulo contra o Santos e, devido ao adiantado da hora, consegui acompanhar apenas parcialmente o debate entre Serra e Dilma no domingo à noite na Rede TV!, sob a competente moderação do meu amigo Kennedy Alencar.

Pelo que vi, nada aconteceu que mereça maiores comentários. A esta altura do campeonato, cada candidato está cada vez mais convencido de que as suas propostas são as melhores para o país. E os eleitores já devem ter formado a sua própria opinião. A registrar, apenas, o fato de que,desta vez, ninguém falou de aborto. Já é um avanço.


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