Brasileiros, número 13, edição do mês de agosto. Por falar em superstição, em janeiro de 1990 fui à Itália fotografar a sede da Copa do Mundo, que aconteceria em julho daquele ano. No trabalho – um périplo de carro de Nápoles a Turim, de sul a norte, passando pela Umbria, terra de meus avós maternos – fui acompanhado por Osmar Freitas Jr., jornalista, amigo quase irmão. Hoje Osmar escreve para o Jornal do Brasil e, aqui na Brasileiros, é o responsável por hilariantes crônicas mensais como a dos cobradores dos call centers, desta edição. De uma maneira bem-humorada, Osmar é supersticioso. E eu também. E ambos gostamos de futebol. Portanto, a viagem além de trabalho era de torcida. Fazia tempo que não víamos o Brasil ganhar. A última vitória em Copa tinha sido em 1970, no México. Vinte anos atrás.

Em Turim, nas obras do Stadio Delle Alpi, onde o Brasil jogaria a primeira fase, Osmar apanhou uma pedrinha no campo e guardou como patuá para dar sorte. Em Gubbio, na Umbria, fomos ao hotel em que ficaria a seleção. Havia por ali um gato preto que teimava em aparecer nas fotos. Osmar foi falar com o dono do hotel, que, meio constrangido, disse que mesmo sendo o gato de estimação iria providenciar para que o felino não fizesse parte da comitiva de recepção à seleção canarinho. Assim foi feito. Quando os meninos de Sebastião Lazaroni chegaram lá não havia gato nenhum, muito menos preto. Resumo da ópera: patuá no bolso e gato preto escorraçado, nem assim o Brasil passou das oitavas-de-final. Perdeu da Argentina, 1 x 0, gol de Caniggia.

Repetimos a dupla de fotógrafo e repórter na Copa seguinte, em 1994 nos Estados Unidos, agora para a revista IstoÉ. Sem patuá e sem gato pra espantar, o Brasil teve melhor sorte que na Itália e foi vencendo, empatando e caminhando até chegar à final contra a própria Itália. Aí então a dupla de jornalistas torcedores não resistiu e comprou uma elegante camisa azul da seleção italiana com o número 10 estampado nas costas junto com as 13 letras que formavam o nome Roberto Baggio, o craque do time. Dois dias antes da final, em Los Angeles, no Rose Bowl, a belíssima camisa foi para a geladeira do hotel dos jornalistas torcedores e lá ficou gelando, gelando, gelando.

O jogo? Bem, foi para os pênaltis e o Brasil ganhou. Foi tetracampeão. E quem errou o último pênalti italiano foi o dono da camisa 10.

As duas histórias mostram que, levada no bom humor, superstição, além de não ter muita lógica, não faz mal a ninguém. Ou a quase ninguém. Com todo o respeito.


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