Morreu ontem, em Buenos Aires, o professor, crítico e curador de artes-visuais Jorge Glusberg. Para Leonor Amarante, editora da Arte!Brasileiros e especialista em arte contemporânea latino-americana, o renomado crítico foi “um dos principais responsáveis por inserir a produção contemporânea argentina no mapa mundial”.
Nascido em 1932, Glusberg completaria 80 anos em 23 de setembro. Desde 1968, ele dirigia o Centro de Arte y Comunicación – CAYC, em Buenos Aires, celeiro de uma nova geração de artistas argentinos que propiciou a formação do coletivo conhecido como Grupo de Los Trece (Grupo dos Treze), que reuniu os artistas Jacques Bedel, Luís Benedit, Dujovny Gregorio, Gizburg Carlos, Víctor Grippo, Jorge González Mir, Marotta Vicente, Pazos Luís, Portillos Alfredo, Juan Carlos Romero, Julio Teich, Horacio Zabala e Alberto Pellegrino.
Em 1985, Glusberg fundou a Bienal Internacional de Arquitectura de Buenos Aires, um importante fórum de discussões entre profissionais, artistas e intelectuais. Entre 1994 e 2003, ele dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), de Buenos Aires. Autor de inúmeros livros dedicados às artes visuais e a arquitetura – como Mitos y Magias Del Fuego, El Oro y El Arte, Origenes de La Modernidad e A Arte da Performance, célebre por aqui – Glusberg foi também professor da New York Universisty, nos Estados Unidos.
Controverso, em 1971, na ocasião da XI Bienal Internacional de São Paulo, ele foi convidado para trazer, sob sua curadoria, a mostra Art Systems, que reuniria artistas argentinos para exporem suas obras em uma área de 4.500 m². Recusou o convite, alegando que a liberdade de expressão não era respeitada no Brasil. Vivíamos, por aqui, dias tenebrosos, sob o comando do General Médici.
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Seis anos mais tarde, na XIV edição da Bienal, Glusberg trouxe o Grupo de Los Trece para expor a mega-instalação Signos em Eco-Sistemas Artificiais. A trupe foi consagrada como a vencedora do Grande Prêmio da Bienal, façanha que rendeu à Argentina o cobiçado mérito de ser o primeiro país Latino-Americano a receber o prêmio máximo da mostra. Frustrado com o resultado, o artista brasileiro Franz Kracjberg demonstrou extrema indignação e alegou que os artistas argentinos eram ricos e financiados por um magnata, o próprio Glusberg, que rechaçou as críticas: “Claro que viemos a São Paulo para ganhar. Nosso projeto demorou vários meses para ser concluído e custou cerca de 17 mil dólares, cifra superior ao prêmio, que foi de 12,5 mil. Para não correr riscos, trouxemos tudo da Argentina: montador, eletricista e todo o aparato técnico exigido. Tinha de dar certo e deu”.
O arquiteto, pintor e escultor Jacques Bedel, um dos nomes fortes do Grupo de Los Trece, fez coro, em defesa de Glusberg: “Nossa proposta tem quase dez anos. Sensivelmente latino-americana, é conhecida em vários países. Não se trata de um grupo de artistas ricos dirigido por um mecenas. Somos profissionais que trabalham com muito esforço e alguns de nós, até mesmo, com dificuldades financeiras. Quanto a Glusberg, não é nenhum magnata, mas um crítico empenhado em prover a arte latino-americana, e ele faz isso com esforço próprio”. O depoimento de Bedel sintetiza aquela que talvez tenha sido a maior faceta de Glusberg, sobretudo, um ferrenho entusiasta e defensor da arte argentina e latino-americana.
Para o performático artista multimídia José Roberto Aguilar – que em 1978 participou do Festival de Videoarte de Tóquio, a convite de Glusberg – o argentino deixa um legado de pioneirismo e engajamento: “Sem dúvida, uma imensa perda. Nos anos 1970, Glusberg foi um dos mentores que ajudou a colocar a videoarte e a videoperformance em evidência na América Latina e no mundo. Através do CAYC, ele foi uma das figuras mais importantes para a arte Argentina. Glusberg foi um grande teórico, um grande pensador e uma pessoa altamente generosa. Deixa uma vácuo enorme”, lamenta Aguilar.
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