O adeus de Nelson Jacobina

Jorge Mautner (à esquerda) e Nelson Jacobina, no Teatro Oficina em São Paulo

“Morre-se assim/Como se faz um atchim/E de supetão/Lá vem o rabecão”, diz o refrão de Morre-se Assim, do álbum em que Jorge Mautner dividiu interpretações com Caetano Veloso, Eu Não Peço Desculpa, de 2002. A canção, que discorre com leveza sobre a inevitabilidade da morte, é uma das dezenas de parcerias de Mautner e Nelson Jacobina. Sereno, Mautner sabia que – perante a fragilidade do inseparável amigo Nelson, há 15 anos lutando contra um câncer abaixo do queixo – a qualquer momento poderia perdê-lo.

Nelson fez seu último show ao lado do amigo, no dia 26 de maio, em Jacareí, no interior de São Paulo. Voltou para o Rio de Janeiro e foi internado no Hospital Pró-Cardíaco, na manhã seguinte ao show, com um quadro recorrente de insuficiência respiratória. Horas mais tarde, o músico sofreu uma metástase (quando o câncer rapidamente se espalha por órgãos vitais) e perdeu a batalha, aos 58 anos, quatro dias depois da internação.

Carioca, Nelson Jacobina integrou, ao lado do baixista Arnaldo Brandão e do baterista Vinicius Cantuária, a Banda Atômica, trio de rock que serviu de banda de apoio de Jorge Mautner, a partir de 1970. Nesses 42 anos, eles nunca mais se separaram. Ao lado de Jorge, Nelson registrou álbuns que marcaram os anos 1970, como Para Iluminar a Cidade (1972), gravado ao vivo no Teatro Opinião – quando Nelson ainda era conhecido pelo apelido Carneiro, uma referência aos enormes cabelos cacheados – e o homônimo Jorge Mautner (1974), que teve direção musical do amigo Gilberto Gil e trazia o clássico Maracatu Atômico, regravado pelo pianista Osmar Milito, depois pelo próprio Gil, e nos anos 1990, o carro-chefe do álbum Afrociberdelia, que consolidou a Nação Zumbi, de Chico Science, como uma das bandas mais expressivas daquela década. Influência para gerações de músicos, Nelson, que também integrava a trupe da Orquestra Imperial, era dono de uma técnica que, indistintamente, aliava as sutilezas harmônicas do violão e o despojamento enérgico da guitarra. Elementos de rock, bossa nova, samba, baião e folk, vinham à tona quando ele empunhava as seis cordas dos dois instrumentos.

Ao som do violino do amigo Mautner, Nelson foi enterrado no dia 31 de maio, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Personagem central da história do amigo, ele integrou as filmagens do documentário, Jorge Mautner – o Filho do Holocausto, de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, ainda sem previsão de lançamento nos cinemas.


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