Morreu na manhã de hoje, 1 de setembro, no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, aos 86 anos, o arquiteto e designer Sergio Rodrigues. Contemporâneo de Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Joaquim Tenreiro, José Zanine Caldas, Jorge Hue e Jorge Zalszupin, Rodrigues também teve papel central para o design de interiores de Brasília e começou a carreira como arquiteto em 1953, ao lado de David Azambuja, Flávio Régis do Nascimento e Olavo Redig de Campos, no projeto de construção do Centro Cívico de Curitiba, no Paraná, um dos marcos da arquitetura moderna no País.
Em uma carreira prolífica, de mais de seis décadas de criações, Rodrigues tornou-se notório sobretudo como designer de móveis que herdou elementos estéticos de escolas como a Bauhaus, mas relativizou o rigor formal de mestres como Le Corbusier e Mies van der Rohe, a serviço de uma produção com “personalidade” brasileira. Em 1957, veio ao mercado sua mais cultuada criação, a poltrona Mole. Quatro anos mais tarde, em 1961, o móvel foi premiado na Bienal de Cantu, na Itália. Conhecida fora do País como Sheriff, a poltrona é um dos itens do design brasileiro que compõem a coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York – MoMA. Rodrigues fez uso recorrente de madeiras nobres nativas e palha, dando a suas criações um toque inconfundível de brasilidade. Característica acentuada na poltrona Mole, feita com estrutura robusta em jacarandá, cintas de couro e generosos assentos e encostos de couro.
Em 1955, Rodrigues ampliou sua escala de produção, ao fundar o estúdio e a loja Oca. Até 1968, quando encerrou as atividades do Oca, o designer já havia acumulado mais de mil criações. Entre 1968 e 1972, voltou a atuar em seu ateliê e se dedicou a projetos exclusivos para clientes como a Embaixada do Brasil em Roma, o Palácio do Itamaraty e o Teatro Nacional de Brasília. Em 1973, retomando a produção em maior escala, o designer montou em Botafogo, no Rio de Janeiro, a empresa Sergio Rodrigues Arquitetos e desenvolveu projetos para residências, escritórios e redes hoteleiras, além de retomar a produção de casas pré-fabricadas em madeira (iniciada na Oca) e superar os 250 projetos de residências.
O designer era neto do jornalista Mário Rodrigues, criador do jornal A Crítica, sobrinho do escritor Nelson Rodrigues e filho do ilustrador Roberto Rodrigues, irmão de Nelson, assassinado, aos 23 anos, pela jornalista Sylvia Serafim Thibau, na redação de A Crítica. No dia do crime, o jornal havia publicado uma nota acusando Sylvia de adultério. O texto foi impresso com ilustração de Roberto, e Sylvia, que pretendia se vingar de Mário Rodrigues, com a ausência deste, acabou por assassinar Roberto.
Apesar do pouco convívio com o pai, o próprio Sergio Rodrigues afirmava que herdou dele a paixão pelo desenho, predicado de Roberto enaltecido até mesmo por Candido Portinari, admirador confesso do ex-ilustrador de A Crítica. Em entrevista ao portal Arco, concedida em 2003, questionado qual era sua maior paixão, a madeira ou o desenho, Rodrigues enfatizou a herança genética para argumentar sua resposta: “Meu pai, que morreu quando eu tinha dois anos era, segundo Pietro Maria Bardi, o elo que faltava entre o art déco e o modernismo. Dele recebi como herança a paixão pelo desenho. E claro que prefiro o desenho à madeira. Se não tiver a madeira, parto para o plástico, para a estrutura metálica, mas sem o desenho não faço nada. Mas eu gosto dos dois juntos”.
Sergio Rodrigues deixa esposa e três filhos. Anunciada há pouco, a causa de sua morte foi insuficiência hepática. O designer será cremado na próxima quarta-feira, 3 de setembro, das 9h às 14h, na Capela II do Memorial do Carmo, no Caju, região central do Rio de Janeiro.
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