Para quem espera encontrar histórias tradicionais, convencionais, com narrativas típicas de um romance em que belos e galantes rapazes resgatam frágeis e indefesas mocinhas e lhes declaram amor eterno, recomenda-se procurar outros títulos que não aqueles oferecidos pelo projeto Amores Expressos. O inesperado aguarda os leitores na vigorosa narrativa de Bernardo Carvalho, um dos autores que participa do projeto e que há pouco lançou seu romance O Filho da Mãe. Integrante da primeira leva a sair da empreitada literária e já na sua segunda edição, o autor carioca que há anos adotou São Paulo declarou sobre o perigo do amor e seus clichês: “Caso Paris fosse a minha cidade-destino, eu teria recusado. Aceitei participar pelo desafio de estar numa cidade totalmente estranha a mim, São Petersburgo, sem as armadilhas presentes na capital parisiense”.
Serão em nosso tempo os amores descartáveis e de rápida fruição? Num mundo cada vez menos sólido, de amores líquidos, como percebidos pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, uma das referências do pensamento contemporâneo, estarão os vínculos humanos se tornando mais frágeis e voláteis, em que tudo se fragmenta, até mesmo as identidades? Esse movimento de incertezas também se reflete na líquida produção literária atual, em que não há movimentos uniformes, manifestos ou modelos a seguir. Uma das marcas que definem a literatura da atualidade é a multiplicidade de estéticas e propostas que convivem no mesmo tempo e espaço.
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A partir desse panorama, Rodrigo Teixeira, da produtora independente RT Features, reuniu 17 autores e convidou-os a passar um mês em 17 cidades diferentes com a missão de, baseados nessa experiência, produzirem uma história de amor.
“Toda a ideia desse projeto se legitima porque nada melhor para um escritor (ou pelo menos para mim) do que a oportunidade de tomar um pouco de distância de tudo que o precedeu até então. O que chamamos de inspiração tem muito a ver com conseguir estranhar a vida por um instante – não mais reconhecê-la e, apavorado, ter de lidar com isso. Escrevo porque a literatura é minha maneira de expressar esse estranhamento. Eu poderia guardá-lo, mas não consigo. O estranhamento alheio pode ser pertinente ou impertinente. Meu desafio é tornar o meu estranhamento o mais pertinente possível para o leitor. E isso é um processo violento, que recusa qualquer idealização”, explica o escritor Daniel Galera, autor de Cordilheira.
Os livros resultantes do projeto serão publicados pela Companhia das Letras, que já prepara os próximos lançamentos. João Paulo Cuenca, coordenador do projeto e um dos escritores, não esconde seu entusiasmo: “Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida”.
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