Até a eleição de Obama para a Casa Branca, Colin Powell foi provavelmente o negro que ocupou o mais alto cargo público de seu país, sendo Secretário de Estado durante o governo de George W. Bush, posição à qual renunciou por não se afinar com a “turma” da Casa Branca de então. Um dos militares mais brilhantes da história americana, Powell sempre foi cotado para ser o primeiro presidente negro, os apresentadores do programa Manhattan Connection apostavam firmemente nele, mas queimou-se demais servindo aos republicanos. Prestou-se ao papelão de justificar a segunda guerra do golfo apresentando provas falsas à ONU, mesmo que visivelmente constrangido na ocasião e renunciando em seguida, mas continuou sendo uma das principais referências americanas das últimas décadas.
Ontem, Powell anunciou publicamente seu apoio à derrubada da política olimpicamente hipócrita do don’t ask, don’t tell (DADT), a qual constrange a participação de homossexuais nas forças armadas americanas, como se lá não estivéssemos desde o início dos tempos. No seu discurso anual à nação, Obama anunciou que cumpriria sua promessa de campanha, e lutaria para derrubar esta lei. Muitos duvidavam, mas, anteontem, os dois mais graduados assessores militares da Casa Branca declararam, perante o Congresso, que lutarão com o presidente. Se Obama surpreendeu, o apoio aos gays vindo de Colin Powell, grande cardeal dos conservadores, deu um susto no mundo inteiro. Pelos seus evidentes méritos pessoais, Powell sempre foi visto como um anjo bom dentre os republicanos, partido ao qual nunca se filiou de fato. É conveniente lembrar que a hipocrisia do DADT foi criada pelo democrata Bill Clinton, marido da atual Secretária de Estado Hillary, pois ele, ocupado com suas estagiárias, não tinha coragem de enfrentar os conservadores. A hipocrisia começou com os Clinton, e parece que pode ser derrubada por Obama, com a ajuda até mesmo de conservadores como Colin Powell. Sempre houve algo de podre naquele reino da Dinamarca, nenhum dos partidos é exatamente limpo, mas, agora, algo parece estar mudando. Será sonhar demais? Em tempo: no Brasil, o presidente Lula acaba de nomear, com aprovação do Congresso brasileiro, um general e um almirante, ambos homofóbicos, para o Superior Tribunal Militar.
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