O armário dos pais

Queridos, o caderno Folhateen de hoje traz uma matéria sobre filhos cujos pais saíram do armário, contando-lhes que eram gays quando eles já tinham certa idade. Fácil? Lógico que não, essa não é uma questão fácil para ninguém, principalmente para jovens, que ainda não formaram suas personalidades. É preciso tomar cuidado para não cair na armadilha dos estereótipos, nem nas generalizações preconceituosas, dizendo que todos os jovens reagirão dessa forma ou de outra e, finalmente,  trazer para os já carregados ombros dos gays mais esse ônus e culpa. Atentem para o fato de que estamos falando de jovens que descobrem a homossexualidade do pai ou da mãe, quando já contam com certa idade. Crianças adotadas por homossexuais já crescem com essa realidade, e são preparados desde cedo para enfrentar os desafios que a questão lhes trará. Trata-se de um processo de Edith Modesto ao contrário. Refiro-me ao livro que discorre sobre o sofrimento de certos pais quando ficam sabendo que os filhos são homossexuais, e então “vivem um luto”, por verem frustrados os seus sonhos de vida para o filho,  etc. Já escrevi sobre isso.

A questão agora é a inversa. Não acho que nenhum pai esteja proibido de assumir sua homossexualidade, e ser feliz, unicamente em função de seus filhos. Pai infeliz, principalmente por conta de uma limitação imposta pelos filhos, vai acabar tornando-os infelizes, a conta virá, cedo ou tarde. Sair do armário sempre é difícil. Se há filhos na história deve-se ter, sim, uma atenção especial para com eles. Uma busca de apoio profissional, psicológico, pode ser necessária, coisa que qualquer pai homossexual razoavelmente equilibrado deve prever.

Na verdade, penso eu, não existem regras rígidas, iguais para todos. Ainda mais nos dias de hoje, quando as novas gerações veem a homossexualidade com outros olhos, as coisas tendem a ser mais fáceis. Eu resumiria da seguinte forma: pais equilibrados, que amam seus filhos, geram filhos equilibrados e felizes, a sexualidade de qualquer um deles será bem trabalhada. Quanto aos manuais de regras, tipo “manual do proprietário”, esses nunca funcionam. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

4 respostas para “O armário dos pais”

  1. Tenho dois filhos que moram comigo, hoje com 19 e 16 anos que souberam há três anos. Na epoca viviam com a mãe, e vieram espontaneamente me questionar a respeito. Foi um processo longo, de duvidas e sem modelos próximos para dividir, mas com com uma certeza: a de que nenhuma culpa poderia atrapalhar ou confundir meu papel de pai, sempre presente e companheiro. Hoje, pelo afeto, com a compreensão, acolhimento e carinho deles divido minha experiência como uma conquista junto a meu companheiro.

    1. Marcelo, belo depoimento, muitíssimo obrigado. E parabéns, pois realmente um pai presente é tudo na vida dos filhos. Filho amado é filho feliz, supera com mais facilidade as dificuldades da vida, sempre sabe que encontrará no pai um amor e carinho incodicionais. A sexualidade certamente ficará em segundo plano. Essa geração está tirando esses conceitos de letra, fico espantado com isso. A falta de outros modelos é uma coisa que atrapalha, sempre, pois os homossexuais sadios não se expõem – nem precisariam, mas isso nos deixa sempre procurando ao redor. Somos muitos estejas certo. Ache bárbaro que teus filhos estejam morando com você. Isso é lindo.
      Abração do Lourenço

  2. Meu caro, fácil, não é. Mas nesses casos sempre me vem a fala de Agrado, do filme de Almodóvar, lembra? “Me llaman la Agrado, porque toda mi vida solo he pretendido hacerle la vida agradable a los demás. Además de agradable, soy muy auténtica… bueno, lo que les estaba diciendo, que cuesta mucho ser auténtica, señora, y en estas cosas no hay que ser rácana, porque una es más auténtica cuanto más se parece a lo que ha soñado de si misma.” Beijas.

    1. Baronesa, contribuição em outra língua é luxo total. Agradeço. Não vi esse Almodovar, falha minha, por isso agradeço o comentário em dobro.
      Abração do Lourenço

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