O baile que marcou a queda da monarquia

A monarquia festeja enquanto os republicanos preparam o levante - Foto: Reprodução/Tela de Francisco de Figueiredo e Melo - Museu Histórico Nacional
A monarquia festeja enquanto os republicanos preparam o levante – Foto: Óleo de Francisco de Figueiredo e Melo – Museu Histórico Nacional

O baile da Ilha Fiscal foi um arraso. Uma multidão passou horas aglomerada no cais Pharoux, como se chamava a atual praça Quinze de Novembro, no Rio de Janeiro, para acompanhar o embarque dos convidados. A cerca de 300 metros das escadarias do cais, brilhava o castelinho neogótico encravado na pequena ilha da Baía da Guanabara.

“A ilha Fiscal foi transformada em ilha de fadas, uma verdadeira maravilha, um paraíso perdido em pleno oceano”, resumiu o jornal Novidades, ao descrever o cenário daquele sábado, 9 de novembro de 1889. Oficialmente, era uma homenagem ao oficialato do encouraçado chileno Almirante Cochrane, que estava fundeado na baía havia um mês.

Cardápio com as cores da bandeira do Chile e do Brasil - Foto: Reprodução
Cardápio com as cores da bandeira do Chile e do Brasil – Foto: Reprodução

A festa, na verdade, era uma tentativa do Visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros do Império do Brasil, de mostrar que a monarquia estava prestigiada. Com direito a jantar com mais de 30 pratos, entre eles aves raras, como faisões e jacutingas, o rega-bofe foi animado. Os últimos convidados deixaram a ilha ao amanhecer.

Dom Pedro II chegou por volta das 21 horas, ficou em um salão reservado do pequeno castelo e, quatro horas depois, sem jantar, embarcou de volta para o Paço de São Cristóvão, onde morava. A história não registra se ele ficou sabendo que, antes da festa, o Visconde de Ouro Preto esteve às voltas com um debate sobre a remessa de recursos para a seca que assolava o Nordeste.

A princesa Isabel, que comemorava 25 anos de casamento com o Conde d’Eu, foi considerada “a rainha do baile” pela Revista da Semana: “Aquela seda preta de reflexos cambiantes do vestuário, opulentada pelas formas régias da ilustre princesa, coroava-se artisticamente com um magnífico cabelo engastado de brilhantes fascinadores.”

A Ilha Fiscal , 27 anos depois do famoso baile - Foto: Jorge Kfuri (1916)
A Ilha Fiscal , 27 anos depois do famoso baile – Foto: Jorge Kfuri (1916)

Seis dias depois, militares que conspiravam havia tempos derrubaram a monarquia e proclamaram a república. Mais três dias e D. Pedro II, com a família, foi embarcado para a Europa.

 


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