O baixo clero da literatura

Escritores, prosadores, poetas, donos de sebos, leitores, poetas de rua reúnem-se em torno de um eixo alternativo ao “oba-oba social” da Flip, em nome de uma poesia independente, de alto nível de referências e “marginal”: a Festa Literária Alternativa à de Parati (Flap), realizada há três anos na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo.

Entre os escritores e participantes da edição deste ano, de anarquistas a “arrozes-de-festa de festivais”, todos parecem compreender a importância da poesia na vida social como um elemento político transformador. Alguns, como o poeta anarquista Horácio Costa, vão além e defendem o boicote às editoras que não publicam poesia. Outros, como Marcelino Freire, vêem na oposição da Flap à Flip, mesmo participando de ambas, um caráter contestador fundamental aos dias de hoje. “Eu sempre estou ao lado dos autores marginais. Eles me dizem muito mais do que os escritores comportados e frígidos”, diz o escritor.
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Apesar de alguns desses escritores terem obras publicadas por editoras maiores, como Glauco Mattoso e Lourenço Mutarelli, autor de Cheiro do Ralo, a relação deles com o mercado dá-se, normalmente, por meio de pequenas editoras e sebos especializados, como o Sebo do Bac, alusão ao apelido do vendedor-escritor Anselmo Luis dos Santos, o “Bactéria”, que só vende “coisa boa”. “Enquanto puder, vou manter o padrão de qualidade, mas sabe lá se depois eu vou ter que abrir as pernas para livros de auto-ajuda e Paulo Coelho”, brinca.

Participou do evento, ainda, o coletivo Maloqueiristas, que defende uma atuação voltada mais às ruas que a debates teóricos. “O puro creme da poesia, minha senhora!”, alardeavam seus integrantes no megafone, incomodando os transeuntes. O grupo edita a revista Não Funciona, de nome inspirado em poesia de Oswald de Andrade, composta por obras de escritores de rua e vendida a R$ 3 em centros culturais, museus e eventos de literatura. “Nossa intenção é colocar o baixo clero da arte em movimento”, explica Pedro Tostes, membro do coletivo.

Entre os poetas com formação acadêmica, Marcelo Mirisola, escritor conhecido por seus textos de tom político, procura imprimir um caráter politizado à oposição entre a Flap e a Flip: “Na Flip, os escritores estão todos rendidos. O escritor brasileiro é convidado para qualquer coisa, está indo para qualquer lugar. Para você ter uma idéia, na Flip do ano passado os escritores não ganharam um centavo. E para ver no telão, era necessário pagar. É lamentável. Escritor tem que dizer não”, afirma Mirisola.


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