Leônidas da Silva, O Homem-Borracha, O Diamante Negro, morreu faz pouco tempo, com a mente debilitada pelo Alzheimer. Em síntese: ele quase ganhou sozinho para o Brasil a Copa do Mundo de 1938, na Itália. E criou a plástica jogada da bicicleta, um feito possível a poucos iniciados na arte de manusear a bola com os pés. Era tão venerado que a Lacta o homenageou com o chocolate Diamante Negro, que existe até hoje, todo mundo adora, mas não sabe de onde veio o nome. Em 1974, os médicos identificaram nele o Mal de Alzheimer. Durante trinta anos, viveu em uma casa para tratamento de idosos até falecer, em 24 de janeiro de 2004. Nesse período o time do do São Paulo bancou todo o seu tratamento, num gesto de generosidade e respeito raro de se ver.
Interessa a mim, aqui, lembrar esse gênio por uma história curiosa: a reportagem que tanto quis fazer sobre ele e nunca consegui. Foi por volta de 1998, quando fui apresentado numa revistaria na Avenida São João, a Muito Prazer, a um barbeiro já idoso, aposentado, são-paulino devotado. Um amigo em comum contou uma história comovente: a cada quinze dias, esse senhor viajava até a clínica onde Leônidas vivia alheio ao mundo, na cidade de Cotia, região metropolitana de São Paulo. Numa maleta, levava suas ferramentas profissionais e, pacientemente, fazia a barba do ex-craque e cortava seu cabelo, quando necessário. Nesses momentos, o velho craque ficava quieto, obediente. Eram momento de um carinho humano, passado quase sempre em silêncio.
Por mais de um ano, tentei convencer os filhos do barbeiro, a quem deveria procurar, segundo sua orientação, para acompanhá-lo numa dessas viagens. Não toparam, mesmo depois de muitos argumentos. Não queriam dar publicidade a um gesto que só dizia respeito a seu pai e ao antigo ídolo. Uma bela história que não pude contar.
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