Gênero musical?que mais representa o País e seu povo, o samba está prestes a completar seu primeiro centenário – Pelo Telefone, gravada em 1917 por Donga, é considerado seu marco inicial – e não são poucos os que ainda defendem que por trás dessa paixão se esconde muita alienação e uma nociva manifestação de felicidade gratuita, que faz com que o brasileiro atenue seus grandes problemas cotidianos e disperse seu potencial crítico. Com o tema Brasil no Estandarte, o Samba é Meu Combate, a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou, entre os dias 18 e 23 de janeiro, a sétima edição de sua Bienal, contestando essa visão preconceituosa e colocando o samba em seu devido lugar histórico.

O samba pede passagem
Pela primeira vez, a Bienal da UNE aconteceu em um amplo espaço público aberto. O cenário idílico do Pão de Açúcar, com os bondinhos cortando o horizonte azul da praia do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi palco das principais atividades, que mantiveram a tradição de esmiuçar temas para discutir a identidade nacional, como a relação do Brasil com a América Latina e a cultura popular no País. A Bienal reuniu um público diário de mais de 10 mil estudantes vindos de todas as regiões do Brasil.

Pulverizadas em dez tendas, as instalações da sétima Bienal tiveram grande esmero na infraestrutura e espaços adequados para cada uma das dezenas de atividades. No Museu da República foram centralizadas as projeções de cinema. No Teatro Arena aconteceram espetáculos teatrais e musicais, oficinas e alguns dos principais debates. Além das dez tendas, houve ainda grandes apresentações em locais públicos, como o palco instalado sob os Arcos da Lapa e na Quinta da Boa Vista, que receberam o show de abertura com a madrinha do evento, a sambista Beth Carvalho, e outras grandes estrelas, como Elza Soares, Marcelo D2, Arlindo Cruz e Leci Brandão. Se os congressos anuais e as reuniões do Conselho Nacional das Entidades de Base (CONEB) são palco das discussões do movimento estudantil, a Bienal é espaço de reflexão, mas também de muita celebração.
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Ponto de encontro de boa parte do público, o Buteco Literário reuniu bambas do samba de roda, como o Cacique de Ramos e os Democráticos de Guadalupe. Além de muita música, o “Buteco” sediou uma série de bate-papos informais, reunindo nomes diversos como o jornalista Luis Nassif e os sambistas Martinho da Vila – que lançou seu livro Os Lusófonos – e Moacyr Luz. Houve ainda a Arena Radical – que se apropriou das quadras poliesportivas, da areia da praia, e das mini ramps do Aterro do Flamengo para a prática de futebol de areia, vôlei, skate e opções inusitadas, como o slackline (equilíbrio em cordas suspensas), o parkour (esporte que transforma escadas, paredes e o que houver no percurso urbano em obstáculos) e a escalada. A menos de 100 m dali, o ateliê do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) – que prestou homenagem a Hélio Oiticica – promoveu produção diária e interativa de artes visuais, utilizando diversas técnicas (pintura, grafite, artesanato, intervenções e performances). Uma festa diversa e entusiasmada, que fez justiça à magnitude do samba.

Roda de bambas

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