Existe uma máxima perversa em jornalismo que diz que boas notícias não são notícias. Só desgraça vende jornal. Se isso mostra a atração e a preferência do público por tragédias e infortúnios, também demonstra que, de nossa parte, os jornalistas, há bastante empenho em garimpá-los, produzi-los e publicá-los. E isso não é nem novidade e nem exclusividade brasileira. Até porque a frase aqui de cima tem seu original na língua inglesa, good news, no news e, já em 1951, foi produzido um clássico do cinema, A Montanha dos Sete Abutres, dirigido por Billy Wilder, que tratava do tema.
Aqui no Brasil esse prato indigesto tem temperos próprios. Experiências traumáticas do passado como, por exemplo, a campanha Brasil, ame-o ou deixe-o, do general Médici, durante a ditadura militar, de triste memória, deixaram cicatrizes profundas: hoje ainda existe um quê de vergonha, uma espécie de culpa ao se falar das coisas boas do país. Sim, elas existem. O jornalista acaba medindo o seu valor pelo seu poder de denúncia e de destruição. O histórico recente de duas décadas de ditadura, imprensa censurada, leis específicas para jornalistas (coisa que, com o projeto de Miro Teixeira, deve, finalmente, acabar) e outras aberrações trouxe um excesso de euforia na alforria. Tudo que não podia pode. Se não podia denunciar, então é só denunciar. Se só podia elogiar, então é proibido falar bem.
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E isso é não é bom. É ruim não poder noticiar com os devidos peso e destaque que o Brasil desbancou a China como o maior mercado emergente, no índice do Morgan Stanley, notícia publicada pelo jornal inglês Financial Times no dia 28 de fevereiro, assinada por Jonathan Wheatley, seu correspondente por aqui. E isso, segundo a reportagem, deve trazer mais dinheiro para cá. Parece ser piegas gostar do Brasil. Parece ser piegas admirar um pôr-do-sol. Nota-se certo desconforto na publicação da notícia que dá conta de que, depois de décadas pedindo dinheiro emprestado ao FMI, hoje temos o suficiente em caixa para pagar dívidas lá fora e ainda sobra um pouco. As nossas reservas, que eram de pouco menos de US$ 38 bilhões no começo de janeiro de 2003, quando o governo atual assumiu seu primeiro mandato, passaram para quase US$ 60 bilhões, dois anos atrás, na posse do atual ministro da Fazenda, e hoje, dia 28 de fevereiro de 2008, chegaram a quase US$ 192 bilhões. O suficiente para honrar as dívidas e ainda guardar um dinheirinho.
E essas são boas notícias. Há que publicá-las, sem desconforto, sem culpa nem preconceito. E isso não significa ignorar o que há de ruim para ser consertado. Óbvio que é função da imprensa denunciar para que os erros sejam corrigidos. É fundamental, mas não é nossa única função.
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