O brilho de Ouro Preto

Ouro Preto, 70 mil habitantes, 7 mil estudantes e uma população flutuante de difícil avaliação. A antiga Vila Rica – junção dos principais arraiais mineradores, em 1711 – passou a ser designada Imperial Cidade de Ouro Preto, em 1823. Ouro Preto, pela negra e fina camada de óxido de ferro que encobria o ouro de mais puro quilate encontrado na região, a antiga vila imperial foi decretada Cidade Monumento Nacional, em 1933, e Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1980.

Para nossa sorte, foi preterida por Belo Horizonte, em 1897, para ser a capital de Minas Gerais, por não apresentar alternativas viáveis ao desenvolvimento físico urbano.

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Segundo um professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), um dos idealizadores do primeiro curso de graduação em museologia do Brasil, o engenheiro francês Gustave Eiffel, já teria esboçado um projeto para viabilizar Ouro Preto como capital. Folgamos que ele tenha esgotado seu ânimo na luta para aceitação de sua famigerada torre em Paris.

Ouro Preto dispensa apresentações ou descrições, mas todos somos seduzidos a fazê-las. A cidade respira arte e história. Impossível não ser tomado por aquela sensação de “aqui aconteceram coisas, aqui fez-se a história”. O amor proibido de Tomás Antônio Gonzaga por Maria Doroteia de Seixas (sua eterna Marília) e sua obra literária estão na atmosfera do lugar e parecem tomar uma importância muito maior que qualquer paixão de modernistas ou existencialistas do século XX.

O governo imperial, as conspirações, Tiradentes, o ouro, as pedras, os artistas, Aleijadinho, Mestre Athayde, a extrema religiosidade, igrejas, igrejas, igrejas e nelas riquezas ostensivas. Nas ruas, as pedras lisas e aqui e ali referências aos negros, aos escravos. Tudo isso parece que não se desgruda de quem se aventura pelas ladeiras da cidade.

A melhor notícia – e que não é novidade – é que Ouro Preto continua embalada pela cultura. Música, literatura, teatro, circo e artes plásticas. Ao longo do ano, a cidade tem uma vasta agenda de eventos culturais, organizados e apoiados pela Secretária da Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e empresas privadas. Festival Nacional de Cinema em junho; Festival de Inverno, em julho; Festival Internacional Tudo é Jazz, em setembro; e Fórum das Letras, em novembro. Os tradicionais Carnaval e Semana Santa – que faz um rodízio anual entre as matrizes de Nossa Senhora do Pilar e a de Nossa Senhora da Conceição. Mês após mês, a cidade está repleta de turistas, aquela população flutuante citada acima.

Edição 2010
O Festival de Inverno teve sua primeira edição em 1967, organizado por professores da Escola de Belas Artes da UFMG, passou por algumas interrupções por decisões políticas administrativas, mudanças de cidades e de grupos organizadores. Somente em 1993 voltou a ser realizado em Ouro Preto, e hoje é promovido pela UFOP com a participação da cidade de Mariana, com o título Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes.

Brasileiros esteve na edição 2010 do Festival, que teve como tema Mestre Athayde – Traços e Cores do Nosso Tempo, para acompanhar o lançamento de Ivald Granato, Gesture and Art, livro biográfico de 40 anos da obra do artista. “Nos últimos 40 anos, a presença de Ivald Granato é uma constante poderosa na arte brasileira. Neste período, ele fez praticamente tudo o que um artista pode fazer nos séculos XX e XXI: pintura, desenho, escultura, objeto, cerâmica, instalação, performance, arte postal, obra em progresso, muralismo, livro de artista, intervenção urbana, jornalismo alternativo”, diz Jacob Klintowitz, consagrado crítico de arte, autor do texto da publicação. Acrescenta ainda que é difícil entender a história da arte brasileira sem levar em conta a presença de Ivald Granato.

Em bate-papo, no Teatro Casa da Ópera, com a participação dos artistas Inos Corradin e Jorge Fonseca, Granato aproveitou para divulgar Mitos Vadios II; uma convocatória aos artistas para se reunirem em torno da próxima Bienal de São Paulo, de forma espontânea: “Com suas obras debaixo do braço para ver o que vai acontecer”.

Na ocasião, falou um pouco à Brasileiros sobre a arte:

Performances “Eu nunca quis fazer uma performance que tivesse um acabamento como se fosse um teatro. Minha finalidade era fazer um movimento que fluísse vitalidade e sumisse no ar, o registro ficaria só na fotografia, isso era a minha intenção, uma coisa efêmera.”

Arte experimental “O experimental já ficou cansativo, o experimental nós já fizemos há 25, 30, 40 anos, é tudo repetição.”

Nova geração “Eu estou gostando de ver o pessoal, porque existe um miolo cultural vindo da juventude, que trabalha sério, são investigadores, organizam coisas bacanas, não usam essa palavra ‘contemporâneo’.”

Evolução “Eu acredito na evolução, não acho que a minha obra,quando eu tinha 20 anos, estava ótima, imagina, eu estou ótimo agora, porque agora eu sei o que estou fazendo. Vou lá e faço, vou descobrindo, aprendendo, já tem um outro envolvimento.”


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