Depois de tantas versões e traduções, por que reeditar uma espécie de Marx para iniciantes? O responsável pelo projeto editorial, Alexandre Linares, responde: “O objetivo é dar acesso ao mais amplo público os conceitos e categorias fundamentais acerca do funcionamento da sociedade capitalista”.
Mas não imagine que a tarefa será fácil. Não porque as palavras de Marx sejam de difícil compreensão. A dureza é acompanhar a evolução dos conceitos, sem que se caia no simplismo que tira da obra do grande pensador sua maior contribuição para a ciência econômica: a construção de um ideário que pudese fazer um contraponto ao capitalismo do século 19.
Foi bem-sucedido? Tanto foi que até hoje a minúscula Cuba incomoda o mundo ocidental. Hoje, a China desnorteia os observadores com sua orientação, que vagueia entre o estatismo e a abertura econômica. Já os países governados por liberais entenderam que deixar o mercado sem qualquer regulação resulta em crises difíceis de serem exorcizadas.
Na primeira parte do livro, Lafargue explica os conceitos de mercadoria, das trocas e da circulação das mercadorias. Aparentemente simples, daí surgem os alicerces dos slogans dos movimentos sindicais.
Mercadoria nada mais é que um objeto produzido pelo homem, que é trocado por seu produtor em vez de ser por ele consumido. A utilidade é a principal característica da mercadoria. E, se tem valor de uso, pode ser trocada. A medida da troca vai depender fundamentalmente do trabalho do homem. Historicamente, esse sempre foi o elo fraco em relação ao capital. Lafargue segue sua digressão até chegar ao ouro como medida de valor de diferentes mercadorias.
Na segunda parte, a obra passeia pela fórmula geral do capital, suas contra- dições, como se dão a compra e a venda da força de trabalho e o surgimento da mais-valia, entre temas relevantes.
Talvez, o mais delicioso do livro sejam as recordações pessoais de Lafargue sobre Marx. As condições nas quais se conheceram, em 1865, revelam um homem austero, que cuidava de ser cientista e ao mesmo tempo um lutador socialista.
Não, ele não era um sentimental, comovido com a expropriação das classes trabalhadoras. Queria – como se fosse simples – apenas estudar a evolução econômica e política das sociedades humanas. Ansiava escrever algo que o qualificasse como cidadão do mundo. Nas horas vagas, “estirava-se no divã e lia um romance. Às vezes, dois ou três de uma vez”.
Além de poetas e romancistas, Marx distraía-se com a matemática. “A álgebra era para ele um conforto moral” e lhe surgiu como refúgio em tempos pessoais turbulentos.
Esse homem genial morreu em sua mesa de trabalho, em 14 de março de 1883, aos 65 anos. Deixou sua obra traduzida em dezenas de línguas, uma espécie de “Bíblia Operária”. Se não por outro, a explicação das palavras sagradas de Marx é melhor motivo para a leitura de Lafargue nestes Extratos.
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