“É importante olharem até pela questão da motivação dos jogadores brasileiros. Cada vez que convocam mais os caras de fora, aí é que todo mundo quer sair mesmo para chegar à seleção. Então, o trabalho que a gente está fazendo aqui não está valendo de nada para ser chamado”.
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A frase acima foi dita por Ramires, volante do Cruzeiro, em desabafo contra a convocação 100% “estrangeira” que Dunga fez para o amistoso contra a Itália, em fevereiro. Os “estrangeiros” venceram os campeões do mundo por 2 a 0 (Elano e Robinho), em Wembley.
Alguns meses depois, Ramires foi ouvido e atendido. Hoje, 21 de maio, com as malas prontas para engordar as estatísticas e virar mais um brasileiro na Europa (atualização: no fim da tarde, o Cruzeiro confirmou a venda para o Benfica, de Portugal), ele foi convocado por Dunga para os dois jogos da eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, contra Uruguai e Paraguai (dias 6 e 10 de junho), e também para a Copa das Confederações, na África do Sul, sede do Mundial do próximo ano.
Foi a primeira convocação do ex-cruzeirense para a seleção principal. Fez parte do time sub-23 que voltou de Pequim com a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos, em 2008. Mas, seleção principal é a primeira vez.
Não havia momento mais inoportuno para Dunga convocar Ramires. O Cruzeiro tem confronto do tamanho do Mineirão à vista. Só um duelo de quartas-de-final de Copa Libertadores, contra o São Paulo, nos dias 27 de maio (em BH) e 17 de junho (em SP). Se Dunga cumprir o que falou na coletiva após a convocação, o volante não disputa nenhum duelo das quartas da Libertadores, pois os jogadores terão de se apresentar na próxima segunda-feira, dia 25.
Mas, Dunga fez pior. Teve um surto de “brasilidade”. No momento errado. Além de Ramires, o técnico chamou pela primeira vez o goleiro titular do Grêmio, Victor, para ser o terceiro reserva. Também estreante, André Santos, do Corinthians, será o reserva de Kléber, outro convocado que atua no Brasil, no Internacional. Do Colorado, seu time do coração e onde surgiu no futebol, Dunga também “levou” Nilmar, que provavelmente também sentará no banco.
O calendário:
– O Grêmio, de Victor, tem quartas-de-final de Copa Libertadores, contra o Caracas, com jogos nos dias 27 de maio e 17 de junho.
– O Corinthians, de André Santos, tem semifinais da Copa do Brasil, contra o Vasco, nos dias 27 de maio e 3 de junho.
– Também nos dias 27 de maio e 3 de junho, o Internacional, de Kléber e Nilmar, tem semifinais da Copa do Brasil, contra o Coritiba.
Perfeito. A Copa do Brasil já é um torneio que demora a pegar, principalmente porque o calendário não permite que os times que jogam a Libertadores a disputem. Quando chega no filé, a seleção brasileira, sempre estrangeira, a “esvazia” pelo surtus brasilis de Dunga. Na Libertadores, Grêmio e Cruzeiro não terão, cada um, talvez o principal jogador.
Conclusão: Dunga fez tudo errado. O desabafo de Ramires ecoou com delay na cabeça e ouvidos do técnico. E na hora errada.
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