Certa vez, Ozualdo Candeias me disse: “O Galante foi o único cara que ficou rico com cinema aqui na Boca. Ele e os caras do pornô”.
Produtor oficial da Boca do Lixo de São Paulo, Antonio Polo Galante tinha em Carlos Reichenbach, que faleceu ontem aos 67 anos, seu diretor e parceiro de produção preferido. Juntos fizeram uma série de sucessos de bilheteria, com títulos como A Ilha dos Prazeres Proibidos (1979) e O Império do Desejo (1980), por exemplo. Galante sabia o que o povo queria: SEXO! Suas produções reinavam absolutas nos cinemas do Centro, muitas vezes batendo blockbusters norte-americanos.
Uma das poucas vezes em que se sentiu ameaçado foi com a estreia de Calígula (1979). Como não era de correr de briga, imediatamente chamou Carlão Reichenbach para que preparasse uma resposta ao filme de Tino Brass e Gore Vidal, estrelado por Malcolm MacDowell.
Na época, Carlão buscava parceiros para uma adaptação cinematográfica de Heliogábalo ou O Anarquista Coroado, de Antonin Artaud. A conversa teria ocorrido assim:
A.P. Galante: Carlão, precisamos rodar uma fita tipo esse “Calígula” ai! Você não tem nenhuma ideia para um filme nessa linha?
Carlão: Tem o Heliogábalo…
Galante: Que porra é essa?
Carlão: É de um autor francês…
Galante: Não é isso que eu quero saber. Tem SACANAGEM?
Carlão: Ô!
Galante: Então, vamos gravar!
É claro que não presenciei a cena e o diálogo ai é fruto de minha imaginação, mas não deve ter sido muito diferente. Ele mesmo conta a história na longa entrevista ao jornalista Marcelo Lyra que rendeu o livro O Cinema Como Razão de Viver, da coleção Aplauso da Imprensa Oficial. Infelizmente, a ideia perdeu fôlego tão logo “Galígula” saiu de cartaz e o filme nunca foi feito. Uma pena! Uma versão “antiestética” Boca do Lixo da dramaturgia de Antonin Artaud seria, no mínimo, provocador. Com Carlos Reichenbach, morre também uma parte do pouco que ainda nos resta de ousadia cinematográfica.
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