Oito anos atrás, foi num dia 27 de outubro, como hoje, dia do seu aniversário, que Lula ganhou sua primeira eleição para presidente da República. Por acaso, o adversário derrotado em 2002 foi o mesmo tucano José Serra, que agora disputa novamente a eleição, desta vez contra a petista Dilma Rousseff, a candidata escolhida por Lula para a sua sucessão.
O que aconteceu nos bastidores da campanha de Lula naquele dia histórico? Eu era seu assessor de imprensa na época e passei o dia com o então candidato, mas já não me lembro mais de muita coisa, assim de cabeça.
Por isso, recorro outra vez ao meu livro de memórias, “Do Golpe ao Planalto – Uma vida repórter” (Companhia das Letras, 2006) para rememorar como foi que Lula ficou sabendo que era o novo presidente eleito.
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Às cinco horas da tarde do domingo, 27 de outubro de 2002, no dia em que Lula completava 57 anos, foi com muito custo que ele atendeu a meu chamado para vir até onde se encontravam sua família – a mulher, os quatro meninos e as noras – e uns poucos amigos, diante do aparelho de televisão.
Desde a hora do almoço, ele conversava com José Dirceu, Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho e Antonio Palocci na sala de refeições da suíte presidencial do Gran Meliá, na avenida Nações Unidas, no bairro do Brooklin, em São Paulo. Lula votara de manhã numa escola em frente à sua antiga casa de esquina, na Vila Paulicéia, em São Bernardo do Campo, e chegara de helicóptero ao hotel.
A TV Globo iria anunciar o resultado da pesquisa de boca-de-urna da eleição presidencial. O âncora Franklin Martins (o mesmo que hoje é seu ministro) chamou a repórter, que estava ao lado do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro:
“Agora, ao vivo, vamos conhecer os resultados da pesquisa boca-de-urna com a repórter”. Por coincidência, a repórter era minha filha mais velha, Mariana Kotscho.
“Olha lá, Mara! A Mariana está mesmo com jeito de grávida!”: foi o primeiro e único comentário de Lula, como se o resultado anunciado por Montenegro, dando-lhe a vitória por larga margem sobre José Serra, não estivesse acabando de confirmar a primeira eleição de um operário para a presidência da República do Brasil, depois de três tentativas frustradas.
As pessoas começaram a pular, gritar e se abraçar. Lula, impassível, braços cruzados, olhava para o monitor de TV. Parecia não acreditar no que via e ouvia – ou já esperava aquele resultado havia muito tempo e por isso não se surpreendeu. Os filhos, também; pareciam assistir ao final de um jogo cujo resultado já conheciam. Com os números da pesquisa aparecendo na tela, não tinha mais erro.
A comemoração podia começar, mas o dono da festa resistia. “Porra, Lula, nós ganhamos a eleição!”, gritei, e lhe dei um tapão nas costas, para ver se ele caía na real.
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Quem quiser saber conhecer a história completa, das comemorações na avenida Paulista até o dia da grande festa da posse em Brasília, está tudo no capítulo “Da vitória à posse – 2002″. É só comprar o livro.
Nesta quinta-feira, Lula faz 65 anos, e entra oficialmente na terceira idade, a dois meses de entregar o cargo para seu sucessor ou sucessora. O tempo correu depressa.
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