Pulei frevo, dancei maracatu, fui atrás de trio elétrico, segui os Filhos de Gandhi, mas nunca havia saído em escola de samba. Tirei essa demanda da frente. Convidado por uma amiga, encarei a ideia de defender o enredo “Tropicália da Paz e do Amor”, da Águia de Ouro, escola de samba do bairro da Pompéia, em São Paulo. O desfile foi na madrugada de ontem, domingo 19. Em uma palavra: inesquecível embora absolutamente cansativo.
Decorar samba é difícil? É. As letras são enormes, as informações contidas nas frases atravancam a cadência, e em alguns casos você não entende exatamente o que está cantando. Mas o samba da Águia é lindo e o refrão é contagiante e pegajoso. Passado esse susto, vem a fantasia. A minha eu peguei no dia do desfile. Eles têm sua medida, então não tem erro. No meu caso, ao menos. Mas há quem use calçados menores que os pés. Tive sorte.
A minha ala era a última, atrás do último carro alegórico. Sabe o que é ala? Sessenta pessoas, no mínimo, formam esse grupo coeso que defende um trecho do enredo defendido pela escola. Fomos de homens da paz. No início, estava muito feliz porque a roupa não incluía esplendores e outros penduricalhos que ferem a cabeça, ombros, braços e pernas. Só depois eu descobri porque nossa ala era a mais “simples”. Como encerraríamos o desfile, se a escola estivesse atrasada quem correria contra o tempo? Nós, a ala final. E foi isso o que aconteceu. Estávamos em cima do lance e por segundos não perdemos ponto por causa disso.
Sambar é o que você menos faz em um desfile. Você anda, na verdade, com uma ou outra chance de evoluir e requebrar as cadeiras. A preocupação é manter sua fila reta e aprumada para não perder ponto em evolução. Assistir ao desfile de sua escola é outra lenda. Não vemos nossa escola, ou melhor, enquanto a comissão de frente está sob holofotes você ainda está em pé, esperando sua vez. Os outros é que nos veem. No máximo, conferimos os fundos do carro alegórico.
Desfilaram pela Águia de Ouro Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Cauby Peixoto, Angela Maria. Pergunta se eu vi algum deles na concentração. Claro que não. Eles ficam em camarotes e só surgem na hora do show. Encontrei, sim, Wanderléa, na dispersão, exausta, como todos nós. Se eles sabem cantar o samba? Dificilmente. Sabe qual é o truque que me ensinaram nessas horas? Mastigar chiclete, saudar a arquibancada e virar o rosto naquela frase indecifrável. Foi o que fiz. Quem sabe volto no Desfile das Campeãs, na sexta. Sabe o que também ouvi sobre essa nova passagem pela avenida? Neste dia será comemoração, portanto é para entrar semibêbado. Então tá.
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