Nesta quinta-feira, 27 de julho, James Marshall Hendrix, ou melhor, Jimi Hendrix, completaria 72 anos. Considerado o mais revolucionário entre os guitarristas de música popular do século 20, Hendrix morreu tragicamente em 18 de setembro de 1970, aos 27 anos, após ingerir nove comprimidos para dormir e doses excessivas de vinho, segundo o relato de Monika Dannemann, sua namorada à época. Na versão dos paramédicos que já o encontraram morto, o guitarrista teria se asfixiado com o próprio vômito.
A exemplo do que aconteceu com Brian Jones (multi-instrumentista, cantor e compositor dos Rolling Stones), Jim Morrison (vocalista e letrista do The Doors) e Janis Joplin, também mortos aos 27, a despedida precoce de Jimi Hendrix pôs fim a uma carreira brilhante e promissora.
Nascido em Seattle, nos Estados Unidos, Hendrix surgiu como um furacão no cenário musical britânico em 1967, ao ser empresariado por Chas Chandler, ex-baixista do The Animals que, em novembro do ano anterior, aproximou o guitarrista dos ingleses Mitch Mitchell, baterista, e Noel Redding, contra-baixista. Com eles, Hendrix criou o explosivo trio Experience e lançou em 1967, dois álbuns históricos para a discografia do rock psicodélico Are You Experienced? e Axis Bold as Love. Com o Experience, Hendrix lançou também outra obra-prima, o experimental Electric Ladyland (1968).
Em 1970, 18 dias antes de sua morte, Hendrix apresentou-se no encerramento do Festival da Ilha de Wight, que também reuniu estrelas como The Who, Sly & The Family Stone, The Doors, Joan Baez e Miles Davis. Exilados em Londres desde julho de 1968, Caetano Veloso e Gilberto Gil estiveram no festival e chegaram a se apresentar com um grupo misto, no dia da abertura, em um palco alternativo.
Por intermédio do brasileiro Airto Moreira, percussionista de Miles Davis, Gil foi apresentado a Jimi Hendrix. Dias após o encontro, ele esteve com uma amiga americana que relatou um encontro às vésperas da morte do guitarrista. Segundo ela, Hendrix vivia dias de extrema paranoia.
O episódio, até então desconhecido, foi revelado por Gil em entrevista à Brasileiros em julho de 2009 (leia), ocasião marcada pelos 40 anos do exílio dele e de Caetano em Londres. Confira a seguir a íntegra dos depoimentos de Gilberto Gil sobre a participação no festival e como se deu o encontro com Jimi Hendrix.
Gil e Caetano no palco de Wight
“A comunidade brasileira em Londres era numerosa, muito expressiva e unida. Quase todos nós saindo do Brasil em busca de novas experiências. Muitos, como eu e Caetano, relativamente vitimados pela questão da ditadura. Fomos todos pra Ilha de Wight. Acampamos, ocupamos uma ribanceira inteira, em cima de uma daquelas colinas, ficamos lá com nossas barracas, três quatro dias antes das apresentações começarem. Muita música, ácido lisérgico, mescalina, toda aquela coisa. Cláudio Prado, cineasta e produtor cultural, andava pelo acampamento e conversava com todo mundo. Ficou sabendo que da manhã pra tarde do dia da abertura estavam convocando músicos e artistas amadores pra fazer uma programação paralela, com as coisas que surgissem por ali. Cláudio falou: ‘Vamos lá, o pessoal tá chamando a gente pra se apresentar!’ Caetano estava lá, Gustavo e Pedrinho, da Bolha, os meninos músicos que estavam por lá e outros artistas brasileiros. Martine, uma artista plástica belga, amiga do grupo, tinha feito uma enorme centopeia de plástico vermelho. Juntamos tudo isso, os violões que estavam por ali, fomos umas 20 pessoas para o palco. Houve uma performance em que, de repente, as pessoas saíam nuas de dentro da centopeia, improvisamos e cantamos algumas músicas. Era por volta de uma da tarde e o público vibrou com aquilo tudo. Era muito ao estilo das coisas que toda aquela multidão gostava e queria. Lembro que, na reportagem geral sobre o festival, a revista Rolling Stone deu um destaque muito grande à nossa apresentação.”
Gil & Hendrix
“Uma das coisas mágicas desta estada na Ilha de Wight foi ter conhecido Hendrix. Eu lembro que estávamos assistindo ao show de Miles Davis, grupo do qual participava o Airto Moreira, percussionista brasileiro, e estávamos muito perto do palco. Eu, Caetano, Dedé, Sandra, Cláudio Prado, toda essa turma. O Airto acabou nos vendo e sinalizou pra que fôssemos ao camarim, no backstage, depois do show. Fomos, e lá encontramos, entre outras pessoas, Jimi Hendrix, que o Airto, muito gentilmente, se prontificou a nos apresentar. Conversamos uns dez minutos ali, ele já pronto, vestido com a roupa pra fazer o show. Uma semana depois ele foi à Alemanha, fez ainda uma apresentação, voltou pra Londres e ficou hospedado em um hotel na Kensington Park Road, a uns cem metros da minha casa, que era em um bequinho desta mesma avenida, e nós tivemos a notícia. Uma amiga nossa, americana, que tinha vivido no Brasil na época do tropicalismo e estava vivendo em Londres, tinha estado com Hendrix em um jantar três dias antes da morte dele. No dia seguinte, ela esteve conosco e relatou seu estado de extrema paranoia. Ele falava em coiscas como perseguição da máfia, que queria obrigá-lo a cumprir agendas do interesse dela, que queriam, eventualmente, tomar o estúdio Electric Ladyland (de propriedade do guitarrista) e coisas desse tipo. Ela ficou muito assustada e passou este susto pra nós. Quando soubemos da morte dele, estávamos ainda vivendo o impacto desta informação.”
MAIS:
Em setembro de 2010, ocasião em que foram completados 40 anos da morte de Jimi Hendrix, a Brasileiros convidou o artista plástico Guto Lacaz, o fotógrafo Angelo Pastorello e os músicos Luiz Chagas e Arismar do Espírito Santo, fãs devotos, a prestarem sua homenagem ao gênio da guitarra. Confira.
Em 2012, concedidas pelo documentarista britânico Murray Lerner, vieram à tona, no filme Tropicália, de Marcelo Machado, imagens exclusivas da participação de Gil e Caetano no Festival da Ilha de Wight. Veja abaixo:
Veja também excertos do documentário Blue Wild Angel: Jimi Hendrix Live At The Isle Of Wight
Ouça a releitura de Gilberto Gil para Up From The Skies, um dos clássicos de Jimi Hendrix (ouça também a versão original)
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