Com mais de dez anos de carreira, o arquiteto e designer paulista Guto Requena, 35, traz em seu currículo diversos trabalhos em que a cidade tem um papel de peso. Uma de suas criações mais conhecidas é a Noize Chair, de 2012, em que o modelo digital de um ícone do mobiliário brasileiro, a cadeira Girafa, de Lina Bo Bardi, foi mesclado com arquivos sonoros, contendo ruídos captados nas ruas do centro de São Paulo, e o resultado foi impresso em 3D.
Sem abrir mão do apuro estético, Requena quer agora dar outra dimensão a seu trabalho, aproveitando a boa onda de iniciativas, privadas ou governamentais, que buscam recuperar, País afora, o elo perdido entre os espaços públicos e as pessoas. “Venho tentando encaminhar cada vez mais a minha prática, a de arquiteto e designer, para o urbanismo. Meu grande sonho é criar, cada vez mais, obras com a escala da cidade”, diz. Esse desejo de redimensionamento tem na Criatura de Luz, um dos trabalhos mais recentes de Requena, seu eco mais exemplar. Na instalação, feita na fachada de um hotel nos Jardins, na capital paulista, microfones e sensores traduzem, em cores, e com a ajuda de um software e luzes de LED, a intensidade do barulho e a qualidade do ar na rua. A interação não para por aí: por meio de um aplicativo para celulares, os passantes também podem criar desenhos e sons, que são “reproduzidos” no prédio.
Desenvolvida ao longo de dois anos e meio, a intervenção contém os conceitos de compartilhamento e colaboração da cultura hacker, de arquitetura híbrida do analógico com o digital, em que Requena vem apostando. Ele recebeu a encomenda de mais duas fachadas semelhantes à Criatura de Luz, e foi convidado para participar do festival Urbe, cuja primeira edição aconteceu em janeiro de 2012, em São Paulo, e reuniu instalações, projeções e obras site specific, concebidas por artistas nacionais e internacionais.
“Quero trabalhar cada vez mais com essa escala urbana de arte pública ligada à tecnologia”, afirma Requena, que está criando um projeto de mobiliário urbano interativo para o festival, que ocorre ainda no primeiro semestre. “No Brasil, para mim, a questão da arte para as ruas se mistura à falta de equipamentos públicos, devido à nossa grande carência. Para além da beleza, da poética e da questão da identidade, acho importante pensar na funcionalidade. Somos muito carentes do básico, de praças, de bancos, etc. Basta ver a Avenida Paulista, um cartão-postal da cidade, eleito pela própria população, que não optou por um ponto turístico, nem mesmo um prédio, mas uma via pública. Você anda toda sua extensão e não há onde sentar, quase não existem sombras”.
Com tudo isso em mente, Guto vem privilegiando, em seu escritório, projetos em um campo que ele batiza “urbanismo colaborativo”, em que são criadas interfaces on-line, via aplicativos de aparelhos móveis ou computadores, com as quais as pessoas “comuns” poderão, por exemplo, desenhar praças. “Como se fosse uma espécie de concurso, com regras e parâmetros, mas lúdico, como um Lego virtual”, afirma, ressaltando também o que pode haver de artístico em um equipamento público. “Pode-se desenhar um banco, por exemplo, que, além de servir para se sentar, vai fornecer informações sobre o tempo, o trânsito, etc. Tudo de uma forma poética, com luz, cor e música.”
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