O fator Marina Silva e os cenários para 2010

Caros leitores,

estou viajando daqui a pouco para Brasília, onde tentarei entrevistar pessoalmente a senadora Marina Silva. Até a volta.

Pois é, amigos, quando tudo caminhava para uma eleição plebiscitária em 2010, com um candidato do governo (Dilma) e outro da oposição (Serra), em mais um Fla X Flu entre petistas e tucanos, como vem se repetindo desde 1994, eis que surge um fato novo, o fator Marina Silva.

A esta altura do campeonato, não sei se ela já trocou o seu PT cansado de guerra pelo PV de Zequinha Sarney, mas tudo indica que minha velha amiga Marina, a santa guerreira dos seringais, o fará mais dia menos dia para ser candidata a presidente da República.

Com sua biografia pessoal e política inatacável, flor rara no brejo em que se transformou o Senado brasileiro, Marina tem a trajetória mais parecida com a do presidente Lula entre quaisquer candidatos possíveis à sua sucessão.

Como ele, saiu da pobreza mais pobre dos fundões do Brasil e foi à luta, ajudando a criar o primeiro partido político brasileiro verdadeiramente nascido das bases populares. Deu muito murro em ponta de faca até chegar ao Senado, antes de exercer por seis anos o cargo de Ministra do Meio Ambiente do governo Lula, de onde saiu muito magoada.

Reúne na sua figura singular todos os méritos e direitos para disputar a Presidência da República. Antes de tomar uma decisão definitiva, porém, convem que ela dê uma olhada cuidadosa na biografia dos dirigentes verdes que lhe fizeram o convite para se candidatar à sucessão de Lula.

O mais animado deles, Alfredo Sirkis, vice-presidente nacional do PV, conhecido surfista da política carioca, saiu da luta armada e rodou em busca de um lugar ao sol, até cair nos braços de Cesar Maia, o ex-prefeito e blogueiro carioca de quem foi secretário com muito gosto, e que não chega a ser um símbolo da modernidade sustentável.

Na Câmara Federal, o partido é liderado por Zequinha Sarney, do PV do Maranhão, herdeiro político do pai, aquele mesmo que Marina quer ver afastado da presidência do Senado pelo conjunto da obra. Em Brasília, o PV integra a base aliada do governo federal.

Mas, em São Paulo, o presidente nacional do PV, o obscuro vereador paulistano José Luiz Penna, faz parte da base de apoio demo-tucana do esquema Serra-Kassab.

Com este time, convenhamos, fica difícil imaginar uma campanha presidencial para valer, que não seja apenas uma linha auxiliar dos que se opõem à candidatura Dilma Roussef, a ungida pelo presidente Lula para disputar a sua sucessão.

Se Marina Silva resolver mesmo ser candidata pelo PV, abrindo o leque de candidaturas, é natural que outros nomes se animem a entrar na disputa, como meu amigo Ciro Gomes, do PSB, que ainda não definiu seu caminho em 2010.

No começo do ano, escrevi aqui mesmo no Balaio que tudo caminhava para uma disputa entre apenas dois candidatos, Serra e Dilma, na primeira eleição presidencial sem Lula desde a redemocratização do país.

Agora, está tudo novamente em aberto, já que dificilmente qualquer cenário político resiste a mais de seis meses num período pré-eleitoral, faltando tanto tempo para o dia das eleições – e não apenas pela possível entrada de Marina Silva na disputa.

Nas últimas semanas, a própria candidatura de José Serra, o favorito nas pesquisas, já não era dada como tão definitiva. Enquanto Aécio Neves não abre caminho e declara seu apoio a ele, Serra não pode sair por aí apresentando-se como candidato do PSDB, e já se fala até numa possível candidatura à reeleição em São Paulo.

É sempre bom lembrar que, apenas um ano antes das eleições presidenciais de 1989 e 1994, Collor e FHC, os dois que acabaram ganhando, nem sabiam se seriam candidatos.

Só nos resta esperar pelas próximas pesquisas, que, aliás, estão estranhamente demoradas, para ver aonde se encaixa uma possível candidatura de Marina Silva e a quantas anda a popularidade presidencial, que é vital para as possibilidades de Dilma Roussef.

O que estaria pensando a população diante deste cenário conturbado pela interminável crise do Senado, o apoio de Lula a Sarney, CPI da Petrobras, acusações da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, à ministra Dilma Roussef, denúncias de corrupção no Metrô de São Paulo, transtornos causados pela gripe suína, e tudo mais?

Pela amostra dos comentários enviados por leitores/eleitores, não só ao Balaio, mas a todos os espaços abertos pela internet, o povo anda muito bravo, indignado com os políticos em geral – e é preciso ver quem ganha e quem perde com este sentimento negativo num clima de baixo astral, faltando pouco menos de 15 meses para as eleições gerais.

Se o caro leitor/eleitor fosse consultado pelos pesquisadores, o que responderia a eles?


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