O filme que dividiu o cinema

Mitos Belmondo e Jean Seberg, que viraram astros por “Acossados”

Há quem diga que o cinema se divide entre antes e de­­pois de Acossado (1960), de Jean-Luc Godard. Daí é possível se ter uma ideia da sua importância na história da chamada sétima arte. Não é exagero. Pelo contrário, muitos concordam com isso, tamanho o impacto que causou e o movimento que deflagrou, a chamada nouvelle vague, nascida na França e que Godard e François Truffaut foram os expoentes, bem acompanhados por talentos como Claude Chabrol, Alain Resnais e Eric Rohmer. Revê-lo mais de meio século depois reforça a certeza de sua perenidade e porque influencia o cinema de todo o mundo até hoje.

Se tivesse feito apenas este filme, Godard já teria alcançado a imortalidade. A irreverente trama mostra Michel (Belmondo), um jovem que rouba um carro e, depois de encontrar um revólver no porta-luvas, em um gesto impensado, mata um policial e vira um procurado. Na fuga, envolve-se com Patrícia (Jean Seberg), americana que estuda em Paris.

Existem muitos motivos para chamar Acossado de manifesto da nouvelle vague. Além do estilo inovador estabelecido por Godard, dois outros gênios do movimento participaram do projeto: Truffaut como argumentista; e, Chabrol, consultor técnico. Seu diretor fez um filme frenético, acelerado, intenso, que transformou o desconhecido Jean-Paul Belmondo em um dos atores mais famosos do mundo, além de ícone sexual, apesar de sua beleza questionável. O longa foi quase todo filmado nas ruas de Paris ou em estradas ao redor, numa celebração da cidade, na afirmação de um lugar que pulsava por uma nova forma de fazer cinema.

É a primeira vez que o filme sai em DVD e Blu-ray no Brasil em cópia oficial e restaurada. A edição em DVD duplo da Versátil é uma ótima oportunidade para conhecer ou rever Acossado. Mas, também, ver as quatro horas de extras, um tesouro para os amantes do cinema. O material inclui nada menos que três documentários consagrados sobre o diretor: Godard, Made in USA, de Luc Lagier; Quarto 12, Hôtel de Suêde, de Claude Ventura;  e Jean-Luc, Segundo Luc, de Luc Moullet. Inclui ainda entrevistas da época e uma homenagem a Jean Seberg. Só um aperitivo: a entrevista feita em Cannes, em 1960, em que um decepcionado Godard lamenta por seu filme não ter entrado na mostra de concorrentes.

O MELHOR DE RESNAIS

 A obra máxima do diretor francês Alain Resnais, Hiroshima Mon Amour (1959), chegou aos cinemas um ano antes de Acossado e colocou o mundo em alerta: algo de diferente – e genial – estava acontecendo nas telas e vinha da França. A hoje idosa Emmanuelle Riva, que concorreu ao Oscar de 2013 pelo papel em Amor, de Michael Haneke, aqui está jovem, de uma beleza estonteante, fundamental para fazer desse clássico da nouvelle vague um dos maiores filmes de todos os tempos. Ela faz uma atriz francesa que vai ao Japão filmar uma história sobre a tragédia da bomba atômica em Hiroshima e se envolve com um engenheiro local, enquanto relembra sua paixão por um soldado alemão. Além de um indispensável documentário, o DVD traz entrevistas com Resnais e Riva. Para ter e rever. Sempre.


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