O futuro abolido e desconstruído

A crise da filosofia messiânica, apontada por Oswald de Andrade, encontra ecos no ativismo moderno em abertura do ciclo de debates no Sesc.
“O futuro não é mais o que era”. A sentença do poeta e filosofo francês Paul Valéry intitula e direciona o ciclo de palestras e debates, Mutações – evento do Sesc em parceria com Consulado Francês e Academia Brasileira de Letras –, que este ano está em sua 6ª edição. Idealizado e dirigido pelo jornalista e filosofo Adauto Novaes, o projeto reúne intelectuais brasileiros e estrangeiros de diversas áreas para discutir o pensamento humano na era tecnocientífica.

A série, que vai até o dia 11 de outubro no Sesc Vila Mariana, teve início no último dia 16 com a palestra do músico, compositor, ensaísta e especialista em literatura brasileira, José Miguel Wisnik. Os participantes que lotaram as cadeiras do teatro para o primeiro dia foram agraciados com a fala clara e os argumentos inteligentes de Wisnik que discorreu sobre o tema A (Des)Construção do Futuro. Partindo da obra Os Filhos do Barro, com transcrições das conferências feitas pelo poeta e escritor mexicano Octavio Paz na Universidade de Harvard em 1972, que já traziam indagações pertinentes aos nossos dias, Wisnik falou sobre a incompatibilidade da eterna promessa de futuro nos dias de hoje.

Citando Paz a um entrevistador que perguntou: O que o senhor espera do futuro? Resposta do mexicano teria sido: Que ele seja abolido! E se lembrou do pensador português Agostinho da Silva, quando informado de que a África não tinha futuro: “Melhor, assim podemos construí-lo”. É preciso abolir e desconstruir o futuro planejado e prometido que, para o homem da era técnica, tornou-se como a promessa de céu e inferno para o cristão. Chamou a atenção para a necessidade de uma releitura da obra filosófica de Oswald de Andrade, principalmente de seu A Crise da Filosofia Messiânica, e apontou para a proximidade e contemporaneidade dos escritos do modernista em relação às ideias do antropólogo e anarquista David Graeber, a quem costuma ser creditado o termo Occupy Wall Street, em seu Dívida: Os primeiros 5.000 anos.

No encerramento da palestra foi realizado o lançamento do livro Mutações: Elogia à Preguiça, organizado por Adauto Novaes e que reúne 24 ensaios de pensadores brasileiros e estrangeiros, resultado do ciclo de conferências de 2011 que debateu o tema preguiça. A publicação é Edições Sesc SP e será tema da revista Brasileiros de setembro.

O ciclo acontece simultaneamente em São Paulo e Rio de Janeiro e terá ainda participação de nomes como Maria Rita Kehl, Francis Wolff, Olgária Matos, Guilherme Wisnik, João Carlos Salles, Jorge Coli, Jean Pierre Dupuy, Eugène Enriquez e muitos outros.


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