As grandes tragédias, sejam naturais ou causadas pelo homem, dividem o ser humano em duas categorias: aqueles que não reagem frente ao desespero, o que é completamente compreensível, e aqueles que se destacam, se projetam frente aos demais e que acabam sendo lembrados. [nggallery id=14063] Foi exatamente isso que aconteceu com o jovem aspirante a colega de profissão, Rene Silva. Durante a angustiante guerra travada entre polícia carioca e traficantes no Complexo do Alemão, o jornal A Voz da Comunidade, criado e coordenado por ele, realmente cumpriu o papel de informar e dividir o drama vivido por Silva e todos os moradores do morro com o resto do mundo, principalmente pelo perfil no twitter do jornal.Após palestra na Campus Party, que termina neste domingo (23) Silva gentilmente falou um pouco dos bastidores dessa história. “Tenho um perfil no twitter faz praticamente dois anos, mas não era muito seguido. Daí, veio a ideia de criar o perfil do jornal, onde eu escrevo as mesmas coisas que escrevia no meu pessoal. Mas a história mudou quando, no meio da guerra, pessoas em evidência, como o Luciano Huck, a novelista Glória Perez e o jornalista Jorge Pontual, começaram a me retwittar. Saltei de aproximadamente 200 seguidores para os mais de 40 mil que temos hoje”, contou.A pouca idade, no caso dele, não é sinônimo de falta de experiência. Seu jornal já roda há mais de cinco anos, porém, os recentes fatos fizeram o veículo conhecido para quem não habita o Complexo do Alemão. Mas Silva não se ilude com a equipe do site da Brasileiros ou qualquer outra equipe de reportagem. Na verdade, o que ele quer é estar do outro lado do gravador. Porém, já que os 15 minutos de fama vieram, ele sempre aproveita para denunciar os problemas que assolam sua comunidade e vem conseguido organizar uma série de eventos para melhorar a vida daquelas pessoas, como a colônia de férias para as crianças da região, o projeto em que trabalha fervorosamente no momento. Quem vê, até esquece que ele é apenas mais uma dessas crianças.Quanto às reivindicações ao governo, sempre aconteceram, porém, antes eram abafadas e silenciadas. Hoje, não. Silva contou de um caso específico, quando, pelo twitter do Voz da Comunidade, pediu, de natal, que asfaltassem uma rua do Complexo. “No mesmo dia já foram ao local e, antes do fim do ano, o trabalho já estava pronto. Eles sabem que essas coisas podem afetar a imagem deles e trabalham para que isso não aconteça”, analisou, inteligente, acrescentando que, após resolver um problema como esse, prefeituras ou secretarias pedem a ele para que divulguem o trabalho.E não para por aí. O jornalista se orgulha de ter uma agenda recheada de boas pautas para o Voz da Comunidade, entre elas entrevistas já marcadas com nomes como a presidente Dilma Rousseff e o maior empresário brasileiro, Eike Baptista. Com o jornal em alta, Silva trocou de gráfica e agora a tiragem subiu de mil para 5 mil, além de ser colorido e mais bem acabado, segundo ele. “Achei essa gráfica nova via twitter, perguntei se alguém tinha interesse e eles se manifestaram”, comemorou.Com tanta repercussão em torno de suas realizações, o adolescente revelou que, no Alemão, várias outras pessoas estão começando a se familiarizar com o twitter e, principalmente, a usá-lo de forma crítica e jornalística.Bem humorado, ele já percebeu que não se trata mais de um jornalista qualquer e tudo o que fala pode repercurtir. “É complicado, penso muito antes de colocar qualquer coisa no twitter. Outro dia, no meu perfil pessoal, mandei para uma garota ‘te amo’. Pouco tempo depois já estavam noticiando em um portal”, reclamou, com humor.Ainda no 2º ano do Ensino Médio, até bolsa para a Faculdade de Jornalismo na Estácio de Sá ele já conseguiu, após participar do programa de Luciano Huck. Apesar de já ser um jornalista desde os 12 anos, Rene Silva quer traçar o caminho acadêmico para, aí sim, se considerar um. Agora ou mais tarde, será um honra ter o companheiro de profissão Rene Silva.
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